O Boletim Semanal da Chikungunya,
divulgado pela Prefeitura Municipal de Fortaleza, através da Secretaria
Municipal de Saúde, atestou a incidência do vírus Chik em todos os
bairros da Capital. Com mais de 52 mil casos confirmados só no primeiro
semestre de 2017, o município apresentou aumento de 296,29% nos casos
confirmados em relação a todo o ano de 2016, gerando alerta quanto às
perspectivas para próxima quadra chuvosa.
De toda a Fortaleza, 88 bairros tiveram 12% do total de moradores
infectados pela doença, e todos os outros 31 registraram algum caso.
Este número representa um surto de 52.083 novos casos confirmados que,
somados ao número de infectados em 2016, contabilizam 69.661
fortalezenses já inoculados pelo vírus. Segundo Nélio Morais, titular da
Coordenadoria de Vigilância em Saúde, o Ceará - e Fortaleza,
especificamente - está passando pelo processo que outros estados do
Brasil, como a Bahia e Minas Gerais, já atravessaram. Morais informou
que acontecem, geralmente, duas ondas de surtos epidêmicos até a
estabilização da doença.
A população que já foi afetada se torna imune e a incidência tende a
regularizar. "A febre Chikungunya é uma doença nova da qual ainda se tem
pouco conhecimento; então, estamos aprendendo a tratá-la no 'campo de
batalha'. Possivelmente, já estamos no segundo surto, mas (a doença) é
muito debilitante e uma ameaça forte, que exige fundamentalmente
pesquisa e controle vetorial".
Cerca de 80% dos focos do mosquito
transmissor se encontram em residências, e, segundo o infectologista
Anastácio Queiroz, "os focos de hoje são os mesmos de 1986", quando
houve a primeira epidemia de dengue do País.
Óbitos
Sem distinção de região ou localidade, a febre chikungunya ocasionou 81
óbitos este ano na capital cearense. A população acima de 70 anos é a
maior vítima, contabilizando um percentual de quase 80% do total. Nélio
Moraes, da Covis, disse que "a partir de junho a redução visível de
casos mostra a possibilidade de a população ter aderido a medidas
preventivas, tendo percebido a gravidade da doença". O infectologista
Anastácio Queiroz afirma que "a doença não é de pobre nem de rico,
atinge a todos de maneira grave. Essa gravidade deve ser motivo de
preocupação para que ajam preventivamente".
Com maior incidência nos meses do início do ano, as doenças
transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti obedecem a um ciclo de
proliferação ligado à temporada de chuvas. Como explica o infectologista
Anastácio Queiroz, a Chikungunya não se comporta diferente. "A doença
se manifesta quando a proliferação do vetor é maior, ou seja, é muito
relacionada à estação chuvosa e aos focos remanescentes".
O professor da UFC explica que a doença, embora tenha sido registrada
na década de 50, é considerada "nova" e que seu surto em certas cidades
do Ceará, como Fortaleza, aconteceu porque a população não-imune ainda
estava majoritariamente exposta ao vírus. A curva de incidência é
acentuada pelos processos de umidade e calor, que facilitam a reprodução
e potencializam o ciclo de vida do vetor.
"Tanto a dengue quanto a zika e a chikungunya só acabarão quando
acabarem os focos e ações definitivas forem realizadas, tanto pelo poder
público quanto pela população", afirma o professor Anastácio Queiroz. O
titular da Covis, Nélio Morais, pondera que investimentos educacionais e
ambientais serão necessários para ampliar os serviços, que pretendem
ser intensificados a partir de setembro.
Lacunas
"Estamos cientes que temos muitas lacunas, mas reverteremos a situação
trabalhando de mãos dadas com a população para estarmos prontos para um
2018 mais seguro", diz Morais. O titular informou que 30 bairros de
Fortaleza que concentram mais de 70% dos casos serão alvo de ações a
partir do fim de setembro. Serão feitos mutirões locais com agentes de
endemias e conscientizações em escolas com professores, alunos e pais,
além de limpeza de terrenos promovidas pela Secretaria de Conservação e
Serviços Públicos e fiscalizações em zonas comerciais pela Agência de
Fiscalização de Fortaleza. (Colaborou Marina Gomes).