terça-feira, 13 de julho de 2021

A cada meia hora, uma mulher denuncia violência doméstica no Ceará em 2021


Por 19 anos, Veruska Rabelo, de 39, sobreviveu respirando medo. Passou quase metade da vida sob violência psicológica do então ex-marido, até conseguir se juntar à média de 1.500 mulheres que denunciam violência doméstica no Ceará por mês.

As estatísticas, mesmo borradas pela subnotificação, assombram: a cada 1h, duas mulheres denunciaram os agressores às autoridades do Ceará, em 2021. De janeiro a junho, foram 8.960 vítimas nos registros da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS).


Muitas, porém, não chegam a compor esses dados. Não têm vídeos explícitos provando a violência perturbadora que sofrem, como tinha Pamella Holanda, agredida pelo ex-marido, Iverson de Souza Araújo, o DJ Ivis, 30.

Veruska, por exemplo, vivia a violência em silêncio. O receio e as dependências financeira e emocional que a ligavam ao agressor prolongaram as agressões psicológicas – cujos primeiros indícios foram vistos já no início do relacionamento.

"Eu tinha um relógio que meu ex tinha me dado, e ele não queria que eu usasse. Quis voltar a estudar, ele disse que não precisava. Não gostava que eu conversasse com o meu pai, eu não podia ir ao mercantil, atender uma ligação, ter contato com o mundo", desabafa.

A tentativa de controle piorou ao longo dos anos, como relembra Veruska, que “sequer podia escolher o sabor da pizza que ia comer”. Mas preocupação com o que as pessoas pensariam de uma separação, principalmente as da igreja que frequentava, a imobilizavam.

Eu não tinha coragem de tomar atitude. Ele dizia que eu não tinha opção, e durante muitos anos acreditei. Eu tinha muito medo de tudo. De quebrar a cara, de não conseguir ajuda. Mas eu tinha muito claro que eu não queria mais ele.

O ciclo violento, que muitas vezes se aproximou de agressões físicas, teve fim em abril deste ano, quando Veruska solicitou medida protetiva à Justiça e o ex-marido foi obrigado a sair de casa e proibido de se aproximar dela por quaisquer meios, inclusive online.

Em novembro de 2020 e março deste ano, ela já havia registrado outras duas denúncias na Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) – mas voltava atrás quanto à expulsão do agressor de casa.

Eu não achava que eu seria capaz, que eu teria forças. Eu tinha medo até de pensar. Fui até o meu limite. Mas a cada etapa eu me fortalecia mais. Hoje eu me sinto mais forte, sei que sou capaz.

Com informações do Diário do Nordeste.