Mariana
(nome fictício), de 15 anos, sente o peito vazio. Não sabe explicar bem
o que é. Só sofre. Desacreditou no amor da mãe, no contato com outros
seres humanos e na fé evangélica da criação que recebeu na Zona Oeste do
Rio. Entregou-se ao que agora viu ser uma falsa esperança: o Baleia
Azul, uma série de 50 ordens que desconhecidos dão a adolescentes; a
última, exige o suicídio do jovem. Mariana só está viva porque a mãe
conseguiu impedir o fim trágico.
— Quem tiver com vontade
de entrar no Baleia Azul, não faça isso. Só vai te causar coisas ruins.
Em vez de parar sua tristeza, só vai aumentar. E vai acumular, e vai
acumular... E quando você vê, já vai estar vazio por dentro e por fora.
Apostem numa coisa que você gosta. Talvez numa música de que você gosta.
Talvez você se sinta melhor. Porque eu sei o quanto dói, mas não vai
ser um jogo que vai te fazer parar de sentir dor. E nem a morte —
desabafa a menina.
Mariana
não está sozinha. Só no Brasil, há, pelo menos, dois casos de morte sob
investigação policial, em Mato Grosso e na Paraíba. A delegada interina
da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) do Rio,
Fernanda Fernandes, organiza o rastreamento de redes sociais de pessoas
que teriam envolvimento com o Baleia Azul. Já há, pelo menos, mais dois
casos na cidade em investigação. Os responsáveis podem responder por
associação criminosa, lesão corporal e tentativa de homicídio.
Mariana
foi internada após a mãe descobrir que ela estava participando do jogo,
e já estava na 15ª ordem. A menina teve alta após dois dias e acabou
tentando suicídio. A mãe, que abandonou o trabalho por preocupação,
conseguiu impedir que o pior acontecesse.
A dor da mãe a
fez recuar. Vez por outra, Mariana diz que sente vontade de desistir,
mas tenta mudar de pensamento. Está em tratamento, e sonha em ser
fotógrafa:
— Minha mãe me disse que fazia tudo para eu
ficar viva. E eu entendi. Às vezes eu penso (na morte), mas aí eu penso
no meu futuro — conta a menina.
Mensagens
O
jogo consiste em uma série de 50 desafios, que devem ser cumpridos
diariamente e que chegam por meio de mensagens (WhatsApp, Facebook, SMS e
outros aplicativos e redes sociais).
Tarefas
Há
desde tarefas simples, como desenhar uma baleia num papel, até outras
muito mais mórbidas, como cortar os lábios ou furar a palma da mão. Em
outra tarefa, o participante deve “desenhar” uma baleia em seu antebraço
com uma lâmina.
Desafio mais macabro
O 50º desafio é sempre o mesmo: suicídio.
Como começou
Na
Rússia, em 2015, uma jovem de 15 anos se jogou de um edifício. Dias
depois, uma adolescente de 14 anos se atirou na frente de um trem. Após
investigar, a polícia ligou os fatos a um grupo que participava de um
desafio com 50 missões, sendo a última delas acabar com a própria vida.