O novo coronavírus evoluiu no Estado do Ceará.
Com alta transmissão, o contágio da Covid-19 tornou-se comunitário, ou
seja, a pessoa pode ser infectada na própria região, sem necessidade de
viagem ao exterior, por exemplo. O anúncio foi da Secretaria da Saúde
(Sesa), acompanhado do novo boletim epidemiológico: 68 casos
confirmados, até ontem (20).
Índice crescente e que representa evolução de 2.100% desde o 1º
registro, há cinco dias, quando eram três doentes. E os espaços afetados
são Fortaleza (63), Aquiraz (1), Fortim (1), Sobral (1) e Juazeiro do
Norte (1), além de um paulista que testou positivo, o que deixa o Ceará
na liderança de casos do Nordeste.
A Pasta também comunicou que não irá mais divulgar números de casos
suspeitos ou descartados. O documento diário será mais simples, com
dados voltados para o registro de infectados, sem descrição de idade ou
sexo.
No Brasil, o processo de pandemia é ainda mais notório, com 904
contaminados distribuídos entre os estados e o Distrito Federal. São 11
óbitos, sendo nove em São Paulo e dois no Rio de Janeiro - apenas
Roraima e Maranhão não registram a doença.
Um cenário grave, mas previsto pelo Governo do Estado, segundo o
titular da Sesa, Dr. Cabeto. Antes da divulgação dos números latentes, o
Executivo lançou um decreto prevendo contenção para estabelecimentos
comerciais a fim de evitar qualquer aglomeração - supermercados, redes
hospitalares e farmácias são exceção e seguem abertos.
"Nós já temos transmissão comunitária. Nessa fase não sabemos mais a
área do contágio ou quem é o pessoal que foi infectado. Agora passa a
ser contato múltiplo e o isolamento social fica ainda mais importante,
reduz o número de contágio. Isso muda as estratégias", explicou o
titular da pasta.
O panorama tornou necessária a escala de prioridade no atendimento.
Apesar dos sintomas similares aos das demais influenzas - febre, coriza
ou náusea - o rigor é maior no atual coronavírus pela dificuldade
respiratória que impõe no infectado.
Assim, as unidades hospitalares darão preferência de socorro a idosos
acima de 80 anos, pessoas com doenças imunossupressoras, que estejam
realizando tratamento de câncer, com diabetes ou insuficiência cardíaca.
Em contato com a reportagem, o doutor Eduardo Finger, médico clínico
geral e imunologista, ressaltou que a estratégia é importante para frear
a disseminação da doença. Traçando um paralelo com a Europa, o
especialista explicou que muitos serão contaminados, no entanto, os
sintomas serão leves, sem necessidade de uso do corpo médico local para
tratamento.
"Existe uma diferença crítica entre todo mundo se infectar de uma
vez, que foi o que aconteceu na Itália, quando todo mundo procura
hospital no mesmo dia, ou uma transmissão mais lenta, em que você não
sobrecarrega a capacidade de atendimento e sempre vai ter lugar para
mais um paciente. No fim das contas, quem vai morrer não é quem pega o
vírus, é quem a gente não pode oferecer o suporte avançado de vida se
ele tiver doença grave. A enorme maioria vai ter mais medo que sintomas,
vai passar seus cinco dias febris em casa, depois vai melhorar",
analisou.
O plano segue, inclusive, uma restrição ao teste para confirmação da
Covid-19. Como os suspeitos locais são muitos, a quantia sobrepõe o
número de exames, o que inviabiliza um laudo clínico na população geral.
A tendência é a adoção do diagnóstico clínico-epidemiológico, quando o
médico contabiliza a doença exclusivamente por meio dos sintomas.
Novos equipamentos
Uma das principais apostas do Governo do Estado no combate ao novo
coronavírus é a reinauguração do hospital Leonardo da Vinci, localizado
no bairro Aldeota, na Capital. A previsão de abertura da unidade, que
estava desativada, é domingo (22) com foco exclusivo em pacientes
diagnósticos com Covid-19.
O equipamento receberá 230 leitos - com possibilidade de readequação
para Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em escala completa. O detalhe é
que os pacientes serão encaminhados ao local através de uma central de
regulação. Logo, não devem procurar a unidade, mas continuar se
utilizando dos postos de saúde ou UPAs, como já indicado nos planos de
contingência.
Para resguardar os profissionais de saúde, o titular da Sesa também
revelou a aquisição de um estoque de Equipamentos de Proteção de
Individual (EPI) suficiente para os próximos seis meses. Sem detalhar a
quantidade e o investimento, o material é oriundo da China e vem como
precaução para abril e maio, intervalo do qual é esperado o pico de
casos no Ceará.
Evolução
Tudo para acelerar o atendimento e controlar a curva epidêmica de
contaminados - por ora, em evolução similar à da Espanha. O
infectologista do hospital São José, Robério Leite, informou que a
amostra de doentes divulgada é apenas parcial, uma vez que as
subnotificações são recorrentes pela escassez de testes e difícil
diagnóstico.
"À medida em que avança a epidemia, vamos mudando o protocolo e isso é
uma situação condicionada pela capacidade do serviço de saúde. Uma
doença como o sarampo é mais fácil de diagnosticar, porém, até um
sarampo leve se torna difícil. No último trabalho da China, os
pesquisadores estimaram que em 80% dos casos, as pessoas são
assintomáticas, leves ou moderadas. Como nos concentramos nos grupos de
risco, essa conta não fecha porque as outras pessoas também vão
transmitir e disseminar o vírus".
Diante dos esforços na prevenção e tratamento da doença, moradores
dos bairros Aldeota e Dionísio Torres, na noite de ontem (20),
promoveram um ato de homenagem aos profissionais da saúde, com aplausos.
A reverência valoriza trabalhadores que estão no pelotão de frente na
guerra contra a doença.