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| Foto Reprodução |
No
sertão do Cariri cearense, uma planta simples e resistente tem
garantido alimento para o rebanho mesmo nos longos períodos de estiagem.
A palma forrageira, que possui cerca de 90% de água em sua composição,
tornou-se essencial para a pecuária da região e é hoje uma das culturas
mais importantes para a convivência com o semiárido. Sua relação com a
pecuária nordestina é antiga, resultado de décadas de pesquisas e da
experiência acumulada por produtores que encontraram na planta uma
alternativa segura para alimentar o gado em tempos de seca.
No
Instituto Federal do Ceará (IFCE), campus do Crato, a pesquisa com a
palma ganhou ainda mais força. Em uma área experimental, professores e
estudantes investigam variedades resistentes, formas de aumentar a
produtividade e tecnologias que reduzam custos para pequenos produtores.
O professor doutor em Zootecnia José Lopes destaca que o uso da planta
surgiu de forma natural:
“Um
belo dia, uma vaca encontrou-se com um pé de palma e consumiu esse pé
de palma. E, visto ser uma planta resistente à seca e um atrativo para o
animal, passou-se a utilizá-la como alimentação”. Ele explica que a
característica fisiológica da palma é fundamental para sua resistência:
“Uma
planta que abre os estômagos nas horas mais quentes do dia perde mais
água para o ambiente. A palma está fechada. Ela vai abrir os estômagos
no período da noite ou nas horas mais frias do dia. Então ela perde
menos água”.
As
pesquisas no IFCE abrangem desde técnicas de propagação e análises
laboratoriais, que comprovam os benefícios da palma para a saúde do
rebanho, até o desenvolvimento de ferramentas que facilitam o manuseio.
Uma das tecnologias apresentadas pelo campus substitui o corte manual —
tradicionalmente feito com faca — por um equipamento que otimiza o
trabalho e reduz riscos de acidentes.
Ainda
assim, muitos produtores resistem à adoção da planta. Para exemplificar
seu potencial, José Lopes cita um dado que surpreende: “Com meio
hectare você alimenta 33 vacas, cada uma comendo 50 quilos de palma por
dia, durante 180 dias. E 180 dias é exatamente a metade do ano”.
Um
dos estudantes envolvidos nas pesquisas, Armando Conrado, já começou a
levar o conhecimento adquirido para a propriedade da família.
“A
gente tem uma pequena propriedade lá na minha região, da Mangabeira. Lá
por onde fica, morre por conta do meu avô. Ele ainda tem uma certa
resistência, assim como muitos vizinhos nossos, à utilização da palma”,
relata. Mesmo assim, ele garante que pretende mudar essa realidade: “Com
meus estudos e com a orientação do professor Lopes, pretendo levar pra
lá a palma e implementar na nossa área, porque é uma garantia de
alimentação nos períodos secos”.
Com
baixo custo, alta resistência e grande capacidade de produção, a palma
forrageira se consolida como uma das culturas mais importantes do
semiárido. No Cariri, ganha ainda mais força com o apoio da ciência.
Como resume o professor José Lopes: “A palma, em termos de produção
pecuária, de alimentação animal, de produtividade, não tem nenhuma outra
planta que possa competir com ela”.
