A estudante Gabriela Conceição Pinheiro Cajazeiras, de 19 anos, contou que o criminoso responsável por sequestrar
ela, a irmã e uma prima na zona rural de Iguatu, município do interior
do Ceará, nesta terça-feira (7), disse não ter coragem de matá-las. “Ele
não ameaçava muito não, só disse que não tinha coragem de matar a
gente”, revelou a vítima. As jovens foram encontradas na manhã desta
quarta (8) após passarem a noite em mata fechada com o sequestrador. O
mandante do crime e outros dois cúmplices foram capturados, mas duas
pessoas foram liberadas.
O
crime foi encomendado pelo ex-namorado de Gabriela, um rapaz conhecido
como “Pirulito”, que ordenou que o sequestrador matasse a jovem, segundo
o delegado Marcos Sandro Lira, da Delegacia Regional de Iguatu, que
investiga o caso. O casal havia rompido em maio deste ano. “Ele não
queria terminar, mas eu não quis mais. Ele não me agrediu, não tentou
ameaçar, nadica de nada”, disse Gabriela. O ex-namorado foi preso.
Sequestrador lembrou de irmã
A
estudante, sua irmã de 14 anos e a prima de 16 anos foram ameaçadas
pelo sequestrador quando voltavam de uma caminhada para casa. O homem
obrigou as garotas a entrarem na mata, ameaçando atirar caso elas
tentassem fugir. A investigação mostrou que além do plano de matar
Gabriela havia intenção dos criminosos de pedir resgate em dinheiro
pelas outras duas meninas.
“Ele
disse ‘nós vamos entrar aqui e sair ali’”. Saímos numa pista, aí disse:
'senhor, pelo amor de Deus, deixa a gente ir embora'. E ele: 'não, não,
entra nessa roça aí'. Estramos numas [áreas de] bananeiras lá e
andamos, andamos, passamos por um rio, atravessamos esse rio, eu não sei
nadar, quase morri afogada, mas foi Deus que guiou nós. Aí saímos,
pegamos uma estrada. Ele disse que a gente entraria na mata pra
descansar e no amanhecer do dia a gente iria embora”, relatou a vítima.
Os
quatro passaram a noite na mata fechada e pela manhã o sequestrador
desistiu do crime, liberando as meninas. Gabriela também conta que o
criminoso chegou a confirmar o apelido do ex-namorado dela como mandante
do crime.
“Ele
tava perdido e dizia: ‘mas esses cabra vão pagar porque o que eles
fizeram, eles mandaram, eu não tô aguentando’. Ele tava na cabeça que
não sabia o nome do cabra, mas que se pegasse ia fazer alguma coisa. Eu
falei: 'você sabe o nome dele? É Pirulito?' E ele: 'é esse mesmo'”,
narrou Gabriela.
De
acordo com o delegado Marcos Sandro, o suspeito contou em depoimento
ter desistido do crime porque uma das vítimas se parecia com uma irmã
dele.
Horas de caminhada em mata
Segundo Gabriela, elas passaram a noite e o dia sem beber água ou comer, e andaram por horas dentro da mata.
“Eu
não aguentava mais andar. A gente rezava uma Ave-Maria, um Pai Nosso,
eu orava 24 horas, pedindo e chorando porque eu não tava mais com força
de andar na mata”, acrescentou a estudante.
Ao
serem liberadas, as meninas conseguiram encontrar uma casa onde pediram
ajuda. No local, os moradores chamaram a polícia, que resgatou as
jovens e as levaram para fazer exames em uma UPA, receberem medicamento e
conversarem com uma psicóloga.
“Passamos
pela psicóloga, mas graças a Deus eu não sinto nada, só com as pernas
assim, mas dá pra andar. E elas [irmã e prima] também não estão sentindo
nada, só psicológico. Se Deus quiser, nós vamos esquecer isso”,
ponderou a vítima.