Representantes
da Associação da Diversidade e Direitos Humanos de Orós (ADHOS)
apresentaram uma denúncia, na manhã desta quinta-feira (18), junto a
Delegacia Civil de Orós, contra um pastor evangélico que teria publicado
discursos homofóbicos nas suas redes sociais. O pastor Josué da Silva
de Sousa, segundo o grupo, teria associado a relação entre pessoas do
mesmo gênero ao mesmo que zoofilia — envolvimento sexual de humanos com
animais. Ele nega e disse que foi mal interpretado.
Em
publicação que circulou ontem à noite, nas redes sociais, o pastor
compartilha uma imagem de apoio à causa LGBTI+ que tem escrita “Toda
forma de amor vale a pena”. Nela, Josué questiona: “Você que é Cristão,
concorda com isso? Toda forma de amor é válida?”. Após um comentário de
um seguidor, o líder religioso volta a provocar: “O que me diz da
zoofilia?”. Após o debatedor considerar a comparação “absurda”, o
evangélico responde: “Nesse caso, toda forma de amor não é válida,
então?”.
Os
comentários geraram revolta da comunidade LGBTI+, que considerou a
atitude do pastor de cunho preconceituoso. “Acontece há um tempo”,
garante o professor e enfermeiro David Ederson Moreira. “(Ele) sempre
teve esse discurso pesado. A gente nunca saiu do nosso espaço para
ofender ele ou pessoas que seguem. Nunca fomos ao seu templo. Sabíamos
que esses comentários existiam e no culto também, mas o que faz na
Igreja é diferente. Quanto traz pra rede social, afeta até nossa
segurança”, acredita.
Para
David, a comparação com zoofilia, que é considerado crime no Brasil, não
tem fundamento. “Fica nítido que tá fazendo relação à prática sexual.
Não tem lógica dizer que não foi o objetivo dele. Se quisesse falar de
amor, por que usar uma imagem de um movimento (LGBTI+) que já sofre há
anos? Somos o país que mais mata essa população”, argumentou o
enfermeiro.
A
denúncia foi feita junto da advogada Fátima Silva, que atualmente é
membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/CEARÁ e presidente da
Comissão de Direitos Humanos da OAB, subseção Vale do Salgado. “O
material foi deixado na delegacia. Provavelmente, será tipificado como
(crimes) homofobia e injúria. Como será inquérito policial, depois de
instaurado vai para o juiz, que encaminha para o Ministério Público
denunciar”, explica. Um boletim de ocorrência online também foi feito.
O
pastor Josué se defendeu, dizendo que houve uma má interpretação da
postagem, que foi voltada para os evangélicos. “Eu fiz uma pergunta
direcionada ao público. Na discussão, veio a outro caso. A confusão é
que pegaram o fato citado e disseram que estava que estava fazendo uma
associação. A postagem continua lá. Está exposto. Tenho consciência que
não atingi, ofendi ninguém, nem cometi crime de homofobia”, ressalta.
Uma
pessoa que pediu para não ser identificada, disse que os discursos
homofóbicos também acontecem na Assembleia de Deus Ministério Madureira,
onde Josué preside seus cultos. Segundo ele, as falas homofóbicas são
reproduzidas por seus familiares, que frequentam a igreja. “Eu me assumi
(gay) em 2013. Era outro pastor e não tinha estas questões. Minha mãe
aceitou e disse: ‘Você vai ficar na minha casa e vou amar da mesma
forma’. Depois, quando chegou, tudo mudou. Sei o quanto mexe na cabeça
deles (meus pais). Não os culpo”, relatou.
O
líder religioso ressalta que, em oito anos que mora em Orós, nunca teve
nenhum problema. “A população me conhece. Eu sou amigo de homossexuais.
Estou tranquilo. Isso foi uma forma tendenciosa de me prejudicar. São
mais questões políticas. Nunca fui envolvido caso de homofobia”, garante
o pastor Josué. A Polícia Civil investigará o caso. O Ministério
Público do Estado do Ceará ainda não recebeu a denúncia.