
Há indícios de que o anticoncepcional altera a preferência natural por indicadores de qualidade genética (Foto: Reprodução)
Aesperada
pílula masculina — assim chamada, apesar de ser injetável — foi
recentemente aprovada pela FDA, agência reguladora americana, e deve
chegar ao mercado americano entre dois e quatro anos. Hoje vou instigar o
leitor a uma reflexão sobre a pílula feminina.
Em 1959, foi solicitada ao FDA a aprovação dessa pílula como método
contraceptivo, o que ocorreu em maio de 1960. Mas a disponibilidade para
mulheres solteiras em todos os estados americanos só foi possível a
partir de 1972.
A pílula feminina é hoje utilizada por mais de 60 milhões de mulheres
em todo o mundo, tendo contribuído muito para a emancipação da mulher,
especialmente no que se refere à educação pessoal e à carreira. Devido
ao seu impacto na vida social, na família, na saúde e nas relações entre
homens e mulheres, gerou muitas controvérsias ao longo das últimas
cinco décadas.
Mais recentemente, pesquisas vêm estudando se as usuárias da pílula
exibem sexualidade fértil típica ou preferências semelhantes às de
mulheres que não estão no período fértil.
Segundo a teoria da seleção de genes, a mulher em período fértil
busca se acasalar com o homem que tem melhor bagagem hereditária,
garantindo assim vantagens para sua prole. Ou seja, ao avaliar os homens
como parceiros sexuais, essa mulher tende a se interessar por
estereótipos tipicamente masculinos (homens altos e de ombros largos).
Atualmente, especula-se se a preferência por atributos masculinos
permaneceria inalterada em usuárias da pílula, já que esta bloqueia a
ovulação e a fertilidade. Há indícios de que o anticoncepcional,
eliminando a fase fértil, altera a preferência natural por indicadores
de qualidade genética, modificando a atratividade das mulheres. Em
comparação com aquelas que têm ciclo menstrual regular (fértil), as
usuárias da pílula apresentariam pouca ou nenhuma preferência por
masculinidade facial e voz máscula.
Um estudo recém-publicado comparou usuárias e não usuárias da pílula
quanto à preferência por parceiros menos viris do ponto de vista físico,
psicológico e comportamental, especialmente quando essas últimas
escolhem o parceiro sexual durante o período fértil, entre o 11º e o 21º
dia do ciclo menstrual. Constatou-se que, nestes dias, as mulheres
enfatizam essa preferência mais do que em outras fases.
Curiosamente, as submissas, usuárias ou não da pílula, mostram maior
interesse por parceiros sexuais com características típicas do gênero
masculino. Isto pode ser explicado, considerando que as mais frágeis
exigem maior proteção, o que se observou mais evidente ainda no grupo
das não usuárias.
Apesar dessas constatações, outras questões permanecem sem resposta:
caso as preferências pelos parceiros sexuais sejam alteradas pela pílula
e esta desempenhe papel no tipo da atração pelos parceiros, então é
provável que a satisfação com a relação, a estabilidade e a duração do
relacionamento possam, em última análise, ser também afetadas. Pesquisas
futuras devem revelar em que grau o início do uso de pílula pode
desestabilizar um relacionamento já em curso.
Por outro lado, a mulher que já está usando a pílula, se interromper
esse uso para engravidar, terá a atração pelo seu parceiro reduzida?
Estudos que comparem os índices de divórcio ou de satisfação conjugal
em sociedades com diferentes prevalências da utilização da pílula
poderiam ser úteis na elucidação da influência da pílula na qualidade da
satisfação conjugal.
Este revolucionário método anticoncepcional, que há meio século tem
proporcionado à mulher conforto sem precedentes, pode ter mais impacto
do que se imagina sobre a vida íntima e relacional.
Fonte: O Globo
Fonte: O Globo