Pela primeira vez, o Twitter apagou, na noite
deste domingo (29), postagens feitas pelo presidente Jair Bolsonaro. A
empresa considerou que dois tuítes violavam as regras de uso da rede.
Os posts eram de vídeos do tour que o presidente fez neste domingo no
Distrito Federal, contrariando seu próprio ministro da Saúde, Luiz
Henrique Mandetta, que recomendou que as pessoas ficassem em casa como
medida de enfrentamento ao coronavírus.Nas filmagens, Bolsonaro cita o
uso de cloroquina para o tratamento da doença e fala sobre o isolamento
social.
Em um dos posts, em Taguatinga, ele conversa com trabalhadores
informais, escuta críticas à quarentena, concorda com a cabeça, e diz
que o medicamento está dando certo.No outro, em Sobradinho, o presidente
entra em um açougue, fala com funcionários, projeta o desemprego que o
isolamento social pode causar e, de novo, cita o remédio.
Foi a primeira vez que o Twitter apagou postagens do presidente do
Brasil. Antes dele, apenas tuítes do ditador da Venezuela, Nicolas
Maduro, tinham sido apagados, considerando chefes de Estado.
Na semana passada, como mostrou o Painel, a empresa apagou tuítes do
ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e do senador Flávio Bolsonaro
(Republicanos-RJ), que utilizavam fora de contexto um vídeo antigo do
médico Drauzio Varella sobre a crise do coronavírus.
Procurado, o Twitter enviou seu posicionamento por meio de uma nota.
"O Twitter anunciou recentemente em todo o mundo a expansão de suas
regras para abranger conteúdos que forem eventualmente contra
informações de saúde pública orientadas por fontes oficiais e possam
colocar as pessoas em maior risco de transmitir Covid-19. O detalhamento
da ampliação da nossa abordagem está disponível em nosso blog",
afirmou.
A hidroxicloroquina entrou no debate da pandemia de coronavírus desde
que o presidente americano Donald Trump levantou a possibilidade de o
remédio ser eficaz para a Covid-19, no dia 19 de março. A fala provocou
corrida às farmácias, deixou pacientes sem o medicamento e levou a
Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) a proibir a exportação
e a venda sem receita no Brasil.
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, tem lidado com o assunto
com cautela. "Continuamos com indícios [de eficácia contra o novo
coronavírus]. Foram poucos pacientes, não sabemos se o medicamento foi
decisivo ou não." Ele também pediu para as pessoas não usarem o
medicamento. "Esse medicamento tem efeitos colaterais intensos e não
devem ficar na casa para serem tomados sem orientação médica. Vão fazer
uma série de lesões [se automedicando]. Leiam a bula, não é uma
Dipirona."
Ao mesmo tempo, o Ministério da Saúde anunciou que vai começar a
distribuir 3,4 milhões de unidades de cloroquina e hidroxicloroquina aos
estados para uso em pacientes com quadro grave pelo novo coronavírus em
um protocolo experimental. Nesta quinta (26), o governo federal zerou
as tarifas de importação da cloroquina e da hidroxicloroquina,
originalmente usados por pacientes com malária, lúpus e artrite.
Em relação aos tuítes com vídeo antigo de Drauzio Varella, a gravação
havia sido feita em janeiro e tecia comentários sobre aquele momento da
crise, quando ainda não existiam casos de contaminação de coronavírus
no Brasil. No vídeo de janeiro, o médico dizia que estava levando a vida
normalmente e que não havia motivo para pânico. No entanto, Flávio
Bolsonaro e Salles compartilharam o vídeo nos últimos dias, sem
contexto, levando seus seguidores a acreditarem que Varella estava
comentando a situação atual da crise no país.