Foto Thiago Gadelha |
Milho,
feijão, fava, mandioca, macaxeira e batata. Produtos básicos do
cardápio das famílias cearenses são cultivados na zona rural do interior
do Estado e, carregados em caminhões, percorrem longos quilômetros até
chegar aos principais centros urbanos de comercialização.
Independentemente da forma de preparo, são promessas para curar a fome,
problema permanente que aperta a barriga e traz angústia à cabeça.
Em
2023, moradores de 1,1 milhão de lares cearenses tinham qualidade e
quantidade de alimentos comprometidas ou enfrentavam a fome, segundo
pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Grande parte tinha renda domiciliar per capita de até meio salário
mínimo, advinda de trabalhos geralmente informais ou autônomos.
Nos
últimos meses, o Diário do Nordeste visitou quatro cidades do Estado
para conhecer o trabalho de profissionais envolvidos no combate à fome e
a recepção dos beneficiários. Assim, servimos o especial “Ceará: Comer e
Curar”, que mostra os sabores e desafios do combate à insegurança
alimentar e seus impactos em áreas como saúde, economia e educação.
A
pesquisa do IBGE, de nível nacional, escancarou a necessidade de
formulação de políticas públicas de Segurança Alimentar que levem em
conta condições socioeconômicas da população, como renda, emprego,
endividamento, escolaridade, composição das famílias e acesso a
benefícios sociais.
Uma
das respostas ao problema está no campo cearense, onde há mais de 394
mil estabelecimentos rurais, segundo o último Censo Agropecuário do
IBGE. Destes, quase 298 mil - ou 75% - são classificados como de
agricultura familiar, modalidade desenvolvida por grupos de famílias em
pequenas propriedades rurais. Este é o 3º maior número do país, atrás
apenas da Bahia e de Minas Gerais.
70% dos
alimentos vendidos para fora ou consumidos no Estado são produzidos
pela agricultura familiar, conforme estimativa da Secretaria do
Desenvolvimento Agrário (SDA).
O
secretário de Política Agrícola da Federação dos Trabalhadores Rurais
Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado do Ceará (Fetraece),
Joathan Magalhães, explica que o Estado tem culturas tradicionais de
sequeiro (onde há menos chuvas), como milho, feijão e fava; e de áreas
irrigantes, que produzem verduras, maracujá, macaxeira e mandioca.
No
entanto, mesmo com toda a disponibilidade interna desses cultivos, os
produtores familiares enfrentam a concorrência de grandes empresas.
“Quando não compram daqui, tem cargas fechadas de outros Estados. Muitos
pensam que, se é pra entregar de graça, é melhor ficar com o produto.
Não tem um preço justo. E não é fácil produzir, muitos ainda produzem à
base da enxada. Em algumas situações, essa não valorização incomoda”,
indica