O pai de três crianças, duas adolescentes e uma adulta, com idades
entre quatro e 19 anos, prestou depoimento na Delegacia de Combate à
Exploração da Criança e do Adolescente (Dececa) durante a manhã da
sexta-feira. Na tarde do mesmo dia, ele foi conduzido ao 4ºDP para dar
explicações acerca das duas armas encontradas em seu imóvel.
Após a Polícia ter comprovado que o suspeito tinha registro legal das
armas, Adachi foi solto. Ele saiu do prédio em um carro particular, sem
escolta e na companhia de dois advogados. Conforme a delegada adjunta do
Distrito Policial, Milena Moraes, devido a supostos problemas psíquicos
apresentados por Massahuru Nogueira, a defesa se comprometeu a
interná-lo em uma clínica psiquiátrica.
"Não temos como dizer se ele ameaçava as crianças. Ele não apresentou
resistência e as armas foram apreendidas. Analisamos e verificamos que
da nossa parte não havia mais procedimento para fazer. A Dececa deve
continuar com o caso", disse Milena Moraes.
Os filhos do suspeito foram localizados por equipes da Polícia Civil e
Conselho Tutelar de Fortaleza, na Rua Visconde de Mauá, após recebimento
de denúncia anônima ao 'Disque 100'. Inicialmente, o Conselho Tutelar
foi até a residência, no último dia 18 de agosto, e verificou a condição
em que a família, incluindo a mãe das crianças, era mantida no imóvel.
Apurações
O casal e os filhos moravam num apartamento, em um residencial de
propriedade do pai de Adachi. Segundo o relatório elaborado pelos
conselheiros, o local não tinha móveis, apenas eletrodomésticos (fogão,
geladeira e máquina de lavar), e todos os familiares dormiam em redes.
Esse relatório foi repassado à Defensoria Pública do Estado, que entrou
com uma ação urgente de medida protetiva para acolhimento institucional
dos seis irmãos. A juíza da 3ª Vara da Infância e Juventude, Mabel
Viana Maciel, acatou o pedido e expediu o mandado judicial.
"Temos conhecimento de um cárcere privado e abandono intelectual. Essas
crianças não teriam contato com familiares, amigos ou com o mundo
externo. Não estudam, não frequentam a rede de saúde, não vão à escola,
dois deles não têm sequer registro de nascimento civil. Há denúncia que o
mais novo teria nascido em um parto dentro da própria residência. É uma
situação bastante complicada, que causa perplexidade", afirmou a
defensora pública Ana Cristina Teixeira Barreto.
As crianças também estiveram na Dececa prestando depoimento para que
fosse instaurado um inquérito policial. "Essas crianças vão ser
acolhidas, a partir de um requerimento que nós fizemos junto à 3ª Vara
da Infância e da Juventude, e vão ficar em um local sigiloso de
proteção. Vamos analisar se é o caso de colocar a guarda com os outros
parentes, ou, se elas vão ser destituídas do poder familiar", revelou
Ana Cristina Barreto.
No 4ºDP, Massaharu Nogueira Adachi contou que seus filhos não estavam
mantidos em cárcere privado. Conforme o suspeito, desde o dia 5 de
janeiro de 2017, ele optou por manter as crianças dentro de casa no
intuito de as proteger de ameaças de morte. O homem afirmou que outros
integrantes da própria família ameaçavam executar ele, a esposa e as
crianças para ficar com a herança. Adachi não especificou de quem
partiram as ameaças.
Para a Defensoria Pública, está comprovado que o isolamento da família
corrobora os problemas psíquicos do suspeito. A Secretaria da Segurança
Pública e Defesa Social (SSPDS) informou que o caso segue sob segredo de
Justiça. A Dececa é responsável por dar continuidade e aprofundar as
investigações.