O presidente Jair Bolsonaro aceitou nesta terça-feira, 30, a carta de demissão de Carlos Alberto Decotelli, nomeado ministro da Educação
na semana passada. Depois de seu currículo ter sido questionado por
universidades estrangeiras e pela Fundação Getulio Vargas, o governo
pediu que o economista deixasse o cargo para qual nem chegou a ser
empossado. Ele ficou cinco dias como ministro da Educação, o terceiro de
Bolsonaro em 1 ano e meio de governo.
O secretário-executivo do MEC, Antonio Vogel, também foi à sede do
Executivo, mas negou que estivesse indo falar com o presidente. O
governo não anunciou ainda o subsituto de Decotelli e analisa vários
nomes.
Apesar de a nomeação ter sido publicada em Diário Oficial da União na
quinta-feira, 25, Decotelli ainda não tinha poder para despachar. Ele já
frequantava o MEC e preparava mudanças na pasta, mas, oficialmente, os
atos só teriam validade após a assinatura do termo de posse. A cerimônia
estava prevista para esta terça-feira, mas foi cancelada na segunda
após a revelação de inconsistências no currículo do ministro.
A gota d’água foi a nota da Fundação Getulio Vargas (FGV), divulgada na
noite de segunda-feira, informando que Decotelli não foi pesquisador ou
professor da instituição. O presidente Jair Bolsonaro ficou irritado ao
saber de mais uma incoêrencia no currículo do indicado, que já teve
doutorado e pós-doutorado questionados por universidades estrangeiras e é
acusado de plágio no mestrado.
O governo então passou a pressioná-lo para que apresentasse uma carta
de demissão. Segundo o Estadão apurou, Decotelli perdeu o apoio do grupo
militar que o indicou ao governo. A nota da FGV dizia que Decotelli
cursou mestrado na FGV, concluído em 2008. "Prof. Decotelli atuou apenas
nos cursos de educação continuada, nos programas de formação de
executivos e não como professor de qualquer uma das escolas da
Fundação", completa o texto.
A situação é comum na instituição em cursos com esse perfil,
professores são chamados como pessoa jurídica e atuam apenas em cursos
específicos. Isso quer dizer que ele não faz parte do corpo docente da
instituição, mas foi apenas professor colaborador. Entre os nomes que
estão sendo indicados a Bolsonaro para substituir Decotelli está o de
Antonio Freitas, defendido pelo mesmo grupo militar e pelo dono da
Unisa, Antonio Veronezi, que tem exercido grande influência no governo.
Ele é professor titular de Engenharia de Produção da Universidade
Federal Fluminense (UFF) e membro do Conselho Nacional de Educação
(CNE).
Na profusão de nomes sendo indicados surgiu também o de Gilberto
Gonçalves Garcia, que tem formação em filosofia e foi reitor de várias
universidades privadas. Outro nome que surgiu foi o de Marcus Vinícius
Rodrigues, que foi presidente do Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais (Inep/MEC) na gestão de Ricardo Velez. Ele é
engenheiro e ligado ao mesmo grupo militar de Decotelli. Rodrigues
deixou o Inep depois de desentendimento com o grupo ligado a Olavo de
Carvalho.
Além dele, o evangélico Benedito Guimarães Aguiar Neto, que foi reitor
da Universidade Presbiteriana Mackenzie e hoje é presidente da Capes, no
MEC, também é defendido por Veronezi. Correndo por fora está o atual
reitor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Anderson Correa,
que foi presidente da Capes já no governo Bolsonaro.
A preocupação dos militares e de educadores é que integrantes ligados a
Olavo de Carvalho agora tenham argumentos para indicar um nome que
prevaleça. O deputado Eduardo Bolsonaro teria sugerido Sérgio Sant'ana,
ex-assessor especial de Abraham Weintraub e ligado a olavistas do
governo. O nome de Ilona Becskehazy, que é a atual secretária de
Educação Básica no MEC, também está sendo defendido por grupos
considerados ideológicos.
Na segunda-feira, o presidente chamou Decotelli para uma conversa e
postou nas redes sociais que o economista estava sendo vítima de
críticas para desmoralizá-lo. Mas deu um recado: "O Sr. Decotelli não
pretende ser um problema para a sua pasta (Governo), bem como, está
ciente de seu equívoco." E não indicou que haveria posse, anteriormente
marcada para esta terça. Decotelli saiu da reunião dizendo que era o
ministro da Educação.
Segundo fontes, no entanto, o fato de Decotelli ser contestado agora
por uma instituição do País o fragilizou. Na semana passada, ele foi
questionado por Franco Bartolacci, reitor da Universidade Nacional de
Rosário, que disse que ele não conclui o doutorado. Nesta segunda, a
Universidade de Wuppertal, na Alemanha, também afirmou que ele não fez
pós-doutorado na instituição. Decotelli mudou seu currículo na
plataforma Lattes depois dos questionamentos.