O ceticismo, de certa forma, domina o sentimento de boa parte da nossa
população em relação ao governo, recém-instalado, sob o comando do
peemedebista Michel Temer, apesar de toda mudança motivar expectativa
favorável, principalmente quando o substituído era tão ruim como, quanto
estava a gestão comandada pela hoje afastada presidente petista Dilma
Rousseff. Mas como os políticos brasileiros estão tão desgastados, o
brasileiro sempre tende a duvidar das suas pretensas ou prometidas
ações.
Natural a torcida dos verdadeiros cidadãos pelo sucesso do Governo
nascente, pois vítimas somos todos do desgoverno que estava aniquilando
os sonhos da juventude e as perspectivas dos demais, quando, por sua
inércia ou mesmo inação, motivava a redução dos empregos, brecava o
surgir de oportunidades de vida melhor, e privava os mais necessitados
dos serviços essenciais pela falta de políticas universais eficientes de
Educação, de Saúde, de Transporte e de Segurança.
Responsabilidade
Mas, só o discurso anunciando boas novas não basta para se fazer
acreditar em um novo tempo, principalmente por se fazer, de primeiro,
algumas restrições à equipe reunida pelo presidente em exercício e,
nessa condição, ter o natural desejo de agradar o Congresso, ou
especificamente ao Senado Federal, para efetivo vir a ser.
Na interinidade como está, o presidente trabalhará não só para mudar o
cenário da administração pública nacional, mas, sobretudo, para agradar a
classe política representada pelos senadores, pois do Senado, como
dependeu a sua chegada ao posto, em razão do afastamento da titular,
também será de lá a decisão, proximamente, com o encerramento do
processo, garantindo ou não a sua permanência no cargo até o fim do
mandato, no último dia do ano 2018.
Vários dos auxiliares de Temer já serviram a Lula, a Dilma e até antes a
Fernando Henrique Cardoso. Formam, assim, o "grupo dos mesmos" a que
nos reportamos no dia 17 de abril, o domingo em que a Câmara dos
Deputados autorizou a abertura, pelo Senado Federal, do processo de
impeachment da presidente Dilma Rousseff.
De qualquer forma, esses ex-ministros dos governos passados, por
qualquer das razões que venham a ser apontadas, têm, nos setores a eles
ligados, responsabilidade pelo quadro atual. E não vale responsabilizar
os presidentes de então pelo não ter feito o que seria necessário para
evitar o que ainda agora continua fazendo falta. Plagiando Geraldo
Vandré, "quem sabe faz a hora não espera acontecer (ser mandado)".
Mereciam
Ordem e Progresso, de fato, é de que mais precisa o Brasil. Essas duas
palavras gravadas no centro da nossa bandeira, citadas pelo presidente
como lema do seu Governo, já mereciam ser o objetivo dos novos governos
desde quando elas lá foram colocadas. Por serem, pelo menos até agora,
apenas figurativas no símbolo maior da Pátria é que testemunhamos
desordens sociais e desmandos administrativos, temos um povo
desrespeitado, também pelos agentes públicos, nas suas mais
significativas necessidades, sem se falar nos malfeitos outros
responsáveis pela corrupção que esvazia os cofres do erário e enche os
bolsos de muitos.
E pela ausência da Ordem, o Progresso parece ficar "deitado eternamente
em berço esplêndido". O Governo Central é o principal responsável pela
timidez do crescimento da economia nacional, posto ser devedor da
execução de obras de infraestrutura necessárias e imprescindível ao
estímulo da produção, não apenas quanto ao seu custo, pela carga
excessiva de impostos sobre os próprios produtos gerados e seus insumos,
além dos agregados à folha de pessoal, mais ainda pela falta de uma
malha viária, ferroviária, aérea e fluvial para o escoamento da
pretendida produção.
Nomes
Itamar Franco, o vice-presidente da República já falecido, efetivado na
chefia do Executivo nacional com a cassação do mandato do ex-presidente
Fernando Collor, primeiramente afastado do cargo como Dilma Rousseff
está agora, no curso de um processo de impeachment, chamou dois
cearenses para ajudá-lo a governar o País. O primeiro foi Beni Veras, na
época senador da República pelo PSDB. O outro foi Ciro Gomes, também do
PSDB, na época governador do Ceará. Ciro teve que renunciar ao mandato e
para o seu lugar foi eleito pela Assembleia o então deputado estadual
Francisco Aguiar, hoje presidente do Tribunal de Contas dos Municípios. O
desembargador Adalberto Barros Leal, na época presidente do Tribunal de
Justiça, ficou no lugar de Ciro até que o Legislativo elegesse Aguiar.
Beni Veras foi Ministro do Planejamento. Ciro foi Ministro da Fazenda,
substituindo Rubens Ricupero, vítima de comentários politicamente
incorretos, antes de uma gravação de programa de televisão, captados
através de antenas parabólicas. Mas, abstraindo-se as digressões, a
lembrança dos dois cearenses na composição do ministério de Itamar
Franco é para chamar a atenção da necessidade de os cearenses atentarem
para a qualidade de sua representação política, não apenas na esfera
Federal, mas no campo estadual e principalmente dos municípios.
O senador Tasso Jereissati (PSDB) foi sondado para estar na equipe do
presidente Michel Temer. Foi o único cearense abordado, até aonde as
informações confiáveis foram transmitidas. Ele coordenou a equipe tucana
que elaborou o documento entregue a Michel, definindo a posição do
partido, e como pressuposto para o apoiamento da agremiação à nova
gestão. Já no Governo Itamar Franco, Jereissati optou por indicar Beni e
Ciro, dois dos seus liderados na época, para o ministério a aceitar uma
das duas pastas.