
A crise política se agravou na terça-feira, 7, quando aliados da base deram ultimato ao Palácio do Planalto, exigindo a exclusão do PSDB
do primeiro escalão. Os tucanos controlam quatro ministérios e se
dividiram no apoio a Temer durante a votação da segunda denúncia contra
ele, por obstrução da Justiça e organização criminosa.
"Ou muda (o Ministério) ou não vota mais nada aqui", afirmou à
reportagem o deputado Arthur Lira (AL), líder da bancada do PP, a quarta
maior da Câmara, com 45 parlamentares. Na véspera, em sinal de
protesto, Lira chegou a faltar a reunião convocada por Temer com outros
líderes aliados no Planalto.
A quem lhe pergunta sobre trocas na equipe, Temer afirma que "tudo vai depender das circunstâncias políticas".
A ideia, agora é fazer as mudanças no início de 2018. A exceção seria o
ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que, mesmo se decidir
concorrer, fica até abril.
Na prática, o presidente está à espera do PSDB, que fará uma convenção
em 9 de dezembro para decidir o seu destino. Se o encontro fosse hoje,
os defensores da entrega dos cargos - entre eles o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso e o senador Tasso Jereissati (CE), que comanda interinamente o partido - sairiam vitoriosos.
A cobiça do Centrão se concentra em duas pastas
controladas por tucanos - a Secretaria de Governo, responsável pela
articulação política e dirigida por Antônio Imbassahy (BA), e o
Ministério das Cidades, nas mãos de Bruno Araújo (PE). O PSDB também
comanda os ministérios das Relações Exteriores e dos Direitos Humanos.
O Centrão reúne cerca de 200 deputados. Mais recentemente, a cúpula do
PMDB passou a cobrar de Temer uma reforma ministerial e a antecipação da
saída dos ministros que vão disputar as eleições. Dos 28 ministros,
pelo menos 18 serão candidatos em 2018.
O PMDB quer que o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, acumule as
funções hoje ocupadas por Imbassahy. Além disso, se houver dança de
cadeiras, vai reivindicar a Saúde, hoje com o PP. A pasta detém um
orçamento robusto, assim como o Ministério das Cidades.
Previdência
Considerada uma prioridade para o governo, a reforma da Previdência
fica cada vez mais difícil de ser aprovada no Congresso. Para Lira,
mesmo a mudança na Esplanada não ajudará na aprovação da proposta. "O
governo teve seus erros. O (ex-procurador-geral da República Rodrigo)
Janot é o grande culpado. O governo se comunicou mal. É uma reforma
necessária, mas não tem mais tempo", disse o deputado.
A dificuldade com a base é admitida até mesmo pelo líder do PMDB na
Câmara, Baleia Rossi (SP). "Se não tem alguém satisfeito, não tem por
que permanecer (no governo)", afirmou, em um recado ao PSDB.
Para o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), Temer precisa
"reorganizar" sua base de sustentação rapidamente. Na avaliação de Maia,
o governo não tem como cobrar mais nada dos aliados agora, após o
desgaste que eles sofreram com a votação das duas denúncias contra Temer
na Casa. "Quem votou para adiar a investigação teve um atitude
corajosa", afirmou o deputado.
O líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO), disse que pensa
"parecido" com Lira sobre a rebelião do Centrão, mas se recusou a
discutir o "assunto pela imprensa".
Além da reforma ministerial, integrantes do Centrão dizem que o mal-estar na base também decorre do não cumprimento de promessas de liberação de cargos e emendas
feitas pelo governo na época da votação das denúncias. "O governo
precisa atender os partidos com os pedidos dos deputados. Tem emenda não
paga, cargos menores nos Estados que foram prometidos, mas não foram
cumpridos", observou o líder do PR, José Rocha (BA).
Deputado licenciado, o ministro do Desenvolvimento Social e Agrário,
Osmar Terra (PMDB-RS), avaliou que é natural a pressão por trocas no
primeiro escalão, mas disse não acreditar que Temer terá dificuldades de
aprovar matérias no Congresso. "O presidente já é calejado neste tipo
de pressão."
A cobrança pela reforma ministerial, porém, vem até de vice-líderes do
governo, como o deputado Danilo Forte (sem partido-CE). "Um time não
pode passar o jogo todo no ataque, porque pode levar um contra-ataque.
Agora é hora de jogar a bola para o goleiro (Temer) e rever a equipe,
substituindo os cansados e machucados. Não tem condições de o governo
ganhar com esse time", afirmou.