Três das seis crianças supostamente mantidas em cárcere privado pelo
próprio pai prestaram depoimento na tarde desta segunda-feira, 28, na
Delegacia de Combate à Exploração da Criança e do Adolescente (Dececa).
Foram ouvidos o menino de 10 anos e as irmãs de 14 e 17 anos. Com
exceção da filha mais velha, que está com um familiar, todas as outras
crianças estão em abrigo.
De
acordo com a titular da Dececa, delegada Ivana Timbó, o pai exercia
grande influência sobre as crianças, a ponto de elas não compreenderem a
situação em que estavam envolvidas. As crianças mostraram calma durante
o depoimento, e afirmaram que não sofreram nenhuma violência física do
pai. Ainda assim, a delegada considera que a situação poderia trazer
consequências de violência psicológica.
As
crianças afirmaram ainda que tiveram momentos esporádicos de passeios e
visitas a shoppings e ao mercado. Algumas delas nunca foram à praia e
nem estudaram. Nos últimos dois anos, os filhos perderam acesso à TV,
embora a residência tenha aparelho de televisão. A delegada afirma que
as crianças acessavam a Internet por um único smartphone do pai, que
monitorava o acesso.
O
pai das crianças, suspeito de manter os filhos em cárcere privado, não
foi preso pela Polícia Civil, decisão que a titular da Dececa considerou
acertada. Ela diz que a prisão preventiva do pai poderia ser motivo de
"confusão psicológica" para os filhos.
Ainda não
se sabe como o pai será enquadrado, já que a delegada mantém cautela
sobre o caso se tratar de situação de cárcere privado e afirma que isso
ainda precisa ser apurado. Contudo, o supervisor das Defensorias
Públicas da Infância e da Juventude, Adriano Leitinho, diz que mesmo que
as crianças tivessem acesso a espaços públicos o caso ainda se enquadra
como cárcere privado. A delegada afirma que o empresário pode ser
enquadrado por abandono intelectual.
A
Polícia também investiga se a mãe teria envolvimento no suposto crime.
"Pode acontecer da mãe ser responsabilizada se ficar provado que ela
tinha consciência e conivência com o que aconteceu e não tenha tomada
nenhuma providência", diz o defensor público. "Ela pode ser vítima do
marido e, ao mesmo tempo, pode ter sido autora de crimes contra as
crianças por omissão".
Ivana Timbó e Adriano Leitinho não descartam a possibilidade do suspeito ter problemas psicológicos. Segundo o inspetor Oberdan Campelo, do 4º Distrito Policial, o empresário não estaria em condições física e mental de ser preso. O estado mental do empresário será apurado.
Ainda
conforme depoimento dos garotos, a situação se intensificou em janeiro
deste ano, quando a família sofreu tentativa de assalto. O pai alega que manteve os filhos em casa por medo da violência.
Os
seis irmãos, com idades entre quatro e 19 anos, e a mãe foram
resgatados na manhã da última sexta-feira, 25, em um apartamento do
bairro Dionísio Torres. Caso foi descoberto após denúncias anônimas ao
Conselho Tutelar.