Popular
e considerada uma rica manifestação da arte nordestina, o Repente foi
reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro. O título foi
concedido pelo Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (Iphan) na manhã desta quinta-feira (11), após
reunião em Brasília.
Assim
como a Literatura de Cordel, cujo título foi concedido em 2018, o
Repente passa a ter registro assegurado pelo Instituto. O processo
começou em 2013, após solicitação apresentada pela Associação dos
Cantadores, Repentistas e Escritores Populares do Distrito Federal e
Entorno (Acrespo), sediada no Distrito Federal.
O
reconhecimento atende a luta de repentistas, que se manifestaram via
abaixo-assinados e depoimentos de apoio ao título de bem cultural
imaterial. O dossiê técnico apresentado ao conselho traduz o longo
trajeto de pesquisa realizada em parceria com Iphan e a Universidade de
Brasília (UnB).
O
estudo foi coordenado pelo antropólogo e professor do Departamento de
Antropologia da UnB, João Miguel Manzolillo Sautchuk, cuja tese de
doutorado desbravou o gênero nordestino. A equipe multidisciplinar
responsável pelo levantamento incluiu historiadores e pesquisadores da
literatura.
"Não
foi somente para dizer o que é o Repente. É pesquisa que tem a
característica de mostrar a pluralidade e riqueza do Repente no Nordeste
e outras regiões do País. Está ligada à presença dos nordestinos no Rio
de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais. Não só dos poetas como dos
públicos de nordestinos que foram viver nestas regiões", descreve
Sautchuk.
PROCESSO
O
estudo apresentado ao Iphan estabelece também um rico mapeamento dos
cantadores. Outro objetivo dos pesquisadores foi motivar a mobilização,
discutir com os repentistas o que seria importante para indicar ao Iphan
no tocante a políticas de salvaguarda do Repente.
As
primeiras discussões para o andamento do registro acontecem em 2009,
após um evento que reuniu repentistas em Brasília. Essas conversas
iniciais também tinham participação de cordelistas. Apesar das trocas,
por serem artes diferentes, cada classe e categoria de poetas ficou de
se organizar e fazer esse pedido junto ao Iphan.
Os
trabalhos começaram em 2015 e atenderam duas etapas. A primeira entre
2015 e 2016 e posteriormente entre 2017 e 2019. O relatório foi
concluído em 2020 após mergulhar nesta manifestação cultural por
diferentes cidades do Nordeste.
"Outro
importante aspecto do registro do Repente é incluir outras
manifestações poéticas no Nordeste como bens culturais associados e que
tem uma história de troca, diálogo e influências múltiplas com o
Repente. É o caso do coco de embolada, o aboio, a declamação, a glosa e a
poesia de bancada", completa o pesquisador.
FUTURO
Conversamos
com um dos mais importantes nomes da cantoria em atividade, o Mestre da
Cultura Geraldo Amâncio espera que o registro junto ao Iphan simbolize a
chegada de melhores dias para os poetas. "Torço para que tudo possa dar
certo. Será que através disso, tornar-se o Repente Patrimônio Cultural
Imaterial do Brasil, nós vamos ter apoio para nossos festivais? Sem
Ministério da Cultura temos que esperar para ver o que no futuro vai
acontecer", avalia o cantador.