quarta-feira, 4 de setembro de 2019

23 colombianos movimentaram mais de R$ 4,5 milhões, em 2019, no CE

Embora a relação diplomática entre Brasil e Colômbia seja positiva, especialmente por conta do alinhamento entre os presidentes dos dois países, a vinda de alguns colombianos para o Ceará vem trazendo prejuízos ao Estado. Apenas neste ano, pelo menos 23 nascidos no país vizinho foram presos e enquadrados na Lei de Crimes Contra a Economia Popular, conhecida comumente pela infração da agiotagem. Além disso, estimativa realizada pelo Diário do Nordeste aponta que, em 2019, mais de R$ 4,5 milhões foram transferidos ilegalmente de contas de agências no Ceará para a Colômbia.
“É um tipo de organização criminosa que vem assolando o Estado todo. Ultimamente, a gente tem visto operações visando combater esse crime. A gente já viu em Iguatu, Quixadá, mas não com essa proporção que teve aqui”, ressaltou, ontem (3), em coletiva de imprensa, o delegado Luiz Eduardo da Costa Santos, após detenção de quatro colombianos e sete brasileiros suspeitos de terem cometido o crime no Cariri. 

O grupo teria enviado, em apenas seis meses, mais de R$ 2,5 milhões a partir de uma agência de Juazeiro do Norte a uma ramificação da quadrilha no país vizinho. As informações foram obtidas pela Polícia Civil após quebra de sigilo bancário de um dos detidos.

De acordo com o delegado Giuliano Sena, “a orientação da Delegacia-Geral no Ceará é combater todos esses crimes e tentar diminuir esse tipo aqui no Ceará”.

Histórico

Contudo, a prática da agiotagem cometida de maneira transnacional vem se popularizando no Ceará e em estados como Pernambuco, segundo o delegado Luiz Eduardo. “É difícil a gente auferir o número exato de vítimas porque eles trabalham com esse pessoal que tem pequenos comércios, que não tem acesso a credito bancário”, explica.
Desde o início do ano, pelo menos sete operações – tendo como foco grupos de agiotagem com suposto envolvimento de colombianos – já foram deflagradas no Estado. O caso de ontem, o maior de 2019 em termos financeiros, levou à prisão os estrangeiros Mario Andres Nunes Prieto, Omar Camargo Lizarazo, Jhon Edson Grajales Buitrago, Darwin Plazas Alvarado e Yilber Arbey, além de seis brasileiros que formavam a quadrilha.
Conforme o promotor de Justiça Jairo Pequeno Neto, os “cabeças” dos esquemas desarticulados pelas autoridades cearenses não ficam no Brasil, mas agenciam as atividades de fora. 

De acordo com ele, aqui no País, os comandados trocam uma parte do dinheiro ilegal em casas de câmbio e encaminha para a Colômbia. O que não é enviado, é reinvestido a fim de expandir as atividades em solo cearense. No país vizinho, a prática é conhecida como “cobro” ou “cobrito”.

‘Préstimos’

Em julho, o próprio promotor foi um dos responsáveis pela desarticulação de outra quadrilha transnacional, com os mesmos moldes de atuação, durante as diligências da “Operação Préstimos”. Na época, três colombianos e oito brasileiros foram presos pela prática de agiotagem nos municípios de Pentecoste, São Gonçalo do Amarante, Umirim e Paraipaba. Eles teriam movimentado cerca de R$ 2 milhões – frutos dos crimes contra pequenos comerciantes – para a Colômbia. 

Cristian Camilo Davi Quintero e Ivan David Jaramillo Giraldo foram presos pela Polícia Civil, mas colocados em liberdade pela Justiça após pagamento de fiança de R$ 50 mil. A esposa de Davi, Natália Orozco, teve a prisão temporária revogada. Os três tiveram de entregar seus passaportes a fim de impedir o deslocamento internacional.

A prática

O Diário do Nordeste averiguou que as ações criminosas já ocorreram em, pelo menos, 11 cidades do Estado, incluindo a Capital. O modus operandi das ações criminosas é bem parecido.
Primeiro, eles montam suas equipes para realizarem os crimes contra a economia popular, dividindo-se em gerentes ou coordenadores, além de cobradores e fiscais. Em seguida, buscam comerciantes a fim de realizar empréstimos a juros altíssimos, chegando até a taxa de 20%. 
Conforme a Polícia Civil, as cobranças são diárias e, as vítimas, normalmente, não dispõem de acesso a crédito por organizações de fomento para darem andamento aos seus negócios. As vítimas, assim, são extorquidas, ameaçadas e precisam realizar o pagamento sem ter condições financeiras.