Depois
de várias tentativas de revitalização da cultura algodoeira, nas
últimas duas décadas, o Ceará, finalmente, assiste em 2021 à retomada do
‘ouro branco’ em pelo menos 20 municípios do sertão. Totalizando uma
área superior a 3.200 hectares, a colheita este ano é estimada em 5,5
mil toneladas, com um faturamento em torno de R$ 15 milhões.
Se
comparados com o período de larga produção no Ceará entre as décadas de
1960 e meados de 1980, o plantio atual ocupa apenas 0,27% de uma área
que já chegou a 1,2 milhão de hectares. Entretanto, se olharmos para
2018, o cultivo da cotonicultura saltou 108,7%, isto é, passou de 1.563
hectares para 3263 ha.
Nesse
período de três anos, a produção cresceu 224,1%, passando de 2.236
toneladas em 2018, para 7.248 t em 2021. O faturamento saltou 528%,
oscilando de R$ 2,5 milhões para R$ 15,7 milhões. Os dados são da
Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet) e do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em
comparação com 2020, quando foram plantados 22.019 hectares, a área
cultivada de algodão neste ano cresceu 11% e chegou a 3.260 hectares. Os
maiores produtores são Tabuleiro do Norte (400 hectares), Mauriti (300
ha), Milagres (305 ha), Boa Viagem (150 ha), Ibicuitinga (130 ha),
Quixeramobim (120 ha), Mombaça (100 ha) e Iguatu (22 ha).
O
cultivo do algodão também ocorre em Acopiara, Várzea Alegre, Quixadá,
Tauá, Limoeiro do Norte, Crato, Brejo Santo, Penaforte, Missão Velha,
Potengi, Altaneira e Barbalha;
O
coordenador do Programa de Modernização do Algodão da Sedet, Euvaldo
Bringel, lembrou que o incentivo ao plantio de algodão resulta de uma
articulação entre instituições públicas e os produtores a partir da
elaboração de “protocolos, realização de seminários, palestras e cultivo
em áreas experimentais, nas regiões do Cariri, Sertão Central e no
Apodi, para demonstrar a viabilidade do algodão no Estado”.
DESAFIO
O
ex-secretário de Agricultura de Iguatu e especialista no cultivo de
algodão, Valdeci Ferreira, disse que o desafio da retomada da
cotonicultura está “no uso de tecnologia, preparo de solo, cultivo e
colheita mecanizada, além de um rigoroso controle de praga, segundo
orientação técnica especializada”.
Ferreira
observou que o plantio feito pelos pequenos agricultores, sem
mecanização, torna-se inviável por causa do elevado custo de
mão-de-obra. “Muitos que plantaram em 2019 e 2020, não voltaram a
cultivar neste ano”, pontuou. “Outra questão é seguir rigorosamente o
controle de praga durante e após a colheita, cumprindo o calendário do
vazio sanitário, para evitar infestação na safra seguinte do bicudo”.
O uso de tecnologia moderna permite uma colheita média superior a 3 mil hectares, apontam os produtores.
“No
passado, a área de cultivo era extensa, mas a produtividade era muito
baixa, em torno de mil quilos por hectare, não havia bicudo e o preço no
mercado externo e interno da fibra era muito favorável, além dos
incentivos bancários e o pagamento do seguro agrícola, praticamente a
cada safra”, analisou Valdeci Ferreira. “Tudo isso mantinha a produção”.
Milhares
de empregos eram gerados no campo e em mais de 150 usinas de
beneficiamento que haviam no Ceará. “A cotonicultura e o ciclo do gado e
do couro movimentaram a economia cearense na segunda metade do século
XX”, lembrou o economista Getúlio Oliveira. “No momento, a retomada do
algodão ainda está restrita, mas se for fortalecida é um passo
importante para ser expandida”.
Bringel
lembra que o Ceará tem vocação para a produção de algodão e observou o
investimento do governo do Estado no Programa de Modernização do
Algodão, cerca de R$1,5 milhão.
Em
Milagres, na região do Cariri, foi formada uma associação com 25
produtores rurais. Neste ano, no total foram cultivados 200 hectares e,
para 2022, a expectativa é de cultivo de uma área de 500 hectares.
“Estamos otimistas e confiantes”, pontuou o produtor José Morais Filho.
O
preço da arroba de algodão passou de R$ 30 para R$ 45 neste ano. O
secretário de Agricultura de Iguatu, Venâncio Vieira, defende que o
plantio seja feito em janeiro e início de fevereiro e justifica: “Vai
permitir uma colheita antecipada e a venda será feita em junho, quando o
preço é mais favorável, porque é o período de entressafra no Mato
Grosso e na Bahia, áreas de larga produção”.