O Ceará, até a noite deste sábado (14), não tinha nenhum caso de coronavírus
confirmado. No entanto, a ampliação da ocorrência da doença no Brasil
tem demandado a criação e o fortalecimento das ações de assistência
médica em todos os municípios do País. Esta semana, o Governo do Estado
anunciou medidas para dar suporte às eventuais confirmações da doença.
No Estado, 96 municípios – dentre eles, Fortaleza – carecem de reforço
no atendimento médico nos postos de saúde e enviaram esta demanda ao
Ministério da Saúde. Em resposta, Governo Federal publicou um edital
convocando 442 médicos para atuarem no Programa Mais Médicos, de forma
emergencial, reforçando o atendimento nos postos de saúde à população
cearense durante a pandemia do coronavírus.
Segundo o edital publicado no Diário Oficial da União, quarta-feira
(11), em edição extra, as inscrições devem começar amanhã (16). A
justificativa do Governo Federal é que esse é um programa de provisão
emergencial de médicos e pode ser usado em momentos como esse que o
Brasil está vivenciando.
A expectativa é que os médicos já comecem a atuar nos municípios no
início de abril. A presidente do Conselho das Secretarias Municipais de
Saúde do Ceará (Cosems-CE), Sayonara Cidade, explica que essas são vagas
ociosas do programa e as próprias cidades indicaram a carência.
Conforme o boletim da Sesa divulgado na noite de ontem, no momento,
sete municípios do Ceará têm casos da doença em investigação. São eles:
Fortaleza, Aquiraz, Caucaia, Camocim, Crato, Itapipoca e Tamboril.
Questionada sobre a atual estrutura dos municípios para atenderem
pacientes com possíveis casos de coronavírus, Sayonara avalia que
“nenhum serviço de saúde está preparado para uma situação como essa. O
número de pessoas que vai para internação não é muito grande. Mas, mesmo
assim é preciso que a gente tenha suporte e também contrate possíveis
leitos. E necessário um trabalho de retaguarda”.
Dentre as demandas apresentadas pelas próprias cidade, a Capital
precisa de 155 médicos, Itapipoca com necessidade de 14 profissionais
vem em segundo, seguido por Horizonte (11), Pacajus (11), Cascavel (9),
Maracanaú (9) e Barbalha, Maranguape e Viçosa do Ceará com demanda por 7
médicos cada. Na convocação, o Ministério da Saúde disponibiliza
recursos para contratar justamente as quantidades solicitadas pelos
municípios.
Estrutura
A representante do Cosems-CE explica ainda que além desse incremento
de assistência nas unidades básicas é preciso garantir os insumos para
que os profissionais possam atuar, como equipamentos de proteção para
boca e nariz. A expectativa, segundo ela, é que os recursos anunciados
pelo Governo do Estado, esta semana, possam subsidiar também os
municípios nesse sentido.
Sayonara ressalta que todos os municípios devem fazer o Plano de
Contingência, pois há uma declaração emergência em saúde pública em
vigor. “Cada um tem que traçar suas estratégias em consonância com o
plano federal e estadual”. Na terça-feira (17), haverá uma reunião com
as entidades como Cosems-CE e Associação dos Municípios do Estado do
Ceará (Aprece) para que seja reforçada a responsabilidade de cada cidade
no combate ao coronavíru s.
O avanço da Covid-19 em território nacional fez com que a Sesa
anunciasse, na semana passada, ações emergenciais. A estratégia mais
recente da Pasta foi requisitar um hospital particular para uso público.
Outra medida foi a expansão de 230 leitos na Capital e mais 150 nos
hospitais regionais de Sobral, Quixeramobim e Juazeiro do Norte.
Contudo, na avaliação do presidente do Sindicato dos Médicos do
Ceará, Edmar Fernandes, as alternativas projetadas “não têm efeito
prático”. Segundo ele, a rede de atenção enfrenta atualmente a
superlotação de pacientes internados por ocasião de doenças sazonais,
típicas da quadra chuvosa. Mesmo com a inserção de novos leitos a
situação pode permanecer aquém da demanda. “Considerando que os nossos
hospitais estão todos sobrecarregados, a gente já imagina que capacidade
para absorver mais, não tem”, pondera ele.
O médico defende a necessidade de restringir os pacientes que
regressarem de locais afetados com o vírus. “Poderia determinar um local
fechado, um galpão, que ainda não existe aqui no Ceará”, sugere. Em
caso de avanço da doença, ele opina uma prévia articulação das unidades
de saúde para desafogar os leitos. “Se a gente conseguisse, numa ação
conjunta, que todos os gestores diminuíssem o tempo de internação de
pacientes, que já estão para liberar leitos, e conseguir absorver os
novos”.
Por outro lado, o infectologista Robério Leite considera que as
medidas anunciadas representam uma “grande mobilização” das autoridades
de saúde pública do Estado. A contaminação por um novo vírus, justifica,
se torna uma “situação desafiadora”, mas o planejamento para
identificação precoce de casos evita a rápida contaminação.
Sobre a chegada de novos médicos ao Ceará, o especialista ressalta a necessidade da contratação de mais profissionais para as equipes de saúde. “O médico coordena as ações de diagnóstico e terapia que precisam ser executadas em todos os níveis. Esse aumento de profissionais deve ser acompanhado de técnicos e enfermeiros”, pontua.
Solicitação de médicos
Fortaleza pediu a contratação de 155 médicos, Itapipoca (14), Horizonte (11), Pacajus (11), Cascavel (9), Maracanaú (9), Barbalha (7), Maranguape (7) e Viçosa do Ceará (7). Pacatuba, Quixeramobim e Tauá solicitaram 6 médicos cada. Acaraú, Aracoiaba, Crato, Morada Nova, São Gonçalo do Amarante, Sobral e Várzea Alegre pediram 5 profissionais cada.
Demanda
Aracati, Bela Cruz, Iguatu, Itapajé, Itarema, Marco e Tianguá demandaram quatro médicos cada. Barroquinha, Brejo Santo, Camocim, Canindé, Capistrano, Cariús, Croatá, Granja, Guaraciaba do Norte, Jaguaruana, Jardim, Massapê, Paramoti, Pedra Branca, Quiterianópolis, Senador Pompeu, Ubajara pediram três médicos cada.
Menos
Amontada, Barreira, Beberibe, Boa Viagem, Guaramiranga, Icapuí, Icó, Ipu, Iracema, Irauçuba, Itatira, Jaguaretama, Nova Russas, Pires Ferreira, Quixelô, Reriutaba, Santa Quitéria, Umirim e Uruburetama pediram dois médicos cada.
Apenas um
Abaiara, Apuiarés, Ararendá, Aurora, Banabuiú, Campos Sales, Cariré, Catarina, Choro, Crateús, Irapuan Pinheiro, Farias Brito, Fortim, Hidrolândia, Ibaretama, Independência, Itapiúna, Jaguaribara, Jijoca de Jericoacoara, Limoeiro do Norte, Madalena, Mauriti, Meruoca, Missão Velha, Mombaça, Morrinhos, Palhano, Paracuru, Penaforte, Pentecoste, Pindoretama, Quixadá, Saboeiro, Salitre, Santana do Acaraú, Santana do Cariri, São Benedito, Tamboril, Tarrafas, Tururu e Uruoca solicitaram um médico cada.