Tem
músicas que conseguem se perpetuar na memória do público de forma
inexplicável. Muitas delas, inclusive, são regravadas por várias vozes e
retornam anos depois de seus lançamentos como “hinos atemporais”.
Exemplo disso é a música “Evidências” de José Augusto e Paulo Sérgio
Valle e conhecida na voz da dupla Chitãozinho E Xororó.
Para
a minha surpresa, ouvi na rádio os cantores Zé Vaqueiro e Xand Avião
cantarem juntos “Meu Mel”, um dos grandes “hits” das paradas de sucesso
nos anos de 1980. A canção doce ficou até com uma nova roupagem
interessante, porém longe ainda da aura de sua primeira interpretação, a
do sempre querido Marquinhos Moura.
O
cantor cearense lançou a faixa no ano de 1987, após já vários discos
gravados e carreira musical em andamento. Aquele pedido quase em tom de
chantagem “fica comigo, meu mel” ganhou o Brasil e até hoje é o cargo
forte do artista, mesmo que outros a tenham gravado.
“Por
onde anda Marquinhos Moura?”, foi a pergunta que me fiz ao saber que seu
mel estava em outras bocas. Felizmente, mesmo que ainda afastado da
grande mídia, encontrei o cearense atuante em suas redes sociais e nas
plataformas de streams. Empolgado, o convidei para uma conversa por
telefone e fui prontamente atendido.
Em
um papo descontraído, o eterno menino Marcus Antonio Sampaio Moura
falou sobre os rumos de sua carreira, projetos atuais, lembranças da
adolescência, ídolos e opiniões. Mais uma vez, o fortalezense se mostrou
ciente da sua trajetória e da responsabilidade de ser artista.
NEM TUDO FOI MEL
Ser
um representante da arte será sempre difícil enquanto o país não
valorizar a cultura, muitos vão além do saber disso e sentem na pele
essa dor. Markinhos foi um desses, desde muito cedo foi castrado de tal
vontade dentro da sua própria casa, a não ser pela avó, no qual o cantor
é eternamente grato. Ainda diante tal rigidez, os caminhos daquela alma
inquieta não poderia ser outra, os palcos.
Praticamente
garoto começou a participar de programas de calouros da capital
cearense, como o dos saudosos apresentadores Irapuan Lima e Augusto
Borges. Tal talento o levou também ao teatro universitário, na minha
visão ponto fundamental para a construção da personificação do artista.
“Sou
muito grato ao Fernando Neri e Eurico Bivar, foram os primeiros
compositores que interpretei e foram fundamentais no meu início e na
minha vida”, rememorou Markinhos. As referências na rádio também foram
fundamentais nesse processo, seu ouvido era atento para inspirações como
Ângela Maria, Moacyr Franco, Cauby Peixoto e Agnaldo Timóteo.
Aos
poucos, mesclando música e teatro, rádio e televisão, popular e
sofisticado, o cearense foi moldando a voz e formando sua própria
identidade. Dois cantores seriam fundamentais para essa formação,
ninguém menos que Ney Matogrosso e Elis Regina.