O
número de inscritos do Ceará para o Exame Nacional do Ensino Médio
(Enem) deste ano caiu 25,2% em relação à última edição do exame, em
2020. A queda acompanha a conjuntura nacional e pode estar atrelada à
Covid-19. Segundo o Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (Inep), que aplica o Enem, houve redução de 29,5% nas
inscrições em todo o País.
A
baixa, conforme especialistas consultados pelo Diário do Nordeste, pode
ter acontecido em razão dos prejuízos à aprendizagem provocados pelas
aulas remotas, da quebra de vínculo dos estudantes com as escolas e da
decisão do Governo Federal de não bancar a isenção de quem faltou à
edição de 2020.
“Os
estudantes que fazem o exame são, em sua maioria, das classes C, D e E,
que vêm de escola pública. Ano passado, muitos deixaram de fazer a
prova por receio da pandemia, da situação sanitária. E essa decisão do
MEC [Ministério da Educação] de não dar isenção deve ter excluído muita
gente que não consegue realizar a avaliação sem a isenção”, observa
Lucas Hoogerbrugger, líder de Relações Governamentais do movimento Todos
pela Educação.
No
entanto, ele lembra que, no campo de justificativas para não comparecer
à prova, não havia nada relacionado especificamente à situação
sanitária. “As justificativas eram doenças e outros tipos de
imprevisto”, cita o especialista.
No
Ceará, o Governo Estadual sancionou lei que assegura a isenção a
estudantes e egressos da rede pública estadual que, devido à pandemia,
não prestaram o Enem em 2020 e tiveram seus pedidos negados pela gestão
federal.
“Tentamos
fazer um apelo ao Ministério da Educação para que garantisse a isenção
não só no Ceará, mas no Brasil inteiro. Como não foi garantido, mandamos
uma lei para a Assembleia Legislativa garantindo o pagamento”, disse, à
época da sanção, no último 6 de julho, o governador Camilo Santana.
No
entanto, ainda preocupa a situação sanitária, especialmente para evitar
que haja outras abstenções no exame este ano. “Ano passado, muitos
deixaram de fazer a prova porque estavam com medo das condições
sanitárias e, de fato, quando foram verificar os espaços, tinha salas
superlotadas, sem ventilação cruzada, aglomerações na entrada”, enumera
Hoogerbrugger.
DECISÃO DE ESPERAR
Outro
fator apontado pelo consultor educacional Rogers Mendes para a redução
nas inscrições é a decisão pessoal de candidatos que, devido às aulas
remotas, não se sentem preparados para se submeter ao Enem este ano ou
mesmo que preferem aguardar a situação sanitária no País melhorar.
Sobre
outro possível cenário de grandes abstenções, Mendes diz que não é
possível cravar nenhuma projeção, visto que vai depender do cenário de
casos, internações e óbitos causados pela Covid-19 no momento do exame.
“Tem um vai e volta nas tensões da pandemia”, lembra o especialista.