sábado, 8 de agosto de 2015

Legitimidade do voto é defendida por Dilma

Boa Vista. Ao final de uma semana em que o Palácio do Planalto só colheu más notícias, a presidente Dilma Rousseff (PT) aproveitou a plateia que a esperava em mais uma cerimônia de entrega de casas do programa Minha Casa, Minha Vida, em Boa Vista (RR), ontem, para defender o governo, o mandato e pedir ao Congresso respeito à democracia. No discurso mais duro desde que passou a ser acossada com a possibilidade do impeachment, a petista declarou que "ninguém vai tirar essa legitimidade que o voto me deu".
Em mais um esforço para tentar abrandar a crise política, Dilma convocou senadores e líderes da base aliada do Senado para um jantar na segunda-feira, 10. No encontro no Palácio da Alvorada, a presidente buscará defender o papel da Casa na construção de uma agenda de governabilidade.

"Este País é uma democracia. E uma democracia respeita, sobretudo, a eleição direta pelo voto popular. Eu respeito a democracia do meu País. Eu sei o que é viver numa ditadura. Por isso eu respeito a democracia e o voto. Podem ter certeza que, além de respeitar, eu honrarei o voto que me deram", afirmou.

"A primeira característica de quem honra o voto que lhe deram é saber que é ele a fonte da minha legitimidade, e ninguém vai tirar essa legitimidade que o voto me deu".

A presidente falou por cerca de 25 minutos sobre as casas que estavam sendo entregues, citou projetos caros a seu governo, como o Mais Médicos e o Pronatec, e anunciou a data do lançamento da terceira fase do Minha Casa, Minha Vida, para 10 de setembro. Apenas no final da fala, ela começou uma defesa veemente do governo e do mandato. Em um recado claro ao Congresso e à oposição, cobrou compromisso com a estabilidade política e respeito à democracia.

"Nós temos de nos dedicar à estabilidade institucional, econômica, política e social do País. Eu sei que têm brasileiros que estão sofrendo. Por isso é que eu me comprometo a trabalhar diuturnamente. Isso é minha obrigação, é meu dever. Mas, além disso, eu me comprometo também a contribuir e a me esforçar pela estabilidade", disse.

"O País tem uma democracia. Nós devemos respeito entre os poderes. Eu me disponho a trabalhar também incansavelmente para assegurar a estabilidade política do nosso País. Eu me dedicarei com grande empenho a isso nos próximos meses e anos do meu mandato".

Sob pressão

Dilma voltou a dizer que "aguenta pressão" e ameaças, e reconheceu mais uma vez as dificuldades econômicas, mas defendeu que hoje o Brasil é "muito mais forte e robusto". "Antes quando o Brasil tinha qualquer problema, interno ou externo, tinha dificuldade de pagar suas contas externas. Hoje temos mais de US$ 300 bilhões de reservas. Esse é um país que tem recursos suficientes e não quebra, sai das dificuldade", discursou, lembrando que milhões de pessoas saíram da pobreza e afirmando que esse é hoje "um país majoritariamente de classe média".

Desde o início da crise política que abala o País, a semana que passou concentrou a maior dose de problemas para a presidente. O governo perdeu mais uma votação na Câmara, a que elevou os salários de advogados da União e delegados da Polícia Federal, a um custo de RS$ 2,4 bilhões a mais por ano. Para além da questão financeira, o resultado da votação mostrou que o governo perdeu completamente a base de apoio no Congresso e até petistas desertaram.

Na véspera da votação, o vice-presidente Michel Temer e o ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha, reuniram os líderes da base na Câmara em um encontro que foi definido depois como um desastre completo, com discussões e acusações que, em vez de resolver os problemas, foram apenas o prenúncio do que estava por vir no Congresso.

Dois partidos, PTB e PDT, anunciaram que sairiam da base. O presidente do Senado, Renan Calheiros, reuniu-se com parlamentares da oposição e conversou sobre cenários para uma possível saída de Dilma. Na quinta, líderes da oposição defenderam novas eleições em caso de saída da presidente e, durante o programa do PT na televisão - em que o partido pediu união para o País sair da crise - mais uma vez houve panelaço.

Mas hoje, em Boa Vista, a presidente pôde relembrar a popularidade perdida. Com uma plateia formada principalmente por beneficiários do Minha Casa, Minha Vida e por funcionários do governo do Estado (PP) e da prefeitura (PMDB), Dilma foi bastante aplaudida, algumas vezes de pé, e ouviu de novo os cantos de "Olê, Olê, Olá, Dilma, Dilma", abandonados desde a época de campanha.

Nas próximas semanas, a presidente vai ampliar o roteiro de viagens. Na segunda, vai a São Luís (MA) e na sexta, a Juazeiro (BA), também para entrega de casas. Em seguida deve entrar também na agenda o Ceará. A avaliação do Palácio do Planalto é que a agenda de viagens é a única forma de recuperar alguma popularidade.

No jantar de segunda-feira, a presidente pretende pedir o apoio de senadores na retomada de ações para reverter as crises política e econômica.
Elogios a Temer

No dia seguinte ao que pediu ajuda aos partidos políticos para solucionar os problemas do país, o que causou mal-estar entre ministros do governo federal, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) recebeu elogios sobre o seu papel na atual crise política em encontro no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo tucano de São Paulo. O vice usou o Twitter, ontem, para negar o afastamento da articulação do governo. "Continuo. Tenho responsabilidades com meu País e com a presidente Dilma", disse.