sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Datafolha: Após papelão no 7 de Setembro, presidente "imbrochável" oscila para baixo

 Brazil's President Jair Bolsonaro gestures during a campaign rally after a military parade to celebrate the bicentennial independence of Brazil in Brasilia, Brazil September 7, 2022. REUTERS/Ueslei Marcelino

Jair Bolsonaro (PL) queria fazer do 7 de Setembro um divisor de águas em sua campanha à reeleição.

Diante de uma multidão considerável, representante de mais de um terço do eleitorado, ele mandou a bola para o mato ao transformar as celebrações do bicentenário em uma exposição de um transtorno narcísico.

Por alguma razão que a razão desconhece, achou que seria uma boa ideia performar sua projeção de virilidade para atrair o voto mais refratário à sua candidatura até aqui: o voto feminino.

Foi o que o levou a beijar a “princesa” no palanque e pedir aos súditos que espalhassem o coro de “imbrochável” aos quatro ventos.

Resultado: em vez de subir, o índice de pessoas dispostas a dar ao capitão mais quatro anos de férias para andar por aí de moto com os amigos do Zap oscilou para baixo e atingiu 33% dos eleitores.

Seu principal adversário, o ex-presidente Lula (PT), manteve 45%, o que lhe garante o favoritismo, mas não as condições de vencer o pleito já no primeiro turno.

Parte da estagnação é Bolsonaro segue penando para atrair o voto das mulheres. Tem apenas 29% desses votos, contra 46% do petista.

Em nada deve ter ajudado a performance de um dos seus mais aguerridos apoiadores que constrangeu, intimidou e ofendeu uma jornalista em seu ambiente de trabalho no debate da TV Cultura de terça-feira (13/9). Os estragos do vexame ainda estão para ser mensurados, já que os pesquisadores ainda estavam em campo naquele dia.

O retrato apontado pelo Datafolha serve como referência para a estratégia a ser adotada pelos candidatos aqui em diante. Lula reforçará a busca pelo voto útil para conquistar um naco que seja dos votos hoje apontados para Ciro Gomes (PDT), com 8% das preferências, e Simone Tebet (MDB), com 5%. Simone Thronicke (União Brasil) entrou no bolo. Saiu de 1% para 2% das preferências.

Excluídos os eleitores que pretendem votar em brancos e nulos, Lula tem 48% dos votos válidos. É pouco até chegar a 50% mais 1, mas o esforço parece esbarrar num teto incômodo.

Para Lula, a boa notícia é que Bolsonaro parou de crescer em um momento em que já gastou todas as balas de seu arsenal eleitoreiro, como a pressão para a redução do preço dos combustíveis e a engorda do Auxílio Brasil.

O petista segue (bem) à frente entre quem ganha até dois salários mínimos, que representam 49% da amostra. Soma 52% das preferências, contra 27% de Bolsonaro. Entre os que recebem Auxílio Brasil, a vantagem é até maior: 57% a 26%.

Até aqui, fica evidente que não tem surtido efeito o esforço do atual presidente para imprimir a sua marca até no cartão do benefício. Tem prevalecido a ideia de que a medida é eleitoreira e tem hora para acabar.

A contraofensiva pelos votos evangélicos também tem funcionado. Poucos dias após se reunir com pastores no Rio e atrair o apoio de Marina Silva, líder evangélica que já está em campo para dizer que o aliado nunca fechou igrejas nem fechara – fake news espalhada por lideranças alinhadas ao bolsonarismo – Lula viu reduzir pela primeira vez a ainda ampla vantagem do adversário no segmento. Na última pesquisa, Bolsonaro tinha 51% desses votos e Lula, 28%. Agora o presidente tem 49% e o petista, 32%.

Bolsonaro viu o adversário avançar em regiões como o Centro-Oeste (40% para o presidente, contra 38%). No Sudeste, onde concentra-se a maior parte da população, Lula oscilou para cima e Bolsonaro, para baixo. A vantagem do petista na região é agora de nove pontos (43% contra 34%).

A duas semanas do pleito, 76% dizem que estão decididos sobre seu voto. Tanto Lula quanto Bolsonaro tem 86% de eleitores fiéis. Os de Ciro, por exemplo, somam 48%.

Ou seja mais da metade ainda pode mudar de ideia até 2 de outubro.

Os números do Datafolha jogam um banho de água fria entre os apoiadores de Bolsonaro. Eles imaginavam que o capitão repetiria a performance das últimas eleições e ganharia campo na reta final. Não é o que tem acontecido.

A explicação para isso é sua alta rejeição, que nesta semana atingiu 53%, número superior à desaprovação (ruim e péssimo) de seu governo (44%). A rejeição de Lula, seu alvo preferencial, é de 38%.

Uma explicação para o fenômeno é que, diferentemente da última campanha, Bolsonaro não tem outra opção agora se não ampliar a sua exposição e participação em atos de campanha, debates (na verdade um, até aqui) e entrevistas. A essa altura, há quatro anos, Bolsonaro se recuperava das cirurgias decorrentes da facada e, por razões óbvias, suspendeu a agenda de campanha, sem que tivesse perdido tempo de exposição graças à ampla cobertura midiática do caso.

Neste ano, a cada aparição, Bolsonaro tem fornecido uma lista de razões para seus apoiadores o venerarem ainda mais e outra ainda maior para ampliar a rejeição dos detratores. Quase não há meio termo entre uns e outros.

O papelão do 7 de Setembro é um exemplo disso. O presidente que queria ser lembrado como “imbrochável” oscilou para baixo. A notícia é essa. E isso não é nenhuma paródia.