A força do choque foi tão intensa que a porta da geladeira acabou sacada
do lugar quando a aposentada Terani Bastos, 64, chegou da praia “de pé
descalço” e tentou abrir o eletrodoméstico. “Tomei um choque tão forte,
daqueles que jogam a gente pra fora, que a porta veio junto e caiu em
cima de mim”, relata, considerando “um milagre não ter morrido”. A
sorte, porém, não é de todos: no Ceará, 147 acidentes elétricos foram
registrados entre 2013 e 2016, dos quais 129 resultaram na morte das
vítimas, de acordo com o Anuário Estatístico de Acidentes de Origem
Elétrica, divulgado pela Associação Brasileira de Conscientização para
os Perigos da Eletricidade (Abracopel).
Somente no ano passado, 26 acidentes ligados à eletricidade, entre
choques, incêndios por curto circuito e descargas atmosféricas, levaram
as vítimas à morte no Estado, segundo apontou o levantamento da
Abracopel. Os dados mostraram ainda que o Nordeste é líder isolado em
acidentes elacionados a falhas na rede elétrica: das 2.408 mortes
contabilizadas nas cinco regiões do País apenas por choques, de 2013 a
2016, 1.054 foram em estados nordestinos, o que corresponde a cerca de
44% dos óbitos em todo o Brasil.
De acordo com o especialista em eficiência elétrica da Enel
Distribuição, Marcony Melo, a maior parte das ocorrências atinge as
residências – principalmente as de baixa renda –, tendo como causas mais
comuns o uso prolongado de equipamentos elétricos e a sobrecarga da
rede. “O maior problema é a falta de informação, de atenção com as
instalações. Normalmente, os acidentes são originados pelo
superaquecimento de aparelhos como ventilador, ar-condicionado e
carregadores de celular, além do uso exagerado dos 'Ts' (multiplicadores
de tomadas) e de extensões com falha de isolamento”, esclarece Melo,
ressaltando ainda que as ligações clandestinas, mais conhecidas como
“gambiarras” ou “gatos”, além de se configurarem como crime, aumentam o
risco de acidentes.
DN Online