domingo, 18 de outubro de 2015

Pílula anticoncepcional pode alterar preferência das mulheres por parceiros

Há indícios de que o anticoncepcional altera a preferência natural por indicadores de qualidade genética (Foto: Reprodução)
Aesperada pílula masculina — assim chamada, apesar de ser injetável — foi recentemente aprovada pela FDA, agência reguladora americana, e deve chegar ao mercado americano entre dois e quatro anos. Hoje vou instigar o leitor a uma reflexão sobre a pílula feminina.

Em 1959, foi solicitada ao FDA a aprovação dessa pílula como método contraceptivo, o que ocorreu em maio de 1960. Mas a disponibilidade para mulheres solteiras em todos os estados americanos só foi possível a partir de 1972.

A pílula feminina é hoje utilizada por mais de 60 milhões de mulheres em todo o mundo, tendo contribuído muito para a emancipação da mulher, especialmente no que se refere à educação pessoal e à carreira. Devido ao seu impacto na vida social, na família, na saúde e nas relações entre homens e mulheres, gerou muitas controvérsias ao longo das últimas cinco décadas.

Mais recentemente, pesquisas vêm estudando se as usuárias da pílula exibem sexualidade fértil típica ou preferências semelhantes às de mulheres que não estão no período fértil.

Segundo a teoria da seleção de genes, a mulher em período fértil busca se acasalar com o homem que tem melhor bagagem hereditária, garantindo assim vantagens para sua prole. Ou seja, ao avaliar os homens como parceiros sexuais, essa mulher tende a se interessar por estereótipos tipicamente masculinos (homens altos e de ombros largos).

Atualmente, especula-se se a preferência por atributos masculinos permaneceria inalterada em usuárias da pílula, já que esta bloqueia a ovulação e a fertilidade. Há indícios de que o anticoncepcional, eliminando a fase fértil, altera a preferência natural por indicadores de qualidade genética, modificando a atratividade das mulheres. Em comparação com aquelas que têm ciclo menstrual regular (fértil), as usuárias da pílula apresentariam pouca ou nenhuma preferência por masculinidade facial e voz máscula.

Um estudo recém-publicado comparou usuárias e não usuárias da pílula quanto à preferência por parceiros menos viris do ponto de vista físico, psicológico e comportamental, especialmente quando essas últimas escolhem o parceiro sexual durante o período fértil, entre o 11º e o 21º dia do ciclo menstrual. Constatou-se que, nestes dias, as mulheres enfatizam essa preferência mais do que em outras fases.

Curiosamente, as submissas, usuárias ou não da pílula, mostram maior interesse por parceiros sexuais com características típicas do gênero masculino. Isto pode ser explicado, considerando que as mais frágeis exigem maior proteção, o que se observou mais evidente ainda no grupo das não usuárias.

Apesar dessas constatações, outras questões permanecem sem resposta: caso as preferências pelos parceiros sexuais sejam alteradas pela pílula e esta desempenhe papel no tipo da atração pelos parceiros, então é provável que a satisfação com a relação, a estabilidade e a duração do relacionamento possam, em última análise, ser também afetadas. Pesquisas futuras devem revelar em que grau o início do uso de pílula pode desestabilizar um relacionamento já em curso.

Por outro lado, a mulher que já está usando a pílula, se interromper esse uso para engravidar, terá a atração pelo seu parceiro reduzida?

Estudos que comparem os índices de divórcio ou de satisfação conjugal em sociedades com diferentes prevalências da utilização da pílula poderiam ser úteis na elucidação da influência da pílula na qualidade da satisfação conjugal.

Este revolucionário método anticoncepcional, que há meio século tem proporcionado à mulher conforto sem precedentes, pode ter mais impacto do que se imagina sobre a vida íntima e relacional.

Fonte: O Globo