A
corrida pela vida levou milhares de cearenses acometidos pela Covid-19 a
buscar unidades de saúde para tratar a síndrome respiratória. Até a
manhã desta sexta-feira (7), foram 21.324 hospitalizações com suspeita
da doença, de acordo com a plataforma IntegraSUS, da Secretaria Estadual
da Saúde (Sesa). No entanto, nem sempre o acolhimento hospitalar evolui
para cura: ainda de acordo com a plataforma, quase metade dos
internados com confirmação da doença veio a óbito.
Até
ontem, 9.677 pessoas com diagnóstico positivo para Covid-19 foram
hospitalizadas em unidades de saúde. Destas, 4.730 faleceram, indicando
uma taxa de letalidade de 48,9%, segundo o IntegraSUS. Outras 5.151
pessoas - representando os demais 51,1% - foram consideradas recuperadas
da doença pelos profissionais de saúde responsáveis. Além delas, 10.611
pacientes internados seguem com diagnóstico pendente.
Em
Fortaleza, a letalidade entre os hospitalizados, de 46,3%, se aproxima
da média do Estado. Dos 5.497 internados com confirmação, 2.543 vieram a
óbito. Outros 3.066 se recuperaram da doença. Em Caucaia, a letalidade
nesses casos chegou a 60%. Em Juazeiro do Norte, está em 54,4%; em
Sobral, fica em 48,1% e, em Maracanaú, 44,1%.
Internações
De
acordo com o infectologista do Hospital São José, Keny Colares, é
necessário diferenciar a hospitalização em relação aos leitos da Unidade
de Terapia Intensiva (UTI) e da enfermagem.
“Os
pacientes menos graves estão na enfermagem e os com mais riscos estão
em UTIs. Nesta última, o que tem acontecido no mundo todo é a
mortalidade entre 40% a 50%, exatamente como os dados daqui. Já na
enfermaria, a mortalidade é para ser menor”, ressalta.
Somados
todos os leitos, o especialista considera que a taxa de letalidade
(48,9%) é alta. “Como não tem a proporção de quem esteve na UTI e quem
esteve em leitos normais, essa taxa pode estar bastante elevada”,
aponta. “Certamente, essa taxa significa a debilidade no nosso sistema
de saúde, que operou acima da capacidade. É justamente o que essa doença
causa: o colapso no sistema de saúde”, acrescenta.
O
médico também pontua que muitos pacientes deixaram para procurar a
unidade de saúde já em estado crítico. “Muita gente faleceu em casa ou
deixou pra ir ao hospital em situação muito grave, o que diminui as
chances de melhora”, observa.
“É
importante ressaltar a gravidade da doença. A infecção afeta mais os
grupos de risco e a chance dessas pessoas já diminui, mesmo com todos os
cuidados que ela receba”, alerta o infectologista.
Hipóteses
Na
última quarta (5), durante apresentação do segundo inquérito de
soroprevalência de Fortaleza, a secretária-executiva de Vigilância e
Regulação da Sesa, Magda Almeida, levantou algumas hipóteses para a taxa
de mortalidade em Fortaleza. A principal delas é a ação de uma cepa
(linhagem) específica do vírus restrita ao Ceará, identificada por
pesquisadores da Universidade de Oxford, no Reino Unido.
Uma
das suspeitas é que essa cepa seja mais agressiva que as demais. “Foi a
mesma que aparentemente causou grande mortalidade na Itália e pode ter
virulência um pouco diferente das que chegaram em São Paulo e Rio de
Janeiro”, observa Magda.
Outro
fator levantado pela secretária-executiva foi a intensa competição
internacional por equipamentos de internação, já que a epidemia em
Fortaleza coincidiu com momentos semelhantes na Europa e nos Estados
Unidos.
“Apesar
de todo o nosso planejamento, houve um atraso importante na chegada dos
respiradores da China, e isso provavelmente contribuiu para mortalidade
maior do que a gente esperava”, reconhece. Contudo, ela pensa que a
taxa alta também reflete uma política mais eficiente de vigilância em
saúde. “Praticamente todos os óbitos têm sido analisados com exame de
biologia molecular. Não temos muitos a esclarecer no Ceará,
principalmente em Fortaleza”, frisa.