O Governo do Ceará determinou ontem (4) que Fortaleza
passa, a partir de segunda-feira (6), para a fase 3 do Plano de Retomada
Responsável das Atividades Econômicas. No entanto, o avanço excluiu a
reabertura de bares e barracas de praia, além do funcionamento de
restaurantes no período noturno, que estavam previstos inicialmente na
fase 3.
Nesse novo momento, a principal mudança para o setor produtivo é o
funcionamento da indústria e do comércio de cadeias que já estavam total
ou parcialmente liberadas na Capital com 100% do efetivo. Outras
novidades são a autorização para a prática de esportes individuais em
espaços públicos, como praias e parques, e o retorno do transporte
intermunicipal no dia 10 de julho - com protocolo que inclui a medição
de temperatura, uso de máscaras e proibição de passageiros viajando em
pé nos veículos.
Ao justificar a decisão de decretar um avanço mais restrito que o
inicialmente planejado, o governador Camilo Santana destacou que o
objetivo é evitar o aumento de casos na Capital.
"As restrições de não abrirem ainda bares, restaurantes à noite e barracas de praia continuam sendo avaliadas. Isso para não acontecer aqui o que aconteceu em muitos países que reabriram e fecharam novamente", comentou no anúncio ontem (4).
O prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, reforçou o impacto
econômico da decisão. "Esse decreto vai permitir um aumento do volume
das atividades, vai representar mais empregos sendo gerados a partir da
próxima semana".
Para o secretário do Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet),
Maia Júnior, o mais importante neste momento é não retroceder a abertura
da economia às fases anteriores. "Praticamente 100% das atividades
estarão reabertas, com exceção de alguns serviços. A cadeia de turismo
está na fase 4, e não na 3, porque ela tem o poder de aglomeração, e o
risco sanitário é maior", afirma o secretário, destacando que bares e
barracas de praia deverão retornar apenas na fase 4.
O secretário executivo de Planejamento e Orçamento da Secretaria do
Planejamento (Seplag), Flávio Ataliba, destacou ainda que a decisão
levou em conta o comportamento dos índices de disseminação do
coronavírus na Capital. "O problema é que nos últimos dias, 30, 1º e 2,
houve um repique nas taxas de internação de UTI e enfermaria", pontuou
Ataliba.
Bares e restaurantes
A decisão pegou os empresários do segmento de surpresa. O presidente
da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-CE), Rodolphe
Trindade, afirmou que a medida é um retrocesso e que afeta diretamente
muitos estabelecimentos que se preparavam para a reabertura.
"A gente achou a decisão um absurdo. As metas para fazermos a retomada econômica foram batidas, como redução de casos de Covid-19 e de óbitos. Não vejo porque ter esse retrocesso. Foi uma canetada de última hora e é uma situação que a gente vai ter que enfrentar. Cerca de 30% do setor já fechou e não volta mais", desabafa.
Ele acredita ainda que a decisão do Governo foi influenciada pelas
imagens divulgadas na última semana de aglomerações nas calçadas de
bares e restaurantes no Rio de Janeiro.
"Foi medo após as imagens de pessoas nas portas dos restaurantes no
Rio. A gente tem que ter responsabilidade, ter os cuidados, mas a
economia tem que girar. É momento de fazer essa retomada", cobrou o
presidente da Abrasel, ressaltando que a capacidade dos estabelecimentos
é restrita a 50% do total.
Além de Fortaleza, com a entrada de outras cidades da macrorregião de
saúde da Capital na fase 2, os restaurantes também poderão reabrir as
portas com horário reduzido. O presidente da Abrasel, porém, afirmou que
muitos estabelecimentos já estavam abertos antes do decreto de ontem.
"De fato, a maioria dos lugares está aberto porque não houve
fiscalização".
Setor produtivo
Para o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e
Turismo do Estado do Ceará (Fecomércio-CE), Maurício Filizola, mesmo que
a entrada da Capital na fase 3 possibilitando o retorno completo do
comércio seja positiva, deve ser tratada com cautela.
Ele apontou para o fato da pandemia ainda persistir no Estado. Por
conta disso, ele reforçou o foco das empresas que estarão voltando a
operar com 100% da capacidade em manter a aplicação dos protocolos de
segurança e saúde, para que não haja retrocesso.
"O que nós temos que observar é que ainda tem o vírus circundando e algumas regiões estão com um situação preocupante. Fortaleza tem uma situação mais tranquila, mas temos de permanecer nos empenhando nos protocolos", diz.
O presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Ceará
(FCDL), Freitas Cordeiro, destacou que essa espera é relativa ao
comportamento do consumidor, que será fator determinante para reabertura
total das empresas.
"Será que essas empresas têm capacidade de voltar 100%? Elas têm
demanda para isso? Por mais que você libere, ela ficou reduzida na sua
capacidade. Alguns vão sair bem e outros com sequelas, a extensão dessas
sequelas é difícil de prever", comenta o presidente da FCDL.
Já o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará
(Fiec), Ricardo Cavalcante, por outro lado, ponderou que a retomada da
indústria deverá demorar um pouco mais, estando condicionada a entrada
de todo o Estado na fase 3. "Apenas aí é que a indústria cearense estará
integralmente em atividade", destacou ele.