O titular da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS),
André Costa, assumiu que a guerra travada entre os grupos criminosos vem
interferindo diretamente na insegurança do Ceará. Em entrevista ao
Diário do Nordeste, o secretário afirmou que "nunca houve uma paz [entre
as facções criminosas]. Principalmente, em Fortaleza e Região
Metropolitana".
A fala de André Costa é reflexo dos elevados números de Crimes Letais
Violentos (CVLIs) - homicídios, latrocínios e lesões corporais seguidas
de morte. Apesar de a Pasta ainda não ter divulgado oficialmente o
balanço de assassinatos no primeiro semestre de 2017, já se sabe que o
número de homicídios no Ceará cresceu, pelo menos, 30% comparado a igual
período do ano passado. De acordo com relatórios divulgados pela
Instituição ao longo de seis meses, pelo menos 2.300 pessoas foram
assassinadas no Estado, de janeiro a junho de 2017.
Para o secretário, o acirramento entre os grupos criminosos, em
determinadas áreas da Capital cearense, é uma forma que as facções
encontraram de mostrar quem tem mais poder. "No Lagamar, por exemplo, há
mais de um grupo presente. Eles disputam território, disputam o grupo
consumidor. Cada ramo de atividade econômica tem sua forma de disputar
mercado. Quando se fala em tráfico de drogas, a disputa é com o uso da
violência e tirando vidas de pessoas", ressaltou André Costa.
A situação do bairro citado pelo titular da SSPDS é preocupante. O
Lagamar é dividido por um trilho de trem. De um lado fica o Comando
Vermelho (CV), sob o comando de Rogério de Oliveira Cury, o 'Bocão', na
parte da Comunidade denominada 'Cidade de Deus'; do outro lado fica a
facção Guardiões do Estado (GDE), sob o comando de João Bosco da Rocha, o
'João Presinha'. O criminoso é uma liderança do tráfico da área há mais
de 20 anos, conforme a PM.
No conflito por território, os mais prejudicados são os moradores, que
estão até sendo expulsos de suas casas. Como revelou um militar
destacado na área, familiares de envolvidos com crimes estão sendo
mandados embora pelos rivais e as residências deles estão sendo usadas
como ponto de venda de drogas.
André Costa confirmou que os reflexos desse acirramento são mais graves
na Capital. "Você percebe que em Fortaleza os números de homicídios são
muito maiores do que no Interior. Isso acontece porque são em áreas da
Capital onde os grupos criminosos têm uma maior interferência. Não se
pode falar em paz com nove, dez mortes, em média, por dia", disse o
secretário de Segurança Pública.
André Costa ressaltou, durante a entrevista, uma posição que vem sendo
sustentada também pelo governador Camilo Santana: que os homicídios
aumentaram, porque a Polícia vem ocupando mais áreas. De acordo com o
titular da Pasta, se mais policiais estão nas ruas, é natural que se
intensifique um confronto entre autoridades e criminosos. Contudo,
questionado sobre quais áreas teriam sido ocupadas pela Polícia, Costa
disse que não podia revelar.
"É uma questão de estratégia não falar quais bairros são esses que
estamos mais presentes. Ainda não avançou ainda mais, porque precisamos
de mais viaturas e mais policiais. O governador tem estado muito
preocupado com a situação e tem investido mais na área de Segurança
Pública", declarou o secretário.
Investigações
A redução no número de CVLIs está diretamente ligada aos resultados das
investigações dos crimes que já aconteceram. Conforme Costa, investir
na Polícia Civil é o método eficaz para a mudança do atual cenário. "Não
tem crime pior que homicídio. Hoje, a cada nove casos da Divisão de
Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), sete são resolvidos. Em junho,
tivemos recorde no número de prisões. Foram 1.377 autuados em
flagrante".
Segundo dados divulgados pelo secretário, em 2017, foram gastos R$ 35
mil entre passagens e diárias que custearam especialização de
profissionais da Segurança Pública do Ceará. Agora, foi aprovado que,
mensalmente, uma verba de R$ 15 mil será destinada para a
especialização.