Ré
na Lava-Jato e líder do PT no Senado, Gleisi Hoffmann (PR) foi eleita
nova presidente do PT, com 60% dos votos. Seu principal concorrente, o
senador Lindbergh Farias (RJ), ficou em segundo lugar, com 38% dos votos
dos delegados. Gleisi substitui Rui Falcão no cargo e exercerá a função
por dois anos. A eleição contou com votos de 596 delegados e ocorreu no
6° Congresso Nacional do PT, que teve a presença dos ex-presidentes
Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Gleisi será a primeira
mulher a presidir o partido.
Candidata de Lula, a senadora afirmou
que o partido não fará autocrítica porque não quer fortalecer o
discurso dos rivais. Reunido no congresso, o PT era cobrado, inclusive
por setores à esquerda do partido, a reconhecer supostos erros, como
envolvimento em escândalos de corrupção e alianças com partidos como o
PMDB.
– Não somos organização religiosa, não fazemos profissão de
culpa, tampouco nos açoitamos. Não vamos ficar enumerando os erros que
achamos para que a burguesia e a direita explorem nossa imagem – disse
Gleisi, ao discursar no congresso petista.
A senadora, que é líder
do PT no Senado, reconheceu, no entanto, que o partido se afastou dos
movimentos sociais enquanto comandou o governo federal:
– É certo que ficamos com relação mais institucional do que política.
Em
campanha para a presidência do PT, Gleisi ressaltou êxitos dos governos
petistas, como distribuição de renda e geração de empregos:
– Não
teve na história de 500 anos do Brasil governos melhores do que os do
PT. Não foi João Goulart, não foi Getúlio Vargas. Temos que erguer nossa
cabeça para defender nosso legado e nosso governo.
Ela defendeu
bandeiras históricas petistas, como taxação de grandes fortunas e
regulação dos meios de comunicação. Para a senadora, um dos desafios da
nova direção do PT é nacionalizar o partido, tradicionalmente
concentrado em São Paulo. Gleisi também defendeu a candidatura de Lula à
Presidência da República e eleições diretas em caso de afastamento do
presidente Michel Temer.
Ré na Lava-Jato, Gleisi é acusada de
receber R$ 1 milhão do esquema de corrupção na Petrobras para sua
campanha em 2010. Ela e seu marido, o ex-ministro Paulo Bernardo,
respondem por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, mas negam as
acusações.
Gleisi enfrentou o senador Lindbergh Farias (RJ) na
disputa pela presidência do partido. Candidato pela corrente Muda PT,
Lindbergh adotou o discurso da radicalização. Em sua fala final, para
pedir os votos dos filiados, o senador afirmou que o partido precisa se
preparar para o “enfrentamento”. Ele defendeu que a militância seja
fortalecida para “barrar o avanço” do neoliberalismo e da burguesia.
Lindbergh
criticou o “afastamento” da atual direção partidária da “realidade”, ao
permitir que houvesse o apoiamento a candidaturas de Rodrigo Maia
(DEM-RJ) para a presidência da Câmara e Eunício Oliveira (PMDB-CE) para a
presidência do Senado.
— Precisamos de um partido preparado para o
enfrentamento. Houve um distanciamento da nossa direção da realidade,
parecia que não tinha havido um golpe, alguém pensar em apoiar Rodrigo
Maia, Eunício Oliveira. Ali eu vi que a gente tinha que dar uma sacudida
na burocracia, e encorajar a militância. Petista não vota em golpista —
discursou, sendo aplaudido por grande parte da plateia.
O senador
pregou a candidatura de Lula e afirmou que o partido tem que defender
Lula contra as denúncias que recaem sobre ele. O ex-presidente é réu em
cinco ações penais e neste domingo o Ministério Público pediu sua
condenação.
— O que fazem com Lula é a campanha mais infame que já
fizeram. Lula não está acima da lei, mas não está abaixo da lei. Temos
que fazer uma defesa incansável de Lula. Um ataque a Lula é um ataque ao
trabalhador brasileiro. Ele é a única possibilidade que o Brasil tem de
deter o avanço neoliberal — afirmou.
Para integrantes da CNB,
Gleisi errou ao viajar em busca de votos ao lado de Lindbergh, confiando
que ele retiraria a candidatura mais à frente. Com isso, a candidatura
do senador acabou crescendo no partido. Gleisi intensificou suas
articulações e conseguiu, horas antes da votação, contar com a apoio das
correntes Movimento PT e Optei, garantindo a ela uma margem segura.
Ainda
de acordo com integrantes da CNB, Gleisi chegou a se arrepender de ter
aceitado o pedido de Lula para concorrer à presidência do partido.