Ciro Gomes (PDT), quando aceitou participar de uma nova disputa pela
Presidência da República, alimentava a ideia de ser o principal nome de
oposição aos grupos conservadores da política nacional, posto admitir
não ser o ex-presidente Lula, novamente candidato ao cargo, não pelo
impedimento de uma condenação judicial, àquela época uma possibilidade
remota.
Lula o teria dado sinais de não ter a intenção de voltar a pedir votos
para si, estimulando-o a se aproximar mais dos petistas e das outras
agremiações com ideologias parecidas. Hoje, o cearense pensa diferente,
embora pessoas no seu entorno tentem convencê-lo a continuar admitindo
não ser Lula um dos seus adversários.
Se Lula já tem uma condenação em primeira instância, e esta pode ser
confirmada por um Tribunal, teoricamente o impedindo de poder disputar
voto, o fato de vivermos em um "País das Liminares" nada garante que a
Lei da Ficha Limpa iniba a disposição do ex-presidente de vir a estar
concorrendo a mais um novo mandato de Chefe do Executivo nacional.
Ciro, até onde demonstra sua disposição, com ou sem Lula manterá sua
candidatura, porém, mudará a estratégia projetada, inclusive com relação
ao Ceará, pois é aqui, mesmo com o pequeno eleitorado em relação ao
todo do Brasil, onde está a sua base de sustentação, bem crescida, após o
irmão Cid Gomes ter assumido o controle da sua base política.
Parâmetro
Lula, competindo, será o principal adversário de Ciro Gomes neste
Estado. As oposições daqui, embora não tão expressivas, apoiarão outros
candidatos à Presidência com um interesse especial, posto objetivarem
tirar o máximo de votos do presidenciável cearense. Como, de fato,
praticamente só o PDT pedirá votos para Ciro. Lula, Bolsonaro e um
tucano terão aqui bons espaços de campanha.
O sucesso eleitoral deles nas plagas cearenses, além de contribuírem de
algum modo para melhorar a performance de alguns candidatos
proporcionais, objetiva ferir o grupo dos irmãos Ferreira Gomes, mesmo
eles conquistando o Governo do Estado, uma vaga de senador e vários
deputados.
A votação de Cid para o Senado, muito grande, admitem observadores, não
servirá de parâmetro para a avaliação do resultado final do pleito, e
as consequências futuras para a manutenção da fortaleza do grupo
governista atual. Cid não se defrontará com adversários da dimensão dos
que confrontarão Ciro, que nas duas eleições disputando com Lula, o
venceu no Ceará, mas com pequena diferença de votos. Em 1998, quando
Fernando Henrique Cardoso foi o vitorioso para um segundo mandato, Ciro
conquistou 909.402 votos no Estado, contra 872.290 do Lula, pouco mais
de 37 mil votos de diferença.
Naquela eleição, Fernando Henrique somou no Ceará um total de 804.969
mil votos, sendo o terceiro mais votado aqui. Quando da eleição de 2002,
Ciro novamente candidato, Lula foi outra vez o segundo mais votado ao
somar 1.353.339 sufrágios, 176.284 a menos que o cearense. O candidato
dos tucanos, José Serra, não teve o mesmo apoio dado pelo senador Tasso
Jereissati ao ex-presidente Fernando Henrique, obtendo apenas 293.425
votos.
Tasso, por certo, vai estar à frente da campanha do seu
correligionário, principalmente se ele for o governador de São Paulo
Geraldo Alckmin. E o envolvimento de Tasso terá o objetivo não só de
ajudar ao tucano, mas, sobretudo, de desidratar o máximo possível Ciro
no contexto local, objetivo idêntico a dos defensores do Bolsonaro por
aqui.
Camilo no PT fragiliza mais ainda o candidato Ciro, ao tempo que,
reciprocamente, com o número 13, beneficia e é beneficiado pela
dobradinha com Lula. Nenhum petista pedirá votos para outro postulante,
senão o do seu partido. E não será fácil para os pedetistas, sem gerar
uma certa dúvida para o eleitor, pedir o voto estadual no 13, e para o
federal no 12.
Ao fim, com Ciro tendo bem menos votos que Camilo no primeiro turno do
pleito, mesmo sendo um importante eleitor no segundo turno, em havendo,
fica fácil dizer que foi o Lula quem mais o ajudou na sua luta pela
reeleição, muito diferentemente do acontecido em 2014.
Distanciando
Este quadro vislumbrado internamente, e o isolamento do Ciro na
caminhada em busca do mandato presidencial, por conta dessa perspectiva
de ter Lula como um aliado e não como concorrente, tendem a influenciar
uma mudança no discurso de Ciro, hoje deveras favorável ao petista para
criticar os responsáveis pelo impeachment da ex-presidente Dilma
Rousseff. Embora com discurso e postura diferentes, o cearense parece
ser coadjuvante do petista, arrostando para si parte do desgaste
acumulado pelo ex-presidente e seu partido.
Ciro tem razões sobradas para de há muito estar distanciado de Lula. O
episódio da transferência do seu domicílio eleitoral, num passado
recente, para ser o candidato do ex-presidente ao Governo do Estado de
São Paulo já deveria ter sido suficiente.
Não se distanciando, mesmo agora, já um pouco tardiamente, sua situação
política tende a ficar bem mais difícil, ao ponto de chegar ao fim do
primeiro turno do pleito, e ele lá não estando, ter de ir pedir votos
para Lula se eleger, uma realidade abominada pela grande maioria dos
brasileiros mais esclarecidos, pelo todo agora conhecido da era petista
no comando da administração pública nacional.