
Enquanto países da Europa e da América
"observavam os passageiros e confirmavam os primeiros casos importados
da COVID-19, a transmissão comunitária (quando já não se é possível
rastrear a origem do contágio) já estava acontecendo" no Brasil,
explicou a fundação, referência em saúde pública na América Latina.
Entre 21 e 25 de fevereiro, ocorreu no país o carnaval,
atraindo grandes multidões às ruas de todo o Brasil. Em 26 de
fevereiro, quarta-feira de cinzas, dia em que os brasileiros terminam a
folia oficialmente, o país anunciou seu primeiro caso da COVID-19. Até
agora, o coronavírus deixou mais de 11.500 mortes e mais de 168.000
casos da doença no Brasil, segundo dados oficiais.
Segundo especialistas, no entanto, o número de
infectados pode ser até 15 vezes maior, já que testes em massa não estão
sendo feitos. O estudo da Fiocruz sugere que, como no Brasil, na
Itália, na Holanda e nos Estados Unidos, a transmissão comunitária
começou entre duas a quatro semanas antes dos primeiros casos importados
serem detectados.
Em todos os países analisados (lista que também inclui
China, Bélgica, França, Alemanha, Espanha e Reino Unido), a circulação
do vírus começou antes das medidas de controle serem colocadas em
prática. A declaração da Fiocruz indica que suas pesquisas podem
contribuir para a detecção precoce de novos surtos do coronavírus no
futuro.
"Esse período bastante longo de transmissão comunitária
oculta chama a atenção para o grande desafio de rastrear a disseminação
do novo coronavírus e indica que as medidas de controle devem ser
adotadas, pelo menos, assim que os primeiros casos importados forem
detectados em uma nova região geográfica", disse o pesquisador Gonzalo
Bello, coordenador da pesquisa.
O estudo foi realizado pelo Laboratório de Aids e
Imunologia Molecular do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), em
parceria com a Fiocruz-Bahia, a Universidade Federal do Espírito Santo
(UFES) e a Universidade da República do Uruguai (UdelaR).