Uma
série de experimentos liderados por Jiang-Shiou Hwang da National
Taiwan Ocean University (ou Universidade Nacional do Oceano de Taiwan em
tradução livre) demonstraram a possibilidade de uma mistura de um pó
rico em quitina - advindo de crustáceos como o caranguejo - junto com
nanopartículas de prata se tornarem uma forma de conter a disseminação
de mosquitos vetores de doenças. Dentre os males transmitidos estão
malária, dengue, febre amarela, o zika vírus e encefalite.
Depois
de ficar pronta, a nova solução foi testada pela equipe de pesquisa ao
espirrá-la em seis reservatórios de água no National Institute of
Communicable Disease Centre in Coimbatore (ou Instituto Nacional do
Centro de Doenças Transmissíveis em Coimbatore), na Índia. Com isso foi
possível matar eficazmente as larvas e pupas do mosquito (estágio que os
insetos ficam em casulo durante a metamorfose), mesmo usando pequenas
concentrações. Os resultados foram melhores quando aplicando a
substância durante os estágios iniciais do desenvolvimento da larva. Os
testes ocorreram com o mosquito Anopheles sundaicus, que é transmissor da malária e outras doenças.
A
pesquisa se concentrou em torno da quitina, uma substância natural e
não tóxica que é usada como um dos meios para auxiliar na cura de
ferimentos, como invólucro de medicamentos (comprimidos), como material
para a fabricação de filtros de água de membrana e embalagens
biodegradáveis. A quitina, que também pode ser encontrada no
exoesqueleto de artrópodes, bicos de pássaro e ovos de insetos, pode ser
facilmente modificado quimicamente, é bem forte e tem um baixo custo
por conta da sua abundância na natureza.
O processo de fabricação da solução envolve desidratar o exoesqueleto de vários caranguejos da espécie Xenograpsus testudinatus
para de lá extrair a quitina e outros minerais. A substância branca e
cremosa resultante é misturada com nitrato de prata e assim se obtém uma
solução amarelo-amarronzada de nano partículas de prata.
A
solução também foi testada para saber se poderia ser maléfica, de
alguma forma, a outros seres vivos. O representante nesse caso foi o
peixe dourado de água doce (da espécie Carassiu auratus) que se
alimenta das larvas dos mosquitos. Não houve nenhum efeito sobre o
peixe, o que indica que a substância não faz mal ao ambiente nem é
tóxica. Além disso, ela também inibe o crescimento na água de bactérias
causadoras de doenças como o Bacillus subtilis, Escherichia coli, Klebsiella pneumoniae e Proteus vulgaris.
O
chefe da equipe de pesquisa Jiang-Shiou Hwang, explicou que "essa
pesquisa destacou que nanopartículas de prata com quitina são fáceis de
produzir, são estáveis com o tempo e podem ser utilizadas em pequenas
doses para reduzir bastante a população do vetor da malária, o mosquito
da espécie Anopheles sundaicus, sem efeitos prejudiciais aos
predadores naturais dos mosquitos, como peixes dourados". Hwang ainda
adicionou ao dizer que "isso também inibiu efetivamente bactérias
transmissoras de patógenos". A hipótese dele é de que as nanopartículas
passam através da cutícula do inseto e entra em células individuais e
dessa forma interfere com vários processos fisiológicos que fazem parte
do ciclo de vida do mosquito.
Mesmo com 100 anos
de pesquisa sobre a malária, a doença permanece sendo um problema de
saúde global, principalmente na África subsariana e na Ásia. Em 2013, o
número de casos de malária foi estimado em 198 milhões, já o número de
mortes relacionadas com a malária estava em 548 mil. A partir de dados
da Organização Mundial da Saúde, uma criança morre a cada minuto de
malária na África. Produtos como organofosfatos, reguladores de
crescimento de insetos, agentes de controle microbióticos e soluções
orgânicas são usadas nas tentativas de controlar as populações de
mosquitos e a disseminação da doença.