Quando o telefone tocou em um matagal, na
madrugada de ontem, 13, era a companheira do policial militar Nilton
Cezar Vieira Lopes, 43 anos, também conhecido como sargento Lopes. O
policial havia saído de um serviço extra legal, no entanto não havia
voltado para casa no horário esperado. Nilton Lopes estava morto naquele
momento. Havia sido atingido por tiros.
O toque do celular ecoava em meio ao silêncio dos PMs que isolavam o
local do crime, no bairro Ancuri em Fortaleza, à espera da Policia
Forense do Ceará(Pefoce).
Nos últimos 53 dias, cinco policiais foram mortos no Estado. O sargento Lopes foi assassinado ontem, mas um dia antes, na sexta-feira, 12, o soldado Daniel Campos Menezes havia perdido a vida, supostamente, vítima de um latrocínio.
São dois policiais militares mortos em menos de 24
horas em Fortaleza. Daniel Campos estava de licença para tratamento de
saúde. O PM, que ingressou na corporação em 8 de setembro de 2010, era
um dos processados por participação na Chacina do Curió, em 2015, e
aguardava o julgamento em liberdade.
O POVO apurou que após a morte de
Daniel Campos, no bairro Cidade Jardim, criminosos teriam soltado fogos
de artifício. Segundo uma fonte, uma das linha de investigação apontaria
para integrantes de uma facção criminosa.
O Serviço de Inteligência da Secretaria da Segurança
Pública (SSPDS) estava mobilizado em busca dos autores da morte do
soldado Campos quando foi surpreendido pela informação do assassinato do
sargento Lopes.
Pelo menos quatro calibres diferentes foram encontrados
no local do crime do sargento Lopes. O militar ainda conseguiu ligar
para a Coordenadoria Integrada de Operações (Ciops) em meio ao tiroteio.
Ele pedia por reforços.
O sargento atuou na Cavalaria da PM e, atualmente,
estava no 21º Batalhão da instituição militar. Uma fonte disse ao O POVO
que são dias de preocupação e há um clima de apreensão nas redes
sociais dos policiais e nas ruas. A morte dos PMs, disse a fonte, ocorre
em meio a um cenário de "refortalecimento das facções" em Fortaleza.
Outro problema enfrentado pelas forças de segurança do
Ceará está relacionado à pandemia da Covid-19 no Estado. Até o mês
passado, 1.500 PMs estavam afastados das funções por conta da
contaminação do novo coronavírus ou eram suspeitos de estar com a
doença. E pelo menos cinco mortes foram confirmadas por causa da
infecção. Além de outras duas estarem sendo investigada. No Ceará, a PM
tem 22 mil integrantes na ativa.
Um dos óbitos confirmados por Covid-19, ainda em abril
deste ano, foi o do tenente-coronel João Océlio Atanazio Alves, de 50
anos. O oficial era do grupo de pessoas vulneráveis à doença por ter
hipertensão. Ele chegou a internado, mas não resistiu à infecção.
Na Polícia Civil, pelo menos 200 policiais estariam
infectados pelo novo coronavírus. E já houve morte em decorrência da
pandemia. Caso do falecimento, em abril, do delegado Milton Castelo, que
era presidente da Associação do Delegados de Polícia do Ceará (Adepol).
ANO DE 2020
No dia 21 de abril deste ano, o sargento Carlos Alberto
de Figueiredo Junior, da Polícia Militar do Ceará (PMCE) foi morto. Ele
estava na avenida 13 de Maio quando foi abordado por assaltantes. Houve
uma troca de tiros e ele foi atingido na cabeça. O policial chegou a
ser levado ao Instituto Doutor José Frota (IJF).
No dia 22 de maio, a policial penal Ana Paula Vieira
Oliveira foi morta durante um assalto na BR-116, em Itaitinga. O veículo
da agente apresentou problemas e ela teve de chamar um reboque.
Enquanto aguardava, os criminosos se aproximaram para roubá-la. A vítima
foi atingida por um tiro.
No dia 6 de junho, o subtenente do Batalhão de
Operações Especiais (Bope), Francisco Augusto da Silva, 46 anos, foi
morto vítima de latrocínio na Vila Manuel Sátiro, em Fortaleza. O
policial saiu de casa para trabalhar e foi surpreendido por um
criminoso.
No dia 9 de junho um ex-PM condenado pelo "Caso do
Iraniano" foi morto a tiros na capital cearense. Jean Charles da Silva
Libório era sargento da PM e a Justiça o sentenciou por ser matador de
aluguel do também condenado Farhad Marzivi. O iraniano está no Presídio
Federal de Segurança Máxima em Campo Grande (MS).
No dia 12 de junho, o soldado Daniel Campos Menezes
teria sido vítima de um latrocínio supostamente praticado por
integrantes de uma facção criminosa. Ele foi morto a tiros no bairro
Cidade Jardim, na periferia de Fortaleza. Campos estava de licença para
tratamento de saúde. Ele era dos policiais denunciado e pronunciado pela
acusação de autoria da Chacina do Curió.
No dia seguinte à morte do soldado Daniel Campos, em
13/5, o sargento Nilton Cezar Vieira Lopes, foi morto em um tiroteio com
bandidos no bairro Ancuri. Ele chegou a ligar e pedir reforço para a
Coordenadoria Integrada de Operações (Ciops) da Secretaria da Segurança
Pública e Defesa Social (SSPDS) do Ceará para pedir reforço, mas as
viaturas não chegaram a tempo.
Luto
Em seu perfil no Instagram, André Costa,
secretário da Segurança do Ceará, lamentou "profundamente o falecimento
do 3º sargento Nilton Cezar Vieira Lopes, vítima de uma ação criminosa,
vil e covarde". E também a do soldado Campos.
Resposta
André Costa, secretário da Segurança do Ceará,
afirmou pelo Instagram que a morte de "qualquer policial" tinha de ter
"resposta à altura. Vamos reagir energicamente", disse em relação às
morte do sargento Lopes e do soldado Campos.