Dilma fica e a economia se recupera a partir de 2016, sendo que em 2018 o oneroso ajuste atual seria uma lembrança vaga. Dilma fica, mas enfraquecida ou “sangrando” conforme o vocabulário da política. Dilma tem o mandato encurtado. Dilma sai com Temer. Dilma sai, Temer fica. Dilma fica, mas com parlamentarismo (este já rejeitado em dois plebiscitos populares, em 1963 e 1993). E por aí vai.
A impressão que se tem é que, a cada nova rodada do pregão, os atores políticos lançam ao ar seus balões de ensaio. Esta é uma imagem recorrente na política. Desenha-se uma projeção de futuro, um enredo. O mais recente é a de que o país – após delações atingirem diretamente o presidente da Câmara e a PF fazer apreensões na casa de senadores – viverá uma crise institucional com consequências imprevisíveis. Fim de Mundo. Precipício.
Seja como for, a bolsa de apostas serve ao teste de teses, ao sopesar de possibilidades, à medição e avaliação de forças. A cada onda de boatos, a cada evento, um caco fica.
Talvez esteja aí, porém, um dos principais nós do quadro político atual: as forças estão fragmentadas. No Congresso Nacional são 28 partidos, muitos de tamanho médio. Os principais, divididos internamente. O PT é governo mas sua base denuncia o ajuste, centro atual da política econômica; o PMDB está dentro e fora do barco simultaneamente, beneficiando-se (eternamente) da ambiguidade; o PSDB não tem consenso sobre a agenda anti-Dilma, nem sobre pautas socialmente sensíveis como a redução de maioridade penal, entre outras; lideranças individuais, como Cunha, ganham agora os holofotes se equilibrando na corda bamba das delações.
O que dita o contexto é a imprevisibilidade. Em tese as próximas semanas arrefecerão o ritmo da crise, afinal o Congresso está em recesso. Mas quais novidades virão da Justiça em Curitiba? E do que está arquivado, sabe-se lá aonde e por quem, em formato de vídeos ou áudios, com novas e supostas “bombas”, o que será detonado e quando? Mas serão “bombas” de verdade ou factoides?
Neste cenário, como governar? Não é uma questão que se restrinja à Dilma apenas e sua condução do país, mas diz respeito a todo o sistema político: governos estaduais, municipais, legislativo. Não se trata apenas de chegar até 2016 ou 2018, mas de atender às necessidades da população.
Para a plateia a briga entre políticos não é novidade. Para a maioria dos brasileiros, a política sempre foi algo mais ou menos distante, mais ou menos fechada, mais ou menos corrupta, um mundo à parte.
O que as pessoas esperam da política, porém, é que esta melhore suas vidas. Aqueles pontos que sempre aparecem à exaustão nas campanhas eleitorais: saúde, educação, transporte. E agora, com urgência, emprego! Em junho, não custa lembrar, mais de 100 mil vagas foram cortadas.
O cidadão-eleitor-consumidor pode olhar a política à distância, e até ter repulsa, mas dela espera resultados. Apesar da fragmentação ou até mesmo com ela. Com o desemprego (o mais perverso resultado do ajuste) em alta e queda na renda, a pressa aumenta. Qualquer que seja o desfecho da crise é preciso colocar a população na equação.