Em tempo de eleição, não basta ter carisma e um bom plano de governo
para garantir seu voto. Na corrida municipal deste ano, candidatos a
prefeito e a vereador foram atrás da batida perfeita para grudar na
cabeça do eleitor -- aquela que você já conhece a melodia, a letra e,
muitas vezes, até a coreografia.
É por isso que a controversa
"Metralhadora", hit do Carnaval de 2016 da Banda Vingadora, tem sido
usado para ajudar uma candidata a prefeita no Nordeste, com um refrão
elogioso: "Trá Trá Trá / Na Paula pode confiar"; e o funk do momento,
"Malandramente", embala a campanha de um vereador com um recado cívico:
"Vote consciente".
E não para por aí: "Bang", de Anitta;
"Camarote", de Wesley Safadão; e "10%", de Maiara & Maraisa, estão
entre as mais pedidas nas rádios e também lideram as mais tocadas em
comícios, memes e correntes de WhatsApp --na maioria das vezes, à
revelia total dos compositores das canções.
Até mesmo Dona Bill,
mãe e empresária de Wesley Safadão, entrou na dança. Candidata à
vice-prefeitura na cidade de Aracoiaba (a 70 km de Fortaleza, no Ceará),
ela apostou em uma versão política, mas que não é sucesso do filho: a
escolha foi pelo funk "Bumbum Granada". No lugar do refrão repetitivo
que diz "vai taca, taca, taca, taca, taca", conseguiram encaixar: "só dá
45 em Aracoiaba". Sua candidatura, no entanto,
Feirão dos jingles
Tradição nas campanhas, o jingle é a principal ferramenta para os
políticos conquistarem corações e mentes do eleitorado. Mas desde a
chegada das redes sociais nas campanhas, a prática de se pegar um hit
conhecido para fazer uma versão ou paródia se popularizou, em detrimento
das composições originais.
Com toda a tecnologia na ponta dos
dedos, os jingles passaram a ser vendidos em verdadeiras baciadas
virtuais, seja no YouTube, Twitter ou até mesmo no Mercado Livre --onde é
possível encomendar um jingle de 1 minuto, feito em cima de uma base
pré-gravada, pela bagatela de R$ 200.
A profusão de pequenos
estúdios abre espaço até para promoções. "Compra 2 jingles, leva 1
spot", anuncia um estúdio no YouTube. Muitas vezes os próprios
candidatos, em geral vereadores em cidades do interior, fazem os pedidos
diretos na caixa de comentários: "Faz duas vozes com esse preço, por
favor? É com o funk de la dim dream dos passinho (sic)". A música, neste
caso, é "De Ladim", do grupo carioca carioca Dream Team do Passinho,
hit que foi de trilha de novela à abertura das Olimpíadas no Rio.
Luciano Rogério é um desses produtores que, em geral, trabalham com
publicidade, mas que reservam ano de eleição para os candidatos. A mais
pedida no seu estúdio, em Bebedouro, no interior de São Paulo, é
"Camarote", de Wesley Safadão. "O refrão 'Agora assista aí de camarote /
Eu bebendo gela / Tomando Ciroc' facilmente se torna 'Agora peço aí que
você vote / Eu voto certo / Você também pode", exemplifica.
"Com as redes sociais, até candidatos de áreas isoladas, e sem
computador, começaram a encomendar suas próprias versões", contou ao UOL. Luciano fechou a temporada com 300 jingles entregues.