Em uma prévia do que deve ser antecipado, o vice-governador Rodrigo
Garcia afirmou que o comércio de rua deve ser o alvo preferencial das
ações, mas apenas em regiões com baixa quantidade de casos de infectados
pelo novo coronavírus.
"O comércio do Brás é diferente do de Moema, e o varejo da capital não
se compara com o de uma cidade pequena do interior", declara Cotait para
reforçar o quanto a ACSP, com 20 associações filiadas e atuação em 15
distritos do estado, poderia contribuir na discussão, mas ela não foi
chamada pelo Governo de SP para opinar.
"Apesar disso, vamos cumprir o que foi determinado, evidentemente, mas
tenho receio de que não se pense nas especificidades de cada região e de
cada município paulista. Cada um tem dificuldades e necessidades
próprias", diz o dirigente.
Ele admite que talvez não seja hora de se estimular a movimentação na
cidade de São Paulo e na região metropolitana, locais mais atingidos do
país pelo avanço da covid-19, com mais de mil mortes. "Alguns
municípios, no entanto, foram pouco afetados e têm condições de voltar,
outros podem esperar, desde que haja uma determinação de quando isso vai
ocorrer."
Representantes do governo estadual e entidades ligadas ao comércio e
indústria traçam na manhã e tarde desta terça-feira (21) os últimos
detalhes do plano que será anunciado amanhã, quarta-feira (22), em
entrevista coletiva.
"Veja só, algumas cidades até hoje não têm um único caso da covid-19 e
mesmo assim foram obrigadas a ficar 30 dias paradas. Isso foi um erro.
Agora, você vai dizer com uma nova canetada que ela tem de reabrir sem
nenhuma estratégia para auxiliar os pequenos e microempresários",
comenta Alfredo Cotait. "E quando o vírus aparecer por ali, vão mandar
todo mundo para casa de novo?"
"Eu defendo que haja incentivos para que esses comerciantes paguem o
aluguel, reponham o estoque e aos poucos voltem à normalidade. Porque
isso não vai acontecer de uma hora para a outra."
Em sua análise, o excesso de informações sobre mortos e novos casos
amedronta os donos de comércios e serviços e pode ter um efeito
secundário de travar a máquina da economia. "Se esse empresário,
desiludido, deixa de pagar o aluguel da loja, por exemplo, o dono do
ponto vai ficar sem quitar uma conta lá na frente e a roda toda do
capitalismo nacional emperra, com efeitos que talvez nunca mais sejam
sanados."
Para Cotait, além de se pensar em abrir lojas e serviços de regiões
específicas uma boa saída seria definir horários alternativos de
funcionamento, para evitar lotações no transporte coletivo.
Ônibus, trens e estações poderiam ter controle de entrada, evitando
aglomerações que potencializem a transmissão do coronavírus.
"Tudo que for funcionar, isso tem que ser reforçado, terá de se adequar
aos novos tempos, com prevenção, usando máscaras, luvas e álcool gel, e
distanciamento.
"Cinema, teatro eu não abriria ainda. Shoppings estimulam a proximidade
e podem ficar para depois, mas as escolas têm de voltar, porque os
trabalhadores não podem ir ao serviço se os filhos estiverem em casa",
opina o dirigente.
Em países como a Dinamarca, a atividade de escolas e creches foi retomada, mas com a obrigação de os alunos ficaram a pelo menos 2 metros de distância nas salas de aula.
Os alunos da Alemanha voltaram às salas de aula para
prestar suas provas finais na segunda-feira (20), quando escolas que
foram fechadas no mês passado para conter a disseminação da epidemia
começaram a reabrir.
A abertura em locais com menor incidência da covid-19 é uma experiência
que estão sendo utilizada pela Finlândia. O país vai encerrar o
isolamento da região de Uusimaa, onde fica a capital Helsinque
A Áustria relaxou medidas de restrição e reabriu parte do comércio,
enquanto Luxemburgo e Portugal já falam em adotar uma volta gradual à
normalidade, respeitando as orientações da OMS (Organização Mundial da
Saúde).
O presidente da ACSP acredita que o ano de 2020 já foi perdido e só pode-se pensar em lucro em 2021.
Cotait defende que o governo antecipe a liberação das lojas de rua para
o dia 1º de Maio. "Seria importante reforçar a importância da economia
no Dia do Trabalho também pela questão psicológica. E, afinal, o que
muda recomeçar dia 1° ou dia 11?", questiona. "Vamos comemorar a data
trabalhando."
"De repente você abre nos lugares que estão em situação mais tranquila
em relaçao à doença, faz os ajustes necessários, observa bem o que
acontece e dia 11 leva a medida para a região metropolitana."
A reabertura é apenas um passo no longo processo, segundo Cotait, para o
reaquecimento da economia. "Os clientes não vão sair comprando, está
todo mundo com medo, em casa, de ficar doente e de perder o emprego.
Normalidade não veremos tão cedo."
A Alshop (Associação Brasileira de Lojistas de Shopping) defende a
reabertura das lojas em horário reduzido, de 12h às 20h, com a adoção de
procedimentos de segurança rígidos recomendados pela OMS (Organização
Mundial de Saúde.
Conforme números da associação, 40 dias de lojas fechadas representam um prejuízo de R$ 20 bilhões em todo o país.
“O que a entidade defende é um planejamento das autoridades, especialmente dos
governos dos Estados e das prefeituras, para a volta gradual às atividades, a partir do início de maio”, explica Nabil Sahyoun, presidente da Alshop.
O executivo lembra que há 105 mil lojas de shopping no país que estão
fechadas em um setor que emprega cerca de 1,5 milhão de pessoas.
Sahyoun concorda com Cotait ao defender ajuda do poder público para as
atividades empresariais. “O setor privado já se organizou no sentido de
tomar providências para flexibilizar aluguéis e reduzir taxas fixas em
um entendimento entre várias entidades, mas sentimos falta de apoio dos
governos, que precisam proteger vidas, mas também a economia, e oferecer
contrapartidas ao apoio da sociedade civil."
Ele sugere a flexibilização de impostos como o ICMS e o IPTU.