
Cotado para sair candidato a governador, o tucano fez uma fala
bem-humorada, com piadas inclusive sobre si mesmo, em uma cantina nos
Jardins, na segunda (6). A reportagem presenciou o encontro.
Disse que, para entender o PSDB, "só com psicanálise" e criticou o discurso da antipolítica, sem citar João Doria (PSDB), que se elegeu com esse mote em 2016.
Após ter o projeto nacional enfraquecido, o prefeito de São Paulo
voltou a ser visto como alternativa para o governo de São Paulo, ainda
que aliados digam preferir que ele não dispute eleição em 2018.
Hoje, a candidatura do governador paulista, Geraldo Alckmin, à Presidência é favorita no PSDB, mas Serra vem dizendo a interlocutores que ainda deseja concorrer ao Planalto.
Nesse contexto, aliados de Alckmin desenham como cenário mais favorável Serra sair a governador e Doria ficar na prefeitura.
No jantar, deputados estaduais de partidos como DEM, PSD e PP, além do
PSDB, elogiaram Serra. Alguns cobraram que se posicione como candidato
em São Paulo, outros disseram que o apoiarão em qualquer projeto.
José Aníbal, suplente de Serra no Senado, disse no evento que
"provavelmente se colocará" na disputa estadual se o ex-governador não
se dispuser.
Organizado pelo deputado estadual Ramalho da Construção (PSDB), que
estava acompanhado da filha, a vereadora Adriana Ramalho (PSDB), o
jantar contou com a presença de quase um quinto da Assembleia
Legislativa paulista como Pedro Tobias, presidente do PSDB de SP,
Coronel Camilo (PSD), Delegado Olim (PP) e Fernando Capez (PSDB).
'Meio bananas'
Em sua fala de 50 minutos, Serra comparou a crise atual com a de 1964.
"Lá, tinha esquerda, tinha direita, tinha o fato militar. Hoje não tem! É
curioso. Hoje há uma revolta da população contra os políticos,
naturalmente orientada pela mídia. O que seria trivial viram coisas
graves. Isso contamina o Brasil e joga contra os políticos", afirmou.
O tucano, então, disse que não prevê "nenhum retrocesso econômico, não
vejo no horizonte tropeços grandes". "Não vai ter euforia econômica, mas
também não acho que vá ter uma crise capaz de abalar o processo
eleitoral e dar a vitória para os adversários nossos".
"Nesse sentido o governo se sai bem. O simples fato de não estragar já é uma vantagem", afirmou.
Sobre seus planos, Serra falou que esperará para anunciar decisões no
ano que vem. "Não sei o que vai acontecer. Até pouco tempo estava aquela
excitação toda por causa de Lava-Jato. Não acabou, mas perdeu ritmo comparativamente ao que tinha acontecido", justificou.
"Eu, pessoalmente, estou disposto no ano que vem, se for o caso, a
disputar a eleição, não tenho claro, não há elementos para poder definir
exatamente [a qual cargo]."
Ele não mencionou quem apoia para assumir a presidência do PSDB a
partir da convenção em dezembro, mas reconheceu as dificuldades da vida
partidária. "O PSDB só com psicanálise. Teria que ter uma modalidade de
análise político-psicanalítica para entender direito. Tem inclusive
invenções, fábulas", disse Serra.
Mais adiante, o tucano explicou que não foi um comentário depreciativo.
"Eu fiz psicanálise por mais de dez anos. Recomendo para todo mundo. O
problema é que é muito caro", notou.
Diante de especulações sobre candidaturas de outsiders como o
apresentador Luciano Huck, Serra disse que o "apavora a ideia de sentar
alguém, no governo ou na Presidência, sem saber o que fazer, sem ter
experiência. É impossível isso!".
"Imagina um sujeito que chega que não sabe o que é o Congresso, não
sabe lidar com políticos, não sabe lidar com Orçamento, não tem
experiência de decidir sob pressão. Vai levar o país para um limbo",
afirmou.
"Não é uma coisa que eu possa dizer publicamente, me parece coisa de
interesse próprio. Essa coisa de político e não político, isso não
existe. Quem está na vida pública é político."
Em passagens descontraídas, em resposta a um comentário de que às vezes
é visto como antipático, ele disse que queria saber quem diz isso. "Tenho alma feminina!"
Em outro momento, afirmou que "os homens são meio bananas, desculpe".
Alguém respondeu: "Alguns, né?". Ele respondeu, para graça da plateia:
"Na média".