quinta-feira, 22 de março de 2018

Sessão em apoio à advogada que teria sido ofendida por juiz

O ato, que aconteceu em frente ao Fórum Clóvis Beviláqua, na Capital, teve a participação do presidente Nacional da OAB, Claudio Lamachia ( Foto: Reinaldo Jorge )
A Ordem dos Advogados do Brasil no Ceará (OAB-CE) realizou, na tarde de ontem, sessão solene de desagravo público contra o juiz Joaquim Solón Mota Júnior, titular da 2ª Vara de Família da Comarca de Fortaleza, tendo como alegação a violação das prerrogativas profissionais da advogada Sabrina Milane Veras Campos durante exercício de sua profissão. O ato, que aconteceu em frente ao Fórum Clóvis Beviláqua, na Capital, teve a participação do presidente Nacional da OAB, Claudio Lamachia.

Para a Ordem, o magistrado cometeu abuso de autoridade ao proferir ofensas e ameaças a advogada, em audiência realizada no dia 21 de fevereiro deste ano, do processo de transferência de guarda de duas crianças sob a alegação de maus tratos. Uma delas, no entanto, veio a falecer.

Na época, Veras sugeriu que a demora e burocracia do Judiciário, em especial da 2ª Vara de Família, tenha colaborado com a fatalidade. O pedido de tutela de urgência foi impetrado em novembro de 2017 e a criança faleceu em janeiro deste ano. Por esse fato, durante a audiência de fevereiro, o magistrado classificou a advogada como desqualificada para a profissão, segundo áudio divulgado pela OAB-CE.

O presidente Nacional da OAB, Claudio Lamachia, destacou que o movimento da Ordem em favor da advogada não pode ser entendido como corporativismo e sim como um movimento em nome da sociedade. "Na medida que nós temos um profissional advogado desrespeitado no seu exercício profissional quem é desrespeitado é o próprio cidadão que instituiu o advogado. As autoridades públicas não podem confundir autoridade com autoritarismo, isto é uma época que já passou no Brasil. Vivemos hoje na plenitude de um Estado Democrático de Direito e a maturidade de uma Estado Democrático de Direito se mede pelo respeito que as autoridades constituídas têm para uma profissão tão importante para a democracia como a advocacia", disse.

Para o presidente da OAB-CE, Marcelo Mota, o caso se trata de uma agressão. "O desagravo nada mais é do que um instrumento para que nós possamos dizer que não aceitamos a violência a qualquer advogado no exercício da profissão. A nossa Ordem ingressou com as medidas correcionais aqui no Tribunal de Justiça do Ceará, no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e estamos agora finalizando uma peça de dano moral coletivo para repararmos esse dano que não foi só a ela, mas a mais de 1 milhão de advogados do País".

Um ofício será encaminhado a Câmara dos Deputados Federais, segundo informou o presidente do Tribunal de Defesa das Prerrogativas (TDP) da OAB-CE, Cleto Gomes, propondo que o processo de desagravo seja anexado ao Projeto de Lei que trata sobre a criminalização da advocacia. No ato, Sabrina Veras disse estar levantando a bandeira do respeito, para garantir a defesa de direitos dos cidadãos. "A partir do momento que somos desrespeitados e as nossas prerrogativas violadas a gente silencia a voz da sociedade", disse.

Apoio

A Associação Cearense dos Magistrados (ACM), que desde o início manifestou apoio ao juiz, reforçou, por nota, que apoia todas as medidas cíveis, administrativas e penais na defesa do titular da 2ª da Vara da Família de Fortaleza e que não há relação entre a morte da criança citada no áudio divulgado e a atuação do magistrado, além de garantir que os fatos não ocorreram da forma como veiculado.

"A criança em questão não fazia parte do processo inicial e, ao ser solicitada a sua inclusão, foram realizados todos os trâmites, em um processo que foi movimentado mais de 50 vezes num período de cinco meses. Vale ressaltar, ainda, que a 2ª Vara da Família e o juiz responsável pela mesma têm índices de produtividade acima da média nacional, com mais de 1.800 sentenças realizadas, somente em 2017", disse a nota. A ACM reafirma, ainda que o áudio com o diálogo entre o juiz e advogada é uma gravação indevida, que pode caracterizar violação grave à lei, especialmente em processo que corre em segredo de Justiça.

O juiz Joaquim Solon Mota Júnior é formado em Direito pela Universidade Federal do Ceará (UFC), sócio do Instituto Brasileiro de Direito de Família e já integrou como suplente a Comissão Estadual Judiciária de Adoção Internacional do Ceará ( Cejai). Ingressou na magistratura em 1994 e, desde 2011, atua na 2ª Vara da Família da Capital.