quarta-feira, 2 de março de 2022

Campanha da Fraternidade 2022 pede 'mais investimentos significativos de todos os setores' na educação


A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lança oficialmente, nesta quarta-feira (2), a Campanha da Fraternidade de 2022, com o tema "Fraternidade e Educação" e o lema bíblico "Fala com sabedoria, ensina com amor".

"Educação é pilar da paz e por isso precisa receber sempre mais investimento significativos de governantes, empreendedores, instituições, todos os setores", declara Dom Walmor Oliveira de Azevedo, presidente da CNBB.

RELEMBRE OUTROS TEMAS DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE:

2021: Campanha da Fraternidade 2021 critica 'negação da ciência' na pandemia e 'cultura de violência' contra mulheres, negros, indígenas e LGBTIQ+

2020: Com tema 'Fraternidade e Vida', Santa Dulce dos Pobres e Papa Francisco são apresentados como inspiração de caridade na Campanha da Fraternidade

2019: CNBB lança campanha da fraternidade com tema 'Fraternidade e Políticas Públicas'

A campanha busca incentivar a visão da educação integral, considerando os aspectos emocionais, espirituais, cognitivos e físicos dos estudantes. "É preciso perceber que ser humano além de inserção no mercado de trabalho, para que o processo educacional não forme apenas máquinas racionais para inserção no mercado", afirma o secretário-geral da CNBB, Dom Joel Portella Amado.

Para Dom Joel, educação não é apenas uma questão a ser discutida dentro das escolas e cada membro da sociedade tem um papel fundamental no processo. "Para educar uma criança é preciso uma aldeia inteira. Quer dizer que educar é tarefa da família, das escolas, das igrejas e de toda sociedade."

A CNBB destaca os impactos causados pela pandemia da Covid-19 na educação. "Escancarou ainda mais a desigualdade do nosso país para aqueles impossibilitados de acessar equipamentos tecnológicos para frequentar as aulas", destacou o padre Júlio César Rezende.

Para o sacerdote, a pandemia deixou em evidência a necessidade de uma colaboração maior entre famílias e as instituições de ensino. "A escola sozinha não consegue empreender sua missão e a família, de forma isolada, também não", destaca.

A evasão escolar, perda de interesse pela educação e atraso de aprendizado são preocupações apontadas pela conferência. O relatório da organização Todos Pela Educação divulgado em dezembro do ano passado aponta que cerca de 244 mil crianças e adolescentes entre 6 e 14 anos estavam fora da escola no segundo trimestre de 2021.

O número representa um aumento de 171% em comparação a 2019, quando 90 mil crianças estavam fora da escola. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), que abrange os efeitos da pandemia.

A conferência acredita na importância de cobrar por políticas públicas que ajudem a reverter o quadro atual da educação no Brasil.

Sobre a vacinação de crianças contra Covid-19, Dom Joel afirmou que não pode vincular a vacina apenas à necessidade de frequentar a escola.

"Vacinação é um dever e um direito e precisa ser feita. Estamos diante do desafio de salvar vidas", afirma.

O secretário-geral da CNBB, Dom Joel Portella Amado, apontou a necessidade de se posicionar pelo fim do conflito entre Ucrânia e Rússia. A guerra entrou nesta terça-feira (1º) no sexto dia. É o maior ataque de um país contra outro desde a Segunda Guerra Mundial, há 80 anos.

De acordo com o Serviço de Emergência da Ucrânia, 2 mil civis morreram no país em ataques da Rússia. Já dados da ONU apontam que o número de refugiados da Ucrânia já passa de 600 mil.

"É impossível e desumano tocar em fraternidade e não tocar na dor e no sofrimento dos irmãos da Ucrânia. Toda a Igreja se solidariza", afirma Dom Joel. "[O conflito] não pode ser respondido com outra linguagem que não seja a da paz."

Sobre o posicionamento "neutro" adotado pelo governo brasileiro com relação à Ucrânia, o sacerdote afirmou que a posição da Igreja se aplica a qualquer pessoa. "Quando nossa opção não é pela paz, nós nos desumanizamos. 

Não basta cruzar os braços e dizer que não contribuiu [com o conflito]. Se há uma guerra, precisamos trabalhar pela paz", afirma.

Campanha da fraternidade

A campanha da fraternidade é tradicionalmente realizada pela Igreja Católica em parceria com instituições cristãs desde a década de 1960. O texto-base é escrito por membros do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic) e passa pelo aval da direção-geral da CNBB.

A confederação representa os bispos do país, e funciona como uma espécie de entidade de classe. A adesão à campanha não é obrigatória e depende de cada diocese.

O lançamento do tema ocorre sempre na quarta-feira de cinzas, quando tem início a Quaresma, período de 40 dias que antecede a Páscoa. O assunto é difundido nas celebrações e programações da comunidade religiosa.

Segundo a CNBB, mais do que abordar os problemas na educação, o objetivo da Campanha da Fraternidade 2022 é "refletir sobre os fundamentos do ato de educar na perspectiva católico-cristã".

"Nessa perspectiva, a educação é compreendida não apenas com um ato escolar, com transmissão de conteúdo ou preparação técnica para o mundo do trabalho, mas de um processo que envolve uma 'comunidade' ampliada que inclui todos os atores (família, Igreja, Estado e sociedade)", diz a CNBB.

A campanha atende ainda ao Pacto Educativo Global, convocado pelo Papa Francisco, onde foram apresentados os elementos para uma educação humanizada, que contribua na formação de "pessoas abertas, integradas e interligadas".

"A educação será ineficaz e os seus esforços estéreis se não se preocupar também em difundir um novo modelo relativo ao ser humano, à vida, à sociedade e à relação com a natureza", diz o Pacto Educativo Global.