Ele e o ator famoso por interpretar a tresloucada Vera Verão no humorístico ‘A Praça é Nossa’ conviveram por mais de 20 anos.
Publicamente, foram vistos sempre como amigos e, depois, assessor e assessorado.
Padula cuidava da imagem do artista, agendava entrevistas e o acompanhava em gravações na TV.
Anos depois da morte de Lafond, aos 50 anos, também por falha cardíaca, em 11 de janeiro de 2003, o jornalista contou a respeito do alegado relacionamento amoroso. “Ele era meu companheiro”, afirmou.
Acionou advogados para conseguir ser declarado pela Justiça como marido do ator e herdeiro por direito.
A decisão final sobre o status jurídico dos dois saiu apenas em 2022. Um tribunal de São Paulo negou o pedido.
Os bens de Lafond, incluindo uma casa e apólices de seguro de vida, já haviam sido destinados a primos do comediante.
Marcelo Padula levou para o túmulo outro desencanto. Não conseguiu tirar do papel o projeto de uma cinebiografia.
Entre amigos e colegas de jornalismo, ele relatava com entusiasmo as ideias para o roteiro e até cogitava atores para o papel de Lafond.
Seria uma grande homenagem a um artista desbravador que enfrentou a pobreza, o racismo e a homofobia no caminho até o sucesso na televisão.
Vários produtores de cinema disseram ‘não’ ao projeto. Desacreditaram o potencial da produção para atrair público e, consequentemente, gerar bilheteria lucrativa.
Quem conheceu Padula testemunhou sua dedicação dia e noite a Jorge Lafond. Paixão ou amizade, foi uma relação sólida e duradoura, raridade no meio artístico.
Por seu talento e simbolismo, o intérprete de Vera Verão — e outros personagens menos lembrados, como o Bob Bacall da novela ‘Sassaricando’ — merece filmes, documentários, peças, exposições...
Não é todo dia que, em um País chafurdado em preconceitos, uma bicha preta afeminada se projeta como bailarino no exterior, cursa duas faculdades (Artes Cênicas e Educação Física), conquista espaço próprio na TV e se torna um dos artistas mais populares.
Mas aqui é o Brasil, onde há memória curta, as novas gerações não têm interesse em história e os artistas negros e LGBTs, mesmo consagrados, ainda são vítimas de estigma.
Vera Verão tinha razão em ‘rodar a baiana’.