sábado, 25 de abril de 2020

Dona de mercadinho em Tianguá é acusada de desviar verbas de auxílio emergencial como "crédito" em compras

Aplicativo da Caixa do auxílio emergencial em razão da crise do coronavírus
Aplicativo da Caixa do auxílio emergencial em razão da crise do coronavírus (Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
Correspondente bancária da Caixa Econômica Federal e proprietária de uma lotérica no distrito de Arapás, no município de Tianguá, uma dona de um mercadinho é acusada de desviar verbas do auxílio emergencial da população para serem usadas como "crédito" em compras no empreendimento dela. A Polícia Civil do Ceará (PCCE) investiga o caso.

De acordo com uma parente de vítima, que terá a identidade preservada, a mulher só realiza o saque do auxílio para moradores do distrito mediante a condição de parte do pagamento ficar como valor em compras no mercadinho. A dona ainda tiraria, segundo o relato, diferentes valores dependendo se o benefício for individual ou para mães chefes de família.

Segundo a fonte, a dona do mercadinho "confisca" R$ 100 do auxílio de R$600 e R$ 200 do pagamento de R$ 1.200. "O dinheiro, segundo ela, era para as pessoas consumirem no mercadinho dela. Tem muita gente revoltada, porque lá é um povoado de maioria de pessoas sem estudo e agricultores. Se a pessoa não aceitar, ela não saca o dinheiro", afirma a denunciante. A dona alega ainda ter feito "um acordo com a Caixa" para legitimar a retenção do dinheiro.

O POVO solicitou posicionamento à Caixa Econômica Federal. O banco afirmou que já iniciou apuração sobre o caso. "Caso seja confirmada a prática descrita, que é ilegal, o estabelecimento poderá receber as penalidades descritas". 

O ponto onde os saques são realizados é a única maneira de os moradores retirarem não só o auxílio emergencial, dado como meio de se manter durante a pandemia do novo coronavírus, mas todos os benefícios de correntistas da Caixa, além de pagamentos de contas. A agência bancária mais próxima fica na sede do município de Tianguá. "Muita gente não tem como pegar transporte e ir para Tianguá", afirma a denunciante, que mora na sede, mas tem parentes no distrito de Arapá.

Boletim de Ocorrência (B.O) foi registrado na última segunda-feira, 20. Por nota, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Estado (SSPDS), afirmou que a Polícia realiza oitivas no intuito de investigar a denúncia.

Constrangimento

A fonte ouvida pelo O POVO afirma que foi à Delegacia Regional de Tianguá pelo menos duas vezes, "indignada" com a situação. Na primeira ida, foi informada de que precisaria de provas. Ela retornou então ao mercadinho com uma parente e diz ter sido vítima de constrangimento.

Uma delas havia ido ao mercadinho para retirar o auxílio de R$ 1.200 e a desculpa do "crédito" em compras apareceu. Ela recebeu um tipo de recibo. Como forma de conseguir um meio de prova, as duas voltaram ao local e tiveram o recibo confiscado pela dona dos empreendimentos.

"Ela tomou o recibo, eu pensei que ela ia pagar o resto do dinheiro e aí o filho dela pegou o recibo e disse que não ia nos devolver. Depois eles expulsaram a gente aos gritos", conta.