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A
tendência positiva da redução de óbitos pela Covid-19, vivenciada em
Fortaleza no período entre maio e outubro do ano passado, já ficou para
trás. Desde novembro, a Capital passou a registrar uma elevação no
número mortes mês a mês. Os dados foram confirmados pela plataforma
IntegraSUS, mantida pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesa).
Ainda
em 2020, o menor número mensal de mortes havia sido contabilizado em
outubro, quando 43 pacientes vieram a óbito pela infecção na cidade. No
mês seguinte, a quantidade saltou para 90. O ritmo crescente se manteve
em dezembro – com 159 mortes – e em janeiro de 2021, chegando a 170, um
aumento de aproximadamente 295,3% em três meses.
Por
trás dos números, permanecem as vidas que convivem com a perda. Na
família da autônoma Thassia Cristine Rodrigues, a lembrança remete ao
seu marido Juan Ignacio, que faleceu no último dia 31 de janeiro aos 42
anos. Ela conta que, a princípio, a esperança era de que ele se
recuperasse rápido, já que o único sintoma que notou foi a falta de ar e
logo começou a tomar os medicamentos recomendados.
Nos
primeiros dias, o quadro de Juan era estável. A pior se deu depois, aos
poucos, até ser necessária a internação em um leito de Unidade de
Terapia Intensiva (UTI). “Ele precisou ficar lá, sempre em alerta de que
a qualquer momento ele poderia ser intubado. Com três dias de UTI, ele
precisou ser intubado, foi em uma quinta ou sexta-feira, se não me
engano. No domingo, ele faleceu”, lembra Thassia.
Nesse
curto período, ainda na madrugada de sábado, Juan teve uma queda brusca
de pressão, e seu quadro foi estabilizado logo em seguida. Ele convivia
com a obesidade. “Quando foi no domingo, por volta de 11h, a gente
recebeu a notícia de que ele teve uma pneumonia e falência dos órgãos.
Aconteceu tudo muito rápido”, lamenta.
“Talvez
se ele tivesse com menos peso, poderia reverter. Mas essa doença tá aí
pra desfazer o que os médicos falam. Não é só idoso e obeso que morre,
ela tá aí pra qualquer pessoa”, afirma a autônoma. Ela acredita que, de
agora em diante, o que pode fazer é redobrar os cuidados para evitar que
a infecção acometa qualquer outra pessoa mais próxima.
“Além
da dor, o sentimento é de tristeza. Porque a gente não pôde fazer nada.
Muitas pessoas ofereceram ajuda, mas infelizmente a gente não pode
fazer nada. É um sentimento de invalidez, e só quem sabe é a família”,
conclui.
Descumprimento de medidas sanitárias
O
cenário atual de Fortaleza é resultado de uma série de descumprimentos
de medidas sanitárias, além da chegada de novas variantes do coronavírus
ao Estado, conforme avalia o virologista Mário Oliveira. Segundo ele, o
panorama começou a ser traçado em dezembro do ano passado, com as
festas de fim de ano e as frequentes aglomerações – notadamente sem o
uso de máscaras.
“Nessa
parte de aglomeração, nós estamos vendo agora a problemática. Aumento
no número de casos, aumento de mortes e de hospitalizações, e também já
iniciou uma segunda onda e as novas variantes do coronavírus estão
aparecendo. Então não tem como não ter esses aumentos, porque o vírus
nunca vai deixar de circular, de um número maior, enquanto as pessoas
continuarem se aglomerando, principalmente sem máscara”, detalha o
médico.
Próximo do colapso
Oliveira
reforça que os profissionais da saúde continuam trabalhando
exaustivamente, e que o sistema está próximo de entrar em colapso.
“Temos aí mais de 80% das UTIs já comprometidas em vários Estados, acima
do normal. A população não caiu na real, a vacinação está um pouco
atrasada, então o sistema de saúde alguma hora não aguenta. Ele vai
colapsar de verdade, principalmente com esse aumento no número de casos
e, infelizmente, de óbitos”, diz.