A apresentadora Fátima Bernardes, 58, foi acometida pelo câncer de endométrio, também chamado de corpo do útero. Ele é um tipo mais raro, encontrado em menos de 3% das 316.280 mulheres brasileiras que receberam diagnóstico de câncer neste ano, segundo dados do Inca (Instituto Nacional do Câncer).
Fátima descobriu a doença em estágio inicial. Passou por uma cirurgia neste domingo (6) e deve receber alta na tarde desta segunda (7). Após a cirurgia, os médicos devem fazer uma análise do caso para saber se é preciso iniciar algum tratamento, além do procedimento de retirada do tumor.
A reportagem conversou com a ginecologista oncológica Vivian Sartorelli, do Instituto Brasileiro de Controle do Câncer, e com o urologista Marcelo Bendhack, especialista pela Sociedade Brasileira de Urologia, para explicar as diferenças entre os dois tipos de câncer no útero.
Quais as principais diferenças entre o câncer de colo de útero e o câncer de endométrio?
O câncer do colo do útero ocorre na parte mais inferior do útero,
enquanto o câncer de endométrio começa no revestimento interno do útero.
O câncer de colo uterino é causado pelo HPV vírus do tipo oncogênico
(principais sorotipos 16 e 18), já o de endométrio (camada que reveste a
parte interna do corpo uterino) é decorrente do espessamento dessa
camada por hiperplasia (crescimento celular anormal), na sua grande
maioria por estímulo hormonal.
O câncer de endométrio é raro?
Não é tão raro. Ele passa muitas vezes despercebido por falta de
diagnóstico, pois o sintoma mais comum é o sangramento via vaginal,
confundido com ciclos irregulares em mulheres ainda férteis. O câncer de
endométrio é a sétima causa de câncer entre as mulheres, sendo a
terceira específica do sexo feminino. O primeiro é o de mama, e o
segundo, do colo de útero.
Pode acometer qualquer faixa etária, mas é mais comum em mulheres na
pós-menopausa, cujo principal sintoma é o sangramento uterino anormal ou
sangramento após menopausa. Muitas vezes o diagnóstico é feito em
estágios iniciais, o que possibilita tratamento cirúrgico com alta taxa
de cura.
Quais os tratamentos? Pode afetar a fertilidade feminina?
O tratamento é baseado no estágio da doença. Em estágios iniciais é
realizado a retirada cirúrgica do corpo e colo uterino (histerectomia).
Em alguns casos selecionados para pacientes que desejam preservar a
fertilidade é possível a retirada cirúrgica do colo uterino
(traquelectomia) para câncer de colo e a retirada cirúrgica da camada
interna do corpo útero através de histeroscopia, quando o tumor de
endométrio está superficial ou restrito a um pólipo e assim
consequentemente preservação da fertilidade feminina. Vale enfatizar que
vários tipos de câncer têm tratamentos específicos e muito eficientes.
O que acontece após a cirurgia?
Após novos exames, o médico deve definir se é preciso fazer um
tratamento complementar, como radioterapia ou quimioterapia. É avaliado,
ainda, se houve comprometimento de alguma outra estrutura como
linfonodos ou vagina. A cirurgia em ambos os casos, mesmo precocemente,
sempre é o melhor tratamento para se tentar resolver o problema. Em
casos mais avançados pode ser complementado com cirurgias mais extensas
com linfadenectomia e quimioterapia adjuvante e até com radioterapia de
raios externos adjuvante. Em casos extremos, quimioterapia e
Radioterapia de raios externos como tratamento paliativos.