O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar
Mendes, afirmou que a Operação Lava-Jato faz “reféns” para tentar manter
o apoio popular. A declaração foi dada em entrevista à colunista Monica
Bergamo, do jornal Folha de S. Paulo.
“[…] A maioria dos diretores da Odebrecht que fizeram
delação estavam soltos. Há um pouco de mito nisso tudo. E tem também a
doutrina da Operação Mãos Limpas [realizada na Itália na década
passada]. Aqui também há uma luta pela opinião pública. O apoio dela
está associado a ter reféns desse grau”, respondeu quando questionado se
acreditava que os executivos da empreiteira fariam delação caso não
tivessem sido presos.
“Como tem sido divulgado [por integrantes da Lava
Jato], o sucesso da operação dependeria de um grande apoio da opinião
pública. Tanto é assim que a toda hora seus agentes estão na mídia,
especialmente nas redes sociais, pedindo apoio ao povo e coisas do tipo.
É uma tentativa de manter um apoio permanente [à Lava Jato]. E isso
obviamente é reforçado com a existência, vamos chamar assim, entre
aspas, de reféns”, prosseguiu Mendes.
Quando questionado pela jornalista se os reféns seriam os presos, o ministro disse que sim.
“Os presos. Para que [os agentes] possam dizer:
‘Olha, as medidas que tomamos estão sendo efetivas’. Não teria charme
nenhum, nesse contexto, esperar pela condenação em segundo grau para o
sujeito cumprir a pena. Tudo isso faz parte também de um jogo retórico
midiático. Agora, o apoio da opinião pública é importante porque se
trata também de um jogo de poder. Você está confrontando gente com poder
econômico, influência política”, completou.
Durante a entrevista, Mendes admitiu que a operação
tem grande importância no combate à corrupção e rebateu críticas feitas a
ele, que decidiu pela soltura do ex-ministro José Dirceu na semana
passada. Os ministros Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli também votaram a
favor da medida.
“Eu decidi o mandado de segurança contra a
posse do Lula [como ministro]. E virei, mais uma vez, herói de
determinados grupos e inimigo número 1 de outros. Agora, no caso de
Dirceu, foi o contrário. Nós temos que conviver com isso. É preciso ter
consciência de que exercemos um papel civilizatório.
A tentativa de jogar a opinião pública contra juízes parece legítima no jogo democrático. Mas ela não é legítima quando é feita por agentes públicos. O que se quer no final? Cometer toda a sorte de abusos e não sofrer reparos. Há uma frase de Rui Barbosa que ilustra tudo isso: o bom ladrão salvou-se mas não há salvação para o juiz covarde”, disse ele.
Durante a entrevista, o ministro também
comentou a decisão do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que
quer que ele seja declarado impedido de relatar o habeas corpus do
empresário Eike Batista, solto há duas semanas por decisão liminar
expedida pelo ministro.
Janot argumentou que a mulher do ministro,
Guiomar Mendes, é sócia do escritório do advogado Sérgio Bermudes, que
atua em diversos processos ligados ao empresário. Sobre o tema, Mendes
disse:
“O
ambiente, como se percebe, está confuso. Ao que estou informado, o
escritório em que ela trabalha representa Eike Batista em processos
cíveis, o que não tem nada a ver com o tema colocado. Nem cogitei de
impedimento até porque não havia. Eu já tinha negado habeas corpus do
Eike. E ninguém lembrou que eu poderia estar impedido. Isso mostra a
leviandade e o oportunismo da crítica”.