O Ceará ocupa a 6ª posição no ranking de assassinatos a LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais) no Brasil. O dado consta no relatório de 2016 organizado pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), mais antiga ONG de cidadania LGBT no país. Ao todo, foram 343 homicídios desse tipo registrados em território nacional.
Ao longo de 37 anos de atuação do GGB, nunca antes chegou-se a um
número tão alto, como conclui a pesquisa. A estatística aponta que, a
cada 25 horas, um LGBT é assassinado vítima de “LGBTfobia”, o que faz do
Brasil o campeão mundial de crimes contra as minorias sexuais. “Matam-se mais homossexuais aqui do que nos 13 países do Oriente e África, onde há pena de morte contra os LGBT”, revela o estudo.
A pesquisa aponta ainda que 31% das mortes foram praticadas com armas
de fogo e 27% com armas brancas. Foram também considerados atos como
enforcamentos, pauladas, apedrejamento, além de crimes cometidos
envolvendo torturas, queima de corpos, etc.
Morte de Dandara
Nos últimos dias, um vídeo com requintes de crueldade envolvendo uma
pessoa LGBT, ocorrido no bairro Bom Jardim, em Fortaleza, ganhou as
redes sociais e tem gerado revolta nos usuários da rede. Trata-se do ato
que levou ao homicídio da travesti Dandara dos Santos, de 42 anos.
O crime aconteceu no dia 15 de fevereiro, mas só agora - com a
publicação do vídeo - gerou repercussão. Durante aproximadamente 1
minuto e 20 segundos, é possível ver Dandara sendo agredida por um grupo
de homens no meio da rua, onde uma série de palavras de baixo calão são
proferidas contra ela e até uma tábua de madeira é arremessada contra a
sua cabeça.
A gravação termina com a travesti, já sem forças, carregada pelos
agressores em um carro de mão. Informações constam que, depois dali, ela
foi espancada até a morte.
O caso está sendo investigado pelo 32º Distrito Policial. De acordo com a Polícia, os envolvidos no crime foram identificados, porém ainda não foram detidos. A ação está sendo feita com cautela para não comprometer o trabalho policial.
Caso será acompanhado
Segundo Paulo Diógenes, coordenador da Diversidade
Sexual de Fortaleza, o advogado Hélio Leitão, mediante convite feito
pela Coordenadoria, deve acompanhar o caso de Dandara, sem nenhum ônus.
Além disso, ele conta que o órgão estará disponível para prestar total
assistência à família da vítima, destacando a ação do Centro de
Referência LGBT Janaina Dutra como um otimizador no que diz respeito ao combate da intolerância sexual.
“A gente precisa publicizar o Centro de Referência, já que a pessoa
LGBT que está em situação de vulnerabilidade contará com todo um
acompanhamento de assistentes sociais e psicólogos, por exemplo, quando
lá chegar”, afirma. “Estou querendo algo mais: um escritório de
advocacia que acompanhe os casos de LGTBfobia”.
Paulo conta ainda que, no momento - além de estar tomando as devidas
providências com o caso Dandara e com outros que diariamente chegam na
Coordenadoria - o órgão está cuidando do caso da travesti Hérica
Izidoro, de 24 anos, espancada na Avenida José Bastos na madrugada do
último dia 12 de fevereiro.
“Ela está no IJF (Instituto José Frota) em coma e talvez vá ter uma
vida vegetativa, porque o crime aconteceu com os mesmos requintes de
crueldade. É realmente lamentável que toda essa onda de ódio e
intolerância esteja tão forte não só em nossa cidade, mas no país como
um todo”, diz.
Reunião
A presidenta da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de
Fortaleza, Larissa Gaspar (PPL), informa que solicitou reunião com o
delegado Bruno Ronchi, responsável pela investigação, e com o Secretário
de Segurança Pública do Ceará, André Costa, visando avançar no caso.
Na manhã deste sábado (4), com o mesmo intento, a gestora conversou com
a diretora do Departamento de Polícia Especializada, delegada Rena
Gomes. O planejamento é que, na segunda-feira (6), esse e outros atos de
intolerância ocorridos no Estado devam ser levados para a reunião da
Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal.
Integração
Tendo assumido a Coordenadoria de Políticas Públicas da Diversidade
Sexual de Fortaleza há aproximadamente um mês, Paulo Diógenes frisa que,
na nova gestão, o que ele vai priorizar é a integração.
“Estamos fazendo um plano anual e até já tivemos um encontro com o
Secretário da Juventude de Fortaleza, Júlio Brizzi, para articularmos
algumas ações. Acho que é pela juventude que devemos começar esse
processo de conscientização sobre questões de gênero e sexualidade”,
argumenta.
Assassinato de LGBT no Brasil, em 2016:
- São Paulo - 49
- Bahia - 32
- Rio de Janeiro - 30
- Amazonas - 28
- Minas Gerais - 21
- Ceará 15
- Goiás - 15
- Paraná - 15
- Rio Grande do Sul - 15
- Pernambuco - 14
- Mato Grosso do Sul - 12
- Alagoas - 10
- Pará - 9
- Rio Grande do Norte - 9
- Maranhão - 8
- Sergipe - 8
- Acre - 6
- Distrito Federal - 6
- Mato Grosso - 6
- Santa Catarina - 6
- Piauí - 4
- Rondônia - 4
- Tocantins - 4
- Amapá - 1
- Espírito Santo - 1
- Paraíba - Sem registro
- Roraima - Sem registro