Joesley Batista (Divulgação/JBS)
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE, MATHEUS MAGENTA E DAIGO OLIVA - SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) -
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE, MATHEUS MAGENTA E DAIGO OLIVA - SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) -
Uma perícia contratada pela reportagem
concluiu que a gravação da conversa entre o empresário Joesley Batista e
o presidente Michel Temer sofreu mais de 50 edições.
O laudo foi feito por Ricardo Caires dos Santos, perito judicial pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.
Segundo ele, o áudio divulgado pela
Procuradoria-Geral da República tem indícios claros de manipulação, mas
"não dá para falar com que propósito".
Afirma ainda que a gravação divulgada tem "vícios, processualmente falando", o que a invalidaria como prova jurídica.
"É como um documento impresso que tem uma rasura ou
uma parte adulterada. O conjunto pode até fazer sentido, mas ele
facilmente seria rejeitado como prova", disse Santos.
Segundo disse à reportagem a Procuradoria, a gravação
divulgada é "exatamente a entregue pelo colaborador e sua autenticidade
poderá ser verificada no processo".
"Foi feita uma avaliação técnica da gravação que
concluiu que o áudio revela uma conversa lógica e coerente", declarou a
Procuradoria na noite desta sexta (19).
A gravação não passou pela Polícia Federal, que só
entrou no caso no dia 10 de abril. O áudio, feito pelo empresário na
noite de 7 de março, foi entregue diretamente à PGR e é anterior à fase
das ações controladas.
Em um dos trechos editados, o empresário pergunta ao
peemedebista sobre sua relação naquele momento com o ex-deputado federal
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso pela Lava Jato. As duas respostas de
Temer sofreram cortes.
O trecho na gravação divulgada permite o seguinte entendimento:
"Tá.. Ele veio [corte] tá esperando [corte] dar
ouvido à defesa.. O Moro indeferiu 21 perguntas dele... que não tem nada
a ver com a defesa dele"
"Era pra me trucar, eu não fiz nada
[corte]... No Supremo Tribunal totalidade só um ou dois [corte]... aí,
rapaz mas temos [corte] 11 ministros"
Em depoimento posterior à PGR, Joesley disse que nesse momento o presidente dizia ter influência sobre ministros do STF.
"Ele me fez um comentário curioso que foi o
seguinte: 'Eduardo quer que eu ajude ele no Supremo, poxa. Eu posso
ajudar com um ou dois, com 11 não dá'. Também fiquei calado, ouvindo.
Não sei como o presidente poderia ajudá-lo", afirmou.
Em outro trecho cortado, o empresário,
enquanto explica a Temer que "deu conta" de um juiz, um juiz substituto e
um procurador da República, declara: "...eu consegui [corte] me ajude
dentro da força-tarefa, que tá".
No momento mais polêmico do diálogo, quando,
segundo a PGR Temer dá anuência a uma mesada de Joesley a Cunha, a
perícia não encontrou edições. O trecho, no entanto, apresenta dois
momentos incompreensíveis, prejudicados por ruídos.
Em entrevista à reportagem, outro perito,
Ricardo Molina, que não fez uma análise formal do áudio, declarou que a
gravação é de baixa qualidade técnica.
Para ele, uma perícia completa e precisa obrigaria a verificação também do equipamento com que foi feita a gravação.
"Percebem-se mais de 40 interrupções, mas não
dá para saber o que as provoca. Pode ser um defeito do gravador, pode
ser edição, não dá para saber."
Para o perito judicial Ricardo Caires dos Santos, não há hipótese de defeito.
Procurada para comentar o assunto, a assessoria da JBS disse que a empresa não vai comentar.