quarta-feira, 12 de abril de 2017

PF prende suspeitos de furtar R$ 7,5 mi de contas bancárias


Um esquema de fraudes, que furtou pelo menos R$ 7,5 milhões de contas bancárias do Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Itaú e fez mais de mil vítimas em todo o País, foi desarticulado pela 'Operação Valentina', deflagrada pela Polícia Federal (PF), ontem. Ao todo, 13 pessoas foram presas, a maior parte delas no Ceará, onde se concentrava a quadrilha e estavam os quatro líderes da organização criminosa; somente uma pessoa foi detida no Estado de São Paulo.

A investigação, iniciada em junho do ano passado, partiu dos setores de segurança do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, que receberam reclamações de um grande volume de clientes, vítimas de golpes que desfalcaram suas contas bancárias. A PF instaurou inquérito e identificou que uma só quadrilha, instalada no Ceará, era responsável pelo prejuízo financeiro de centenas de pessoas físicas e das instituições financeiras.

O grupo criminoso tinha várias maneiras de realizar as fraudes bancárias, entre elas o golpe do boleto falso, que consiste no envio de um boleto para o e-mail da vítima, que realizava o pagamento; e o envio de um link, também por e-mail, para que a vítima realizasse um cadastro e, sem saber, entregasse dados pessoais à quadrilha.

Porém, o principal meio encontrado pelos bandidos era o serviço de internet banking, que dá acesso às contas bancárias por dispositivos móveis e computadores, com a ajuda de um funcionário de uma operadora de telefonia. "Os funcionários das operadoras recebiam uma determinada quantia do grupo para bloquear o número de contato da vítima e habilitar esse número de contato no chip do fraudador. De posse desse número 'clonado', o fraudador acessava a conta bancária. Porque ele já tinha conseguido, através de um software 'malicioso', ter acesso ao número de conta, agência, código da agência e senha de acesso do internet banking", detalhou o chefe da Delegacia de Repressão de Crimes Fazendários, delegado Madson Henrique Tenório. "É um crime de inteligência", avaliou.

A PF obteve provas de que a quadrilha atuava desde o início de 2016, mas devido à organização do grupo, o delegado Madson Tenório admitiu que os criminosos podem estar realizando o golpe há mais tempo e que a PF não conseguiu contabilizar ainda o número total de vítimas.

"Eu não posso dizer um valor exato, porque ainda está sendo apurado pelas equipes de investigação. Também ainda estamos em contato com as instituições financeiras prejudicadas, para elas passarem as informações delas e checarmos com as nossas. Mas, no mínimo, foram mil pessoas lesadas, porque os ataques eram diários e a quase 15, 20 minutos", explicou Tenório.

O delegado afirmou que a preferência do bando era por moradores de outros Estados. "Justamente para dissimular as ações criminosas e para dificultar o rastreamento. É mais difícil um cliente de outro Estado fazer uma denúncia do que está ocorrendo na conta dele, devido a quadrilha ser sediada aqui".
Membros
Segundo a Polícia Federal, todos os investigados são cearenses. Os mandados expedidos pela Justiça Federal foram cumpridos na Capital, nos bairros Meireles, Mondubim, Castelão, João XXIII e Cidade 2000; e nos municípios de Caucaia e Maracanaú, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF).

O líder do grupo era o responsável por disseminar os softwares 'maliciosos' (malweres), principalmente através de SMS, para capturar os dados do aplicativo do internet banking das vítimas. "Ele é o líder e o hacker do grupo. E também cooptava pessoas para acessar as unidades de resposta das instituições financeiras, que é aquele sistema de telefonia que você liga e cai no 'robozinho', que só faz responder e dá um saldo daquela conta. Muitas dessas pessoas faziam as ligações para ver se a vítima tinha saldo e se valia a pena atacar aquela conta", explicou Tenório.

De acordo com o superintendente da Polícia Federal no Ceará, Delano Cerqueira Bunn, os suspeitos viviam ostentando o dinheiro que conseguiam com golpes e não se preocupavam nem em ter 'empregos de fachada'. "Essa organização criminosa tinha sinais exteriores de riqueza, manifestados nas redes sociais, que também chamaram atenção da Polícia Federal".

A PF sequestrou imóveis não contabilizados e apreendeu seis veículos luxuosos, que somam cerca de R$ 900 mil. Na residência de dois suspeitos, também foram apreendidas duas armas de fogo. O líder do grupo criminoso tinha uma cadela da raça Golden Retriever, com a qual posava em fotos nas redes sociais, ostentando. O nome do animal, 'Valentina', batizou a operação da PF por ser um bem valioso localizado com o suspeito.

No total, foram cumpridos 13 mandados de prisão (sete preventivas e seis temporárias), oito mandados de condução coercitiva, 25 mandados de busca e busca e apreensão e o sequestro de bens móveis e imóveis. Um dos alvos da operação não foi localizado pela PF, mas se apresentou na Superintendência Regional. Os mandados foram expedidos pela 32ª Vara da Justiça Federal no Ceará.

Confiança

Delano Bunn disse que a operação tem como objetivos repreender as fraudes e restabelecer a confiança entre as instituições e os consumidores. "As relações jurídicas entre instituições financeiras, estabelecimentos comerciais e consumidores são regidas pelo princípio da confiança. Quando quadrilhas atuam na prática de fraudes bancárias com o desvio de finalidade das ferramentas de internet banking, há um abalo nessas relações. Além do prejuízo financeiro da ordem de R$ 7,5 milhões, comprovado até o momento, a importância da 'Operação Valentina' consiste em restabelecer o patrimônio imaterial das relações de confiança que restou abalado", afirmou.

Delano Bunn diz que, apesar da fraude detectada, o sistema do internet banking é seguro. "É uma ferramenta segura, desde que mantidas as regras básicas de proteção digital. O que uma quadrilha como essa provocou é um percentual insignificante diante do número global de transações bancárias realizadas todos os dias".

Fique por dentro 

Xuxa já foi alvo de fraudes de três dos presos

A maioria dos integrantes do grupo tinha antecedentes criminais por estelionato, uso de documento falso e falsidade ideológica. A reportagem apurou com fontes que não fazem parte das investigações, que três presos na 'Operação Valentina' - Arthur Franklin Sousa Lima, José Silva Silveira Júnior e Michelângelo Charles Garcia - foram presos em 2008 pela Polícia Civil do Ceará, acusados de fazerem parte de um grupo de hackers que agia em vários estados. Como noticiou à época o Diário do Nordeste, alguns cartões foram apreendidos com a quadrilha, entre eles, um em nome da apresentadora Maria da Graça Xuxa Meneghel. Na época, os criminosos invadiram a conta da apresentadora, solicitaram um cartão e colocaram José Silas como dependente.