Depois de o Congresso aprovar projeto do governo
que autoriza reajustes às polícias do Distrito Federal, o presidente
Jair Bolsonaro disse que "não tem cabimento" o funcionalismo
querer aumento salarial no momento em que o "Brasil está quebrando" e
há risco até mesmo de faltar dinheiro para os pagamentos em decorrência
da crise econômica causada pela pandemia do novo coronavírus.
"Vai faltar dinheiro para pagar servidor público. E tem servidor que
quer ter a possibilidade de ter aumento neste ano e ano que vem. Não tem
cabimento, não tem dinheiro", disse Bolsonaro, que tem até 27 de maio
para sancionar a lei que autoriza o repasse direto de R$ 60 bilhões aos Estados e municípios
e cumprir a promessa feita ao ministro da Economia, Paulo Guedes, de
barrar a possibilidade de reajustes ao funcionalismo até o fim de 2021.
Essa é uma das contrapartidas exigidas pela equipe econômica a
governadores e prefeitos em troca da ajuda federal.
"O Brasil está quebrando. E depois de quebrar não é
como alguns dizem a economia recupera. Não recupera. Vamos ser fadados a
viver um país de miseráveis, como alguns países da África subsaariana",
disse Bolsonaro nesta quinta-feira.
Ao falar com os jornalistas, o presidente usava uma máscara
da Polícia Militar do Distrito Federal. Ao lado dele, também com
máscara da PM do DF, estava o titular da Secretaria-Geral, ministro
Jorge Oliveira, que é da reserva da PM do DF e também será beneficiado
com o aumento.
Como o jornal O Estado de S. Paulo e Broadcast (sistema de notícias
em tempo real do Grupo Estado) mostraram, o presidente segura os vetos à
possibilidade de aumento para servidores públicos para atender ao pedido do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), de conceder reajustes de 8% a 25% aos policiais militares e civis do DF.
Na noite de quarta-feira, 13, deputados e senadores aprovaram o projeto de lei do Congresso Nacional que autoriza a recomposição salarial das polícias do DF,
pago com dinheiro da União pelo Fundo Constitucional do DF. O custo
estimado é de R$ 505 milhões por ano. O texto agora depende da sanção do
presidente.
O presidente diz agora que vai vetar a blindagem feita pelo Congresso
a uma série de categorias, que continuaram tendo permissão para ter reajustes até 2021.
No entanto, como mostrou o Estadão/Broadcast, o projeto foi aprovado
com o aval do próprio presidente, que deu autorização para poupar as
carreiras principalmente as de segurança, mesmo atropelando a orientação
do ministro da Economia.
Após a votação, Bolsonaro mudou de postura e fez promessas públicas,
ao lado de Guedes, para vetar a lista de categorias que ficariam de
fora do congelamento de salários. Para cumprir com a promessa, o
presidente terá de rejeitar o aumento para todas as categorias, pois as
flexibilizações constam todas em um único parágrafo do artigo 8º do
projeto.
No projeto, foram poupados do congelamento
servidores da área de saúde (como médicos e enfermeiros), policiais
militares, bombeiros, guardas municipais, policiais federais, policiais
rodoviários federais, trabalhadores de limpeza urbana, de assistência
social, agentes socioeducativos, técnicos e peritos criminais,
professores da rede pública federal, estadual e municipal, além de
integrantes das Forças Armadas.
Apelo a governadores
A menção do presidente aos servidores públicos foi feita quando ele
mais uma vez criticou medidas de isolamento que foram adotadas por
governadores e prefeitos durante a pandemia do coronavírus. Bolsonaro
disse que os chefes dos executivos estaduais e municipais deveriam se
desculpar e fez um apelo para que eles revejam a política de
distanciamento social, recomendada pelas autoridades sanitárias como
forma de evitar o colapso do sistema hospitalar.
"O apelo que faço aos governadores. Reveja essa política, eu estou
pronto para conversar. Vamos preservar vida? Vamos. Mas o preço lá na
frente serão centenas demais de vida que vão perder por causa dessas
medidas absurdas de fechar tudo", disse afirmando que governadores e
prefeitos deveriam "se desculpar e fazer a coisa certa."
Bolsonaro criticou o lockdown , o isolamento total, dizendo que a
medida é o "caminho do fracasso". "O Brasil está se tornando um país de
pobre. O que eu falava lá atrás que era esculachado, estão vendo a
realidade agora aí para onde está indo o Brasil. Vai se chegar a um
ponto que o caos vai se fazer presente aqui. Essa história de lockdown,
vão fechar tudo, não é esse o caminho. Esse é o caminho do fracasso,
quebrar o Brasil", disse.