
A razão é o tratamento dispensado aos que se tornaram
ex-escravos no País. “Naquele momento, faltou criar as condições para
que a população negra pudesse ter um tipo de inserção mais digna na
sociedade”, disse Luiza Bairros, ex-ministra da Secretaria de Políticas
de Promoção da Igualdade Racial (Seppir).
Após o fim da
escravidão, de acordo com o sociólogo Florestan Fernandes (1920-1995),
em sua obra “A integração do negro na sociedade de classes”, de 1964, as
classes dominantes não contribuíram para a inserção dos ex-escravos no
novo formato de trabalho.
“Os senhores foram eximidos da
responsabilidade pela manutenção e segurança dos libertos, sem que o
Estado, a Igreja ou qualquer outra instituição assumisse encargos
especiais, que tivessem por objeto prepará-los para o novo regime de
organização da vida e do trabalho”, diz o texto.
De acordo com a
Bairros, houve, então, um debate sobre a necessidade de prover algum
recurso à população recém-saída da condição de escrava. Esse recurso,
que seria o acesso à terra, importante para que as famílias iniciassem
uma nova vida, não foi concedido aos negros. Mesmo o já precário espaço
no mercado de trabalho que era ocupado por essa população passou a ser
destinado a trabalhadores brancos ou estrangeiros, conforme Luiza
Bairros.
Integrante da União de Negros pela Igualdade (Unegro),
Alexandre Braga explica que “O 13 de maio entrou para o calendário da
história do país, então não tem como negar o fato. Agora, para o
movimento negro, essa data é algo a ser reelaborado, porque houve uma
abolição formal, mas os negros continuaram excluídos do processo
social”.
“Essa
data é, desde o início dos anos 80, considerada pelo movimento negro
como um dia nacional de luta contra o racismo. Exatamente para chamar
atenção da sociedade para mostrar que a abolição legal da escravidão não
garantiu condições reais de participação na sociedade para a população
negra no Brasil”, completou a ex-ministra.
Ela defende, porém, que
as mudanças nesse cenário de exclusão e discriminação estão
acontecendo. “Nos últimos anos, o governo adotou um conjuntos de
políticas sociais que, aliadas à política de valorização do salário
mínimo, criou condições de aumento da renda na população negra”.
Inclusão do negro ainda é meta
O
representante da Unegro cita algumas das expressões do racismo e da
desigualdade, no país: “No Congresso, menos de 9% dos parlamentares são
negros, enquanto que a população que se declara negra, no Brasil, chega a
51%. Estamos vendo também manifestações de racismo nos esportes,
principalmente no futebol. Ainda temos muito a caminhar”.
“Ainda
estamos tentando recuperar a forma traumática como essa abolição
aconteceu, deixando a população negra à sua própria sorte. Como os
negros partiram de um patamar muito baixo, teremos que acelerar esse
processo com ações afirmativas, para que possamos sentir uma diminuição
mais significativa das desigualdades”, explicou Bairros.