
Ainda
antes da pandemia do novo coronavírus, o Ceará já tinha, em 2019, quase
2 milhões de habitantes vivendo abaixo da linha de pobreza. O número
representa cerca de 28,5% do total da população cearense, segundo dados
da Síntese de Indicadores Sociais, levantamento divulgado ontem (12),
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
São
consideradas em situação de pobreza aquelas pessoas com rendimento de
US$ 5,5 por dia, cerca de R$ 436 por mês, conforme definição do Banco
Mundial adotada também pelo IBGE.
O
professor e coordenador do Laboratório de Estudos da Pobreza (LEP) da
Universidade Federal do Ceará (UFC), Vitor Hugo Miro, lembra que o
Estado vinha mantendo uma tendência de redução contínua da pobreza desde
2004, até ser interrompida em 2015 pela recessão econômica que se
abateu sobre o Brasil entre o fim de 2014 e 2016.
"Nos
anos seguintes, de 2017 a 2019, vivenciamos uma recuperação econômica
muito modesta, incapaz de reverter as perdas da recessão. Infelizmente,
características da economia e dos trabalhadores cearenses, como a baixa
escolaridade, os torna mais vulneráveis em momentos de instabilidade
econômica", afirma.
A
pesquisa do IBGE também revela que 76,2% - ou 6,95 milhões - dos
cearenses ganharam até um salário mínimo per capita mensalmente. No ano
passado, o salário mínimo vigente era de R$ 998. Miro aponta que esse
nível de renda é preocupante, tendo em vista que põe as famílias em
situação de vulnerabilidade social.
"Prejudica
o acesso a bens e serviços essenciais como alimentação, moradia e saúde
adequadas. A persistência dessa vulnerabilidade é extremamente
prejudicial e, uma vez que afeta famílias com crianças, pode ter efeitos
também a longo prazo", alerta.
Na
passagem de 2018 para 2019, o contingente de cearenses com ganhos de
até um salário mínimo apresentou leve redução ao ir de 77,4% para 76,2%.
Miro aponta que, apesar das famílias estarem conseguindo elevar a renda
aos poucos, a desigualdade social também tem aumentado.
"Apesar
da recuperação econômica entre 2017 e 2019 se mostrar aquém do
desejado, é possível ver pequenas melhoras no nível de emprego e renda
do trabalho. Mas devemos destacar que essa melhora é uma média, e a
média é bastante influenciada pelos extremos da distribuição de renda.
Considerando os anos entre 2017 e 2019 em conjunto, trabalhadores nos
estratos de renda mais elevada experimentaram ganhos superiores aos dos
trabalhadores mais pobres", ressalta.
Brasil
O
Ceará é ainda o quarto Estado do Nordeste e o sétimo do País com a
maior parcela da população a apresentar rendimentos de até um salário
mínimo, atrás somente do Maranhão (84%), Alagoas (81,5%), Pará (79,1%),
Piauí (78%), Amazonas (77,8%) e Sergipe (76,6%).
Miro
ainda explica que a colocação do Ceará depende também de
características estruturais econômicas, sociais e ambientais. "Temos uma
herança de deficiências no acesso a serviços de saúde, educação,
saneamento, no acesso a crédito e a geração de negócios. Mas isso vem
sendo alterado nas últimas décadas com investimentos em infraestrutura,
no ambiente de negócios e principalmente no acesso e na qualidade da
educação".