Boa Vista. Ao final de uma semana em que o Palácio do
Planalto só colheu más notícias, a presidente Dilma Rousseff (PT)
aproveitou a plateia que a esperava em mais uma cerimônia de entrega de
casas do programa Minha Casa, Minha Vida, em Boa Vista (RR), ontem, para
defender o governo, o mandato e pedir ao Congresso respeito à
democracia. No discurso mais duro desde que passou a ser acossada com a
possibilidade do impeachment, a petista declarou que "ninguém vai tirar
essa legitimidade que o voto me deu".
Em mais um esforço para tentar abrandar a crise política, Dilma
convocou senadores e líderes da base aliada do Senado para um jantar na
segunda-feira, 10. No encontro no Palácio da Alvorada, a presidente
buscará defender o papel da Casa na construção de uma agenda de
governabilidade.
"Este País é uma democracia. E uma democracia respeita, sobretudo, a
eleição direta pelo voto popular. Eu respeito a democracia do meu País.
Eu sei o que é viver numa ditadura. Por isso eu respeito a democracia e o
voto. Podem ter certeza que, além de respeitar, eu honrarei o voto que
me deram", afirmou.
"A primeira característica de quem honra o voto que lhe deram é saber
que é ele a fonte da minha legitimidade, e ninguém vai tirar essa
legitimidade que o voto me deu".
A presidente falou por cerca de 25 minutos sobre as casas que estavam
sendo entregues, citou projetos caros a seu governo, como o Mais Médicos
e o Pronatec, e anunciou a data do lançamento da terceira fase do Minha
Casa, Minha Vida, para 10 de setembro. Apenas no final da fala, ela
começou uma defesa veemente do governo e do mandato. Em um recado claro
ao Congresso e à oposição, cobrou compromisso com a estabilidade
política e respeito à democracia.
"Nós temos de nos dedicar à estabilidade institucional, econômica,
política e social do País. Eu sei que têm brasileiros que estão
sofrendo. Por isso é que eu me comprometo a trabalhar diuturnamente.
Isso é minha obrigação, é meu dever. Mas, além disso, eu me comprometo
também a contribuir e a me esforçar pela estabilidade", disse.
"O País tem uma democracia. Nós devemos respeito entre os poderes. Eu
me disponho a trabalhar também incansavelmente para assegurar a
estabilidade política do nosso País. Eu me dedicarei com grande empenho a
isso nos próximos meses e anos do meu mandato".
Sob pressão
Dilma voltou a dizer que "aguenta pressão" e ameaças, e reconheceu mais
uma vez as dificuldades econômicas, mas defendeu que hoje o Brasil é
"muito mais forte e robusto". "Antes quando o Brasil tinha qualquer
problema, interno ou externo, tinha dificuldade de pagar suas contas
externas. Hoje temos mais de US$ 300 bilhões de reservas. Esse é um país
que tem recursos suficientes e não quebra, sai das dificuldade",
discursou, lembrando que milhões de pessoas saíram da pobreza e
afirmando que esse é hoje "um país majoritariamente de classe média".
Desde o início da crise política que abala o País, a semana que passou
concentrou a maior dose de problemas para a presidente. O governo perdeu
mais uma votação na Câmara, a que elevou os salários de advogados da
União e delegados da Polícia Federal, a um custo de RS$ 2,4 bilhões a
mais por ano. Para além da questão financeira, o resultado da votação
mostrou que o governo perdeu completamente a base de apoio no Congresso e
até petistas desertaram.
Na véspera da votação, o vice-presidente Michel Temer e o ministro da
Aviação Civil, Eliseu Padilha, reuniram os líderes da base na Câmara em
um encontro que foi definido depois como um desastre completo, com
discussões e acusações que, em vez de resolver os problemas, foram
apenas o prenúncio do que estava por vir no Congresso.
Dois partidos, PTB e PDT, anunciaram que sairiam da base. O presidente
do Senado, Renan Calheiros, reuniu-se com parlamentares da oposição e
conversou sobre cenários para uma possível saída de Dilma. Na quinta,
líderes da oposição defenderam novas eleições em caso de saída da
presidente e, durante o programa do PT na televisão - em que o partido
pediu união para o País sair da crise - mais uma vez houve panelaço.
Mas hoje, em Boa Vista, a presidente pôde relembrar a popularidade
perdida. Com uma plateia formada principalmente por beneficiários do
Minha Casa, Minha Vida e por funcionários do governo do Estado (PP) e da
prefeitura (PMDB), Dilma foi bastante aplaudida, algumas vezes de pé, e
ouviu de novo os cantos de "Olê, Olê, Olá, Dilma, Dilma", abandonados
desde a época de campanha.
Nas próximas semanas, a presidente vai ampliar o roteiro de viagens. Na
segunda, vai a São Luís (MA) e na sexta, a Juazeiro (BA), também para
entrega de casas. Em seguida deve entrar também na agenda o Ceará. A
avaliação do Palácio do Planalto é que a agenda de viagens é a única
forma de recuperar alguma popularidade.
No jantar de segunda-feira, a presidente pretende pedir o apoio de
senadores na retomada de ações para reverter as crises política e
econômica.
Elogios a Temer
No dia seguinte ao que pediu ajuda aos partidos políticos para
solucionar os problemas do país, o que causou mal-estar entre ministros
do governo federal, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) recebeu
elogios sobre o seu papel na atual crise política em encontro no Palácio
dos Bandeirantes, sede do governo tucano de São Paulo. O vice usou o
Twitter, ontem, para negar o afastamento da articulação do governo.
"Continuo. Tenho responsabilidades com meu País e com a presidente
Dilma", disse.