quinta-feira, 28 de outubro de 2021

Algodão movimenta economia em 20 cidades no sertão cearense com faturamento de R$ 15 milhões

Depois de várias tentativas de revitalização da cultura algodoeira, nas últimas duas décadas, o Ceará, finalmente, assiste em 2021 à retomada do ‘ouro branco’ em pelo menos 20 municípios do sertão. Totalizando uma área superior a 3.200 hectares, a colheita este ano é estimada em 5,5 mil toneladas, com um faturamento em torno de R$ 15 milhões.

Se comparados com o período de larga produção no Ceará entre as décadas de 1960 e meados de 1980, o plantio atual ocupa apenas 0,27% de uma área que já chegou a 1,2 milhão de hectares. Entretanto, se olharmos para 2018, o cultivo da cotonicultura saltou 108,7%, isto é, passou de 1.563 hectares para 3263 ha.

Nesse período de três anos, a produção cresceu 224,1%, passando de 2.236 toneladas em 2018, para 7.248 t em 2021. O faturamento saltou 528%, oscilando de R$ 2,5 milhões para R$ 15,7 milhões. Os dados são da Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Em comparação com 2020, quando foram plantados 22.019 hectares, a área cultivada de algodão neste ano cresceu 11% e chegou a 3.260 hectares. Os maiores produtores são Tabuleiro do Norte (400 hectares), Mauriti (300 ha), Milagres (305 ha), Boa Viagem (150 ha), Ibicuitinga (130 ha), Quixeramobim (120 ha), Mombaça (100 ha) e Iguatu (22 ha).

O cultivo do algodão também ocorre em Acopiara, Várzea Alegre, Quixadá, Tauá, Limoeiro do Norte, Crato, Brejo Santo, Penaforte, Missão Velha, Potengi, Altaneira e Barbalha;

O coordenador do Programa de Modernização do Algodão da Sedet, Euvaldo Bringel, lembrou que o incentivo ao plantio de algodão resulta de uma articulação entre instituições públicas e os produtores a partir da elaboração de “protocolos, realização de seminários, palestras e cultivo em áreas experimentais, nas regiões do Cariri, Sertão Central e no Apodi, para demonstrar a viabilidade do algodão no Estado”.

DESAFIO

O ex-secretário de Agricultura de Iguatu e especialista no cultivo de algodão, Valdeci Ferreira, disse que o desafio da retomada da cotonicultura está “no uso de tecnologia, preparo de solo, cultivo e colheita mecanizada, além de um rigoroso controle de praga, segundo orientação técnica especializada”.

Ferreira observou que o plantio feito pelos pequenos agricultores, sem mecanização, torna-se inviável por causa do elevado custo de mão-de-obra. “Muitos que plantaram em 2019 e 2020, não voltaram a cultivar neste ano”, pontuou. “Outra questão é seguir rigorosamente o controle de praga durante e após a colheita, cumprindo o calendário do vazio sanitário, para evitar infestação na safra seguinte do bicudo”.

O uso de tecnologia moderna permite uma colheita média superior a 3 mil hectares, apontam os produtores.

“No passado, a área de cultivo era extensa, mas a produtividade era muito baixa, em torno de mil quilos por hectare, não havia bicudo e o preço no mercado externo e interno da fibra era muito favorável, além dos incentivos bancários e o pagamento do seguro agrícola, praticamente a cada safra”, analisou Valdeci Ferreira. “Tudo isso mantinha a produção”.

Milhares de empregos eram gerados no campo e em mais de 150 usinas de beneficiamento que haviam no Ceará. “A cotonicultura e o ciclo do gado e do couro movimentaram a economia cearense na segunda metade do século XX”, lembrou o economista Getúlio Oliveira. “No momento, a retomada do algodão ainda está restrita, mas se for fortalecida é um passo importante para ser expandida”.

Bringel lembra que o Ceará tem vocação para a produção de algodão e observou o investimento do governo do Estado no Programa de Modernização do Algodão, cerca de R$1,5 milhão.

Em Milagres, na região do Cariri, foi formada uma associação com 25 produtores rurais. Neste ano, no total foram cultivados 200 hectares e, para 2022, a expectativa é de cultivo de uma área de 500 hectares. “Estamos otimistas e confiantes”, pontuou o produtor José Morais Filho.

O preço da arroba de algodão passou de R$ 30 para R$ 45 neste ano. O secretário de Agricultura de Iguatu, Venâncio Vieira, defende que o plantio seja feito em janeiro e início de fevereiro e justifica: “Vai permitir uma colheita antecipada e a venda será feita em junho, quando o preço é mais favorável, porque é o período de entressafra no Mato Grosso e na Bahia, áreas de larga produção”.

Com informações do Diário do Nordeste.